segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

COMO É SEU PARCEIRO IDEAL?



Como é seu parceiro ideal? Qual o tipo de homem que você procura? Essas perguntas ressoam por aí. Desde o bate papo entre amigas, não importa a idade; até as entrevistas dos “caderno de comportamento” da mídia escrita. Afinal, se ainda não encontrei o “amor de minha vida”, “minha cara metade” tento me convencer que estou procurando. E que sei muito bem o que estou procurando.

Sabemos que há uma enorme diferença entre querer e desejar. Algumas coisas são colocadas no campo do querer, outras no campo do desejo. Quando dizemos: Eu quero um namorado. Estamos conscientes desse “querer”. Sentimos necessidade de ter alguém e por isso vamos à luta para encontrá-lo. Neste campo do querer – da consciência ou do “eu” -, dispomos de uma lista enorme de qualidades que queremos encontrar num parceiro.

“Eu quero” um homem gentil e engraçado. Alguém que me faça rir, um parceiro de festas. “Eu quero” um homem que seja independente financeiramente. Que não dependa de mim, nem dos pais para pagar suas contas. “Eu quero” um homem que goste de animais. Ou ao menos, que respeite minha luta na defesa dos animais. “Eu quero” alguém que não trabalhe o tempo todo. Que tenha tempo para curtir a vida. Essas são algumas das “qualidades” do homem ideal para a maioria das mulheres.

Mas o amor não está no campo do querer. Ele é da ordem do desejo, que é inconsciente e, portanto, contingente. Eu não encontro o amor da minha vida porque “quero” encontrar. Assim como encontro o vestido para formatura, ou para as festas de final de ano. O homem que vai mexer com a minha libido e com as minhas fantasias mais primaria, aparece de repente. E pode ter, ou não, algumas daquelas características do homem ideal que eu costumava relacionar.

Sim, ele é o homem ideal. Mas de uma idealidade que desconheço totalmente. Ele tem traços de uma idealidade que geralmente não confesso nem para mim mesma. Por isso, o amor é uma incógnita. Por esse motivo, os poetas podem dizer: O amor tem razões que a própria razão desconhece.

sábado, 24 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL ! ! ! !



feliz natal ! ! 

merry christmas ! ! !

frohe weihnachten ! ! !





domingo, 18 de dezembro de 2011

A Sexualidade Masculina






As mulheres podem fingir ter um orgasmo com facilidade. A anatomia feminina facilita. Para os homens, como o orgasmo é, quase sempre, acompanhado pela ejaculação; dificilmente eles conseguem fingir que seu desempenho foi satisfatório ou prazeroso, quando isso verdadeiramente não aconteceu.

Portanto, para eles qualquer dificuldade em manter uma ereção ou chegar ao orgasmo é acompanhada de uma terrível frustração. Poucos homens admitem com facilidade seus fracassos entre os lençóis. Afinal, é sua masculinidade que está em jogo nesse momento, conforme pensa a maioria. Mas, será que é mesmo?

Segundo Freud, a sexualidade humana não tem nada de natural. Ela é construída socialmente. Nossas crenças a respeito da sexualidade nos são apresentadas como fundadas em “fatos evidentes por si mesmos”. Como “algo intuitivo”, e, portanto, como algo universalmente válido para todo sujeito, em qualquer circunstância espaço-temporal.

Ou seja, a ideia de que ser um homem másculo é ser um homem sempre potente sexualmente, é imposta à criança desde os seus primeiros anos de vida. Ela já vem pronta no discurso dos pais, que por sua vez, repetem o discurso social vigente. Numa sociedade em que o discurso falocrático é o discurso dominante, o falo – no ato sexual representado pelo pênis - não pode falhar.

A falha, no momento do ato sexual, é sentida como castração. E, quem gosta de mostrar-se castrado? Qual homem que, de bom grado, quer mostrar sua “suposta” impotência perante uma mulher? Quando isso acontece sua imagem narcísica é turvada. Sua autoestima é sugada pela frustração.

Alguns se defendem fazendo piadas, ironizando a situação. Outros culpam a parceira de forma brutal. Outros ainda, só querem desaparecer. Nada querem saber sobre o que aconteceu: não querem falar. Mas, não importa qual é a reação de um homem nesse momento, seu sentimento é sempre de tristeza, frustração e raiva. Sentimentos que podem fragilizar alguns homens de maneira aterradora, mesmo quando seu desempenho é satisfatório na maioria das vezes.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

As misérias da felicidade


"Sem muito mais em que basear a ansiada segurança de sua posição social, ressoando como autoconfiança e auto-estima, exceto os ativos pessoas de propriedade pessoal ou a serem adquiridos pessoalmente, não admira que as demandas por reconhecimento, como diz Jean-Claude Kaufmann, "inundem a sociedade". "Todo mundo busca ansiosamente a aprovação, a admiração ou o amor nos olhos dos outros." E observamos que as bases para a auto-estima fornecidas pela "aprovação e admiração" de outros são notoriamente frágeis. Como se sabe, os olhos se movem, e as coisas sobre as quais eles recaem ou pela quais deslizam são conhecidas por sua propensão a virar e revirar de maneiras impossíveis de prever, de modo que o impulso e compulsão de "observar atentamente" na verdade nunca cessam. O calor da vigilância atual pode muito bem transformar a aprovação e aclamação de ontem na condenação e no ridículo de amanhã. O reconhecimento é como o falso coelho numa caçada: sempre perseguido pelos cães, jamais preso em suas mandíbulas."

De Zygmunt Bauman, em A arte da Vida.


domingo, 11 de dezembro de 2011

O Difícil Gesto de Terminar



Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era prá sempre
Sem saber
Que o pra sempre
Sempre acaba...

Nesses versos, o poeta nos ensina que as paixões não são eternas. Na maioria das vezes, o destino das paixões, quando a relação persiste no tempo, é transformar-se em amor, e isso é bastante diferente. Mas, algumas vezes, o fogo da paixão se apaga completamente. O olhar do amante perde todo o brilho, o amado parece ficar invisível.

Nesses momentos, só resta ter forças para iniciar o processo de separação. Saída digna, para o final de uma paixão verdadeira. Mas, não é fácil se separar. Mesmo quando se tem certeza que esta seria a atitude mais coerente para o enredo. Mesmo quando a convivência foi lavada pelas cores desbotadas da apatia, ou as cores frias da indiferença ou, quem sabe, das cores negras do rancor.

Separação dói. Não importa o quanto estamos certos dessa escolha. A perspectiva de ficar sozinho, depois de um longo tempo dividindo nossa intimidade com outra pessoa, gera medo, ansiedade e raiva. Três sentimentos difíceis de admitir, porque nunca aprendemos muito bem a lidar com eles.

A raiva que sentimos e que dificilmente admitimos projetamos sobre o parceiro, culpando-o pelo fracasso da relação. Nesse movimento, ficamos no lugar de vítima. Por lado, a ansiedade costuma produzir indecisão. Se persistirmos na relação, sentimo-nos débeis e frustrados; mas se sairmos, podemos nos arrepender. E, por fim, o medo. Medo de recomeçar. Medo de aceitar que poderemos ficar por um longo tempo tendo só a nós mesmos por companhia. Medo de admitir o desejo por outro modo de vida.

Por não ter coragem para enfrentar essa verdadeira batalha de afetos, muitas pessoas preferem manter-se em relações que já não produzem nenhum prazer. Relações Ocas – segundo um outro poeta - onde tudo tem um preço, mais nada tem valor.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Sexualidade e Qualidade de Vida


Como todo comportamento humano, a sexualidade é constituída pelos padrões culturais de um grupo social, num certo período de tempo. Sabemos, por exemplo, das mudanças que a pílula anticoncepcional provocou nos padrões da sexualidade feminina. Antes do advento da pílula, o risco de engravidar era um forte elemento de repressão do desejo erótico. Esse evento, oportunizado pela ciência médica, demonstra que o prazer sexual, na espécie humana, só é possível se incluir a volúpia em corpos libertos das determinações da natureza.

Por estar constituída dentro do discurso, mais do que da natureza, a sexualidade humana, evidentemente, sofre interferências do grau de informação ou desinformação adquirida nas diversas formas de educação deste tema. Desde a repressão mais direta, a que as manifestações da sexualidade são submetidas no campo familiar, ao mergulho nos tabus, preconceitos, medos e superstições dos discursos moralizantes da escola e da igreja; cada sujeito carrega na própria carne as delícias e as dores de seu erotismo.

Sob essa perspectiva, podemos afiançar que padrões econômicos e qualidade de vida também influenciam a satisfação do prazer. Para ter prazer precisamos estar com nossas necessidades básicas razoavelmente atendidas. Períodos muito tensos, ou angustiantes, não propiciam o abandono necessário ao prazer.

A lógica da produtividade, desempenho e eficiência a que somos submetidos diariamente, quando levada para cama gera grandes desastres. Aumenta a “ansiedade de desempenho” entre as pessoas que se julgam liberadas para desfrutar o sexo, e aumenta as probabilidades de fracasso entre os lençóis: não obtenção de ereção e/ou orgasmo. Da mesma forma, o aumento da autovigilância colabora para inibir todos os sentidos possíveis do prazer.

O que nos leva a apostar que a vida sexual insatisfatória, queixa de um grande número de adultos, na maioria dos casos é consequência direta da miséria de sua qualidade de vida. E que tomar consciência dessa realidade é dar início a novo modo de se relacionar com o prazer.



domingo, 27 de novembro de 2011

“Paz e Amor”: O sonho de uma geração.



Minha geração sonhou mudar o mundo. Mergulhados em novos clichês ideológicos – constituídos, principalmente, pelas teorias psicanalítica e marxista - fomos para as ruas exigir a inscrição de novos valores sociais. Lutamos bravamente pelo direito de sonhar com uma sociedade livre dos valores “burgueses”. Questionamos as várias teses da velha ideologia burguesa que afirmava, por exemplo, que a maternidade era um instinto “natural” das mulheres.

Lemos Freud e Marx – este último sempre escondido, seus textos foram proibidos na época da ditadura - acompanhamos, com fé cega, as dezenas de autores, cineasta e analistas sociais que reverberavam a crítica da ideologia burguesa, iniciada no final do século XIX, por esses dois grandes contraventores da ordem estabelecida.

Nosso maior alvo era a família, núcleo fundamental para a disseminação dos valores bolorentos da burguesia. Acreditávamos que a essência das mudanças aconteceria no núcleo familiar. Na busca de novas formas de união, criamos comunidade hippies e anarquistas, aonde a liberdade das relações afetivas ia de encontro aos vínculos, que considerávamos opressores, do casamento burguês oficializado pela igreja católica e respaldado pelo código civil que delegava todos os direitos à representação paterna.

Nossa esperança era a de que as novas gerações – nossos filhos – estariam livres da “opressão” dos valores familiares. E que os grupos sociais que se formariam, na esteira da afirmação das diferenças, como os homossexuais, seriam fundamentais para a invenção de novas formas de prazer. Prazeres que a família burguesa nunca antes sonhara.

Nossos sonhos não se realizaram, mais nossa luta provocou muitas mudanças. Hoje, os valores familiares não são mais aqueles das décadas de 60 e 70, do século passado. A família constituída pelo “pátrio poder” agoniza nos rincões evangelizados dos pequenos grupos. Para o espanto de muita gente da minha geração, os jovens homossexuais exigem o direito de constituir uma família. E, perplexos, constatamos que a exigência deste direito tem um efeito de mudança, no conceito de família, muito maior do que aquele que sonhamos um dia.



domingo, 20 de novembro de 2011

Síndrome de Shrek

Shrek é um ogro feliz. Apaixonou-se pela jovem princesa e foi correspondido. Casou-se com ela, teve três filhos adoráveis e continuou mantendo os laços de amizade com os companheiros de aventuras da época de solteiro. Shrek realizou seu conto de fadas. Conquistou uma vida afetiva sólida, tornou-se um ogro respeitável e nada assustador.

Um belo dia, Shrek se da conta da rotina sem graça que tomou conta de sua vida. Seu dia-a-dia tornou-se uma sucessão de compromissos que precisavam ser cumpridos para manter o bem-estar da família. A vida tinha perdido o encanto, as obrigações roubaram-lhe o brilho da felicidade. Mergulhado no marasmo das repetições cotidianas, passa a encantar-se com as memórias da época em que era um ogro assustador e livre. Lembranças antigas das aventuras que o faziam sentir-se um “ogro de verdade”.

A frustração desperta um sentimento de raiva que o ogro acaba projetando na mulher e nos filhos. Culpa a família pelo seu mal estar e melancolia. Nesse momento, surge um personagem que lhe oferece a oportunidade mágica de fugir do cotidiano por um dia. Claro que a ideia é encantadora. Por um dia poder voltar ao passado, viver sem o peso das obrigações. Sherk não resiste, aceita a proposta, embalado pela perspectiva de recuperar a sua liberdade. Entusiasmado, não percebe o logro da proposta.

Essa sensação de frustração causada pelas memórias de um tempo para sempre perdido, tão bem representada nessa fábula contemporânea, não tem nada de estranho, ou excepcional. Todo ser humano, em algum momento de sua vida, será tomado por ela. Não tem nada haver com a consciência de ter cometido um erro, ou a decepção de descobrir que o amor acabou.

Como Sherk, sentimos que continuamos a amar os nossos parceiros, mas esse amor já não tem mais o brilho que costumava ter. A vida parece ter paralisado. Não conseguimos vislumbrar nenhum sinal de mudança. Surge uma enorme necessidade de partir, dar um tempo, terminar com o comodismo a sair em busca de novos sonhos. É claro que o parceiro, assim como Fiona, não entende nada do que está acontecendo, e por isso sofre. Esse sofrimento nos causa culpa. A culpa aumenta o mal estar.

Na maioria das vezes, largamos tudo. Fazemos as malas e partimos em busca de novas aventuras. Esta decisão, mesmo acompanhada de muito medo, é a mais comum, e, penso, a mais ética com o parceiro. Mesmo que de início lhe cause muita dor. Em muitos casos, assim como na fábula do ogro, depois de certo tempo voltamos a querer conquistar o parceiro abandonado. O amor, antes adormecido, ganha novo brilho.

Outras vezes, fugimos do marasmo pela via da infidelidade. Um olhar de desejo lançado em nossa direção faz surgir à esperança de uma nova felicidade e de novas aventuras. Mas, se o que estamos sentindo é só um “momento sherk”, essa nova aventura vai durar pouco tempo. Ela terá a função de acordar sentimentos adormecidos.

domingo, 13 de novembro de 2011

A cultura da Multitarefa é feminina?



A correria da vida contemporânea produziu a cultura da multitarefa. Nela as mulheres parecem sair-se muito bem. Pois, segundo o senso comum, uma das características do feminino é essa capacidade de realizar várias tarefas simultaneamente. Assim sendo, as mulheres são as mais adaptadas à rapidez dos fluxos e refluxos da vida atual.

Será que esse “potencial” feminino é um privilégio, ou é, apenas, uma nova forma de operar com o gozo masoquista? Acredito que seria um privilégio se graças a esse potencial, as mulheres tivessem mais tempo para si mesmas. Afinal, reservar um tempo para sair da rotina pesada é tão importante - se não mais - do que estar nela. Organizar nossas vidas em torno do imperativo de não fazer nada, pode ser a abertura que precisamos para descobrir o prazer das coisas simples e sensuais, que se pode ter na vida diária, se simplesmente deixarmos nossos cabelos soltos ao vento.

Por outro lado, acredito que essa cultura é um gozo masoquista, quando observo aquela estranha satisfação, que algumas mulheres demonstram ter, ao confessar o seu apetite de lobo por tarefas torturantes, listas e obrigações irritantes e culpa constante. Para elas, a noção de que todos têm o direito de algumas horas diárias de fecundo ócio é tão estranha que até parece crime contra a humanidade.

Se você é mulher deve concordar comigo que a palavra ócio, hoje em dia, é quase obscena no mundo feminino. Ócio, disse-me uma amiga outro dia, é coisa de adolescente que fica fechado no quarto na frente do computador ou da televisão por horas a fio. Ou seja, ócio é sinônimo de apatia. Esquecemos que existem outros modos de viver o ócio que não tem nada de apático. Ter tempo para curtir uma banheira com água morna e com uma boa ducha para massagear o corpo pode ser o que precisamos para ter um sorriso no rosto e a vontade de um beijo prolongado quando o marido, ou namorado, chegar para o jantar. Jantar que pode ser uma simples omelete, um pedaço de pão e um copo de vinho. Não dá trabalho e é delicioso. Quantas vezes por semana você consegue fazer um programa desses?

É bem provável que as mulheres “multitarefas” do tipo masoquista, nunca encontrem tempo para fazer esse tipo de programa. Sua energia libidinal está toda dirigida para agenda: as dezenas de coisas a fazer, ou por fazer. Sua vida sexual já entrou para o rol das tarefas a serem cumpridas, já perdeu todo encanto e paixão. Afinal, encanto e paixão não se agendam, é preciso ter espaço para desfrutá-las.

sábado, 5 de novembro de 2011

Família: uma espécie em mutação



A família tradicional não existe mais. Não podemos dizer que foi eliminada totalmente, mas, com certeza, é uma espécie em extinção. Desde os anos 50 do século passado, com o advento da pílula anticoncepcional e o movimento feminista, a família tradicional vem passando por freqüentes mutações. No final do século XX, os avanços da ciência e dos costumes tornaram possíveis mudanças antes impensáveis no processo de reprodução humana: A inseminação artificial, a inseminação in vitro com subseqüente implantação intra-uterina, a doação de esperma ou de óvulos, as barrigas de aluguel até, por fim, a clonagem.

Todas essas inovações tecno-científicas associadas às transformações dos costumes operaram uma alteração molecular na estrutura dessa instituição chamada família. Desde a época em que uma filha solteira e grávida era considerada uma transgressão ética, uma perda da honra familiar. - Os pais tinham que esconder a filha porque seu estado acabaria contaminando a honra das irmãs. Algumas dessas jovens foram colocadas em Manicômios com diagnóstico de perversão, e seus filhos foram dados para adoção -. Até os nossos dias, a foto “da” família já não é mais a mesma.

Pouco resta da antiga família patriarcal, regida por um pai autoritário e senhor todo poderoso do seu domínio. A foto “da” família contemporânea tem aparência de colagem: Famílias rompidas e recompostas muitas vezes. Família de casais homossexuais que passaram a pleitear a adoção ou mesmo a paternidade ou maternidade, usando os novos recursos que prescindem da prática do coito. E tantas outras formas criadas pela necessidade de se adaptar a esse borramento de fronteiras tão característico da sociedade contemporânea.

Para sempre perdida, a ideia “da” família como união reconhecida entre um homem e uma mulher com fins de criar e manter os filhos precisa urgentemente ser repensada pelas novas gerações. Pois, embora muito diferente, a família continua sendo um lugar fundamental para o exercício das vivencias afetivas mais intensas de todo ser humano.

domingo, 30 de outubro de 2011

A paixão habita o espaço da coragem






Estar apaixonado é uma delícia. Quando a paixão atravessa nosso caminho, a vida adquire novas e impensáveis dimensões. Nosso olhar ganha o estranho brilho da felicidade explicitada, nossas percepções se dilatam, nossa fala instiga o prazer e os sentidos se aguçam. O mundo a nossa volta conquista um novo ritmo: muito mais intenso e frenético. Os movimentos tomam a direção do acolhimento e da comunhão.

Para o sujeito apaixonado, o corpo é a medida de todas as coisas. Pois a paixão insufla a liberdade do corpo, império do erotismo. Ela desperta o princípio do prazer, e conviver sob as leis desse princípio é absurdamente delicioso. O corpo mergulha em intimidades abissais, a pele ganha nova sensibilidade, as fantasias eróticas predominam sobre a realidade. As leis da paixão inscrevem um novo regime de liberdade no corpo.

Quando estamos apaixonados o sensível obscurece a racionalidade. A libido solta às amarras da repressão abrindo as portas para as mais intensas e estranhas fantasias eróticas. O espaço em que a paixão acontece desvenda uma estranha liberdade. Nele, perdemos e ganhamos o mundo. A paixão se apresenta, quase sempre, como uma ruptura da ordem social: ao unir os amantes, os separa do grupo.

Por ser essa força imensa que nos retira o controle das verdades estabelecidas e das inibições protetoras, é preciso muita coragem para se entregar a essa deusa libidinosa. Não são todos que ousam correr esse risco.

sábado, 22 de outubro de 2011

A solidão dos que não estão sozinhos.



Vivemos em um mundo super povoado. Nos grandes centros urbanos, são centenas de pessoas vivendo na mesma rua e, às vezes, milhares no mesmo bairro. Com tanta gente em tão pouco espaço, um simples raciocínio lógico nos levaria a concluir que as pessoas que moram nesses grandes centros podem sofrer por várias causas, menos de solidão.

Mas, infelizmente, não é isso que acontece. Pelo contrário, quanto maior a metrópole maior é o número de pessoas que se dizem solitárias. Com certeza, nesse caso, você deve concordar comigo, a realidade transcende aos princípios do raciocínio lógico.

Como dar sentido ao estado de solidão de tantas pessoas que vivem mergulhadas na multidão? A primeira resposta que me acorre é influenciada pela teoria das massas defendida por Freud. Qual seja, as grandes massas tem o poder de homogeneizar o pensamento humano para o mais baixo nível. Para fazer parte da coletividade massificada temos que funcionar num nível quase primário de pensamento. Quem não se subordina a essa lei, passa a ser um excluído. E como excluído, a sentir-se solitário.

Por outra via, mais coerente com o pensamento contemporâneo, podemos dar sentido a solidão pelo excesso de oferta do mundo globalizado. São tantas as ofertas de amizades e relacionamentos que se apresentam para um sujeito urbano, que ele simplesmente não consegue mais escolher. Ou melhor, ele está sempre duvidando da sua escolha.

Inicia-se um relacionamento hoje, depois de uma semana começam a aparecer às diferenças e com elas as primeiras frustrações. Pronto, a dúvida está instalada. Será que devo fazer sacrifícios para manter uma relação com alguém que “não é tudo isso”, quando tenho oportunidade de encontrar outra pessoa que poderia ser muito mais agradável? Aí o sujeito começa a duvidar se quer ficar na relação. Na segunda ou terceira frustração, ele já tem certeza absoluta que vale a pena ir atrás de algo melhor, e já está sozinho de novo.

Essa é, na maioria dos casos, a cara da solidão do sujeito urbano. Ele passa por uma série de pequenas relações afetivas: está sempre mudando de parceiros, afinal “a fila tem que andar”. Mas, depois de uma série de fracassos, ele começa a se sentir absolutamente só. Com a sensação que todas as relações são muito superficiais e que no fim de uma interminável série ele acabará sozinho.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Amores Verdadeiros




Os fios com os quais a experiência amorosa é tecida têm diferentes densidades e comprimentos múltiplos. Algumas vezes, eles nem são tão densos, mas tecem longas histórias de amor. Outras vezes, a densidade é muita alta, mas as pequenas dimensões constroem histórias de curta duração.

Para alguns a densidade da trama amorosa é fundamental. Não importa se a trama seja curta, que dure pouco tempo. O que realmente importa é a intensidade da experiência afetiva compartilhada com o outro. A sublime experiência de união hipostática, com alguém que até um pouco de tempo antes era um ilustre desconhecido, supera o desejo de longevidade.

Para outros, só as longas relações amorosas são sinônimos de verdadeiro amor. É necessário que os fios que constroem a relação sejam longos o bastante para que ela possa ser tecida por muito e muitos anos. Para esses pacientes tecelões do amor, não importa que os fios tenham pouca densidade. Eles sabem que alguns dos mais belos trabalhos manuais são tramados com fios muito finos. E que, nesses casos, o fundamental é a habilidade do tecelão.

Nenhuma dessas duas experiências pode ser considerada melhor que a outra. Afinal, o amor não é lei, é experiência afetiva. Contra todo o senso comum, o verdadeiro valor dessa experiência é sempre singular. Cada um tem que descobrir o seu modo de ser feliz.

sábado, 1 de outubro de 2011

Quando falta prazer, sobra mal humor





Quem gosta de estar perto de alguém mal humorado? Quem gosta de conviver com o chefe ou um parceiro que está sempre de mau humor? Ninguém gosta, mas às vezes somos obrigados a suportar. O humor, assim como o perfume, quando é muito denso contamina com facilidade todo o ambiente. E da mesma forma que uma pessoa com excesso de perfume não consegue perceber o aroma que exala no ambiente, as pessoas com alto nível de mau humor também não conseguem perceber a contaminação que provocam.

É claro que o bom humor também contamina. Mas ele costuma esquentar o nosso coração, portanto, não há porque reclamar. O mau humor, ao contrário, esfria o coração e causa uma sensação de solidão. Ninguém consegue compartilhar um passeio agradável ao lado de uma pessoa de mau humor, por exemplo. As palavras e os gestos do parceiro mal humorado apagarão a claridade do dia, a beleza da natureza, o encanto da novidade.

Para alguns estudiosos as mulheres são mais propensas ao mau humor por causa do período pré-menstrual: a famosa TPM. Por certo, esse é um período muito difícil para o humor de algumas mulheres. Quem consegue manter o bom humor sentindo cólicas, dor de cabeça e tantos outros incômodos físicos. Mas nesses casos, o mau humor é pontual. Todo mundo tem “aquele dia” que acorda intragável. “Aquele dia” que o melhor a fazer seria não sair da cama.

Conviver com o mau humor do outro, nesses casos pontuais, faz parte do aprendizado da convivência. Há que se respeitar, mantendo uma distância estratégica. Não abordar questões polêmicas nesses dias. Protelar decisões importantes. E tantos outros “truques” que a gente vai aprendendo na convivência diária.

Mas quando o mau humor é o estado de espírito mais constante na vida do parceiro, aí a coisa complica. Pessoas com mau humor crônico têm dificuldade de lidar com o prazer. Estão sempre cobrando excessivamente de si mesma e dos outros. Têm baixo nível de tolerância para as frustrações. Normalmente são muitos impulsivas.  Não sabem esperar. Não sabem fazer projetos. Têm pouco sentimento de empatia, o que torna a convivência diária quase insuportável. Nesses casos, o melhor a fazer é incentivá-las a pedir ajuda de um profissional para que aprendam a olhar com mais amor e generosidade para si mesmas.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Uma estranha generosidade




Sabemos que a generosidade é uma virtude ética. Como tal, tem valor positivo. Mas como toda virtude, seu excesso transforma-se em vício, já nos ensinou Aristóteles. É sobre a experiência negativa da generosidade que gostaria de fazer algumas pontuações.

Embora não seja fácil de admitir, existe uma complexa aliança entre a generosidade e o egoísmo. A sensação de superioridade que algumas pessoas sentem na capacidade de renunciar seus desejos em nome das demandas dos outros, nada mais é do que uma forma de egoísmo. Diria, seguindo os pressupostos teóricos da psicanálise, que é a face masoquista do egoísmo.

São pessoas que têm consciência de que estão sendo exploradas e mesmo assim se sentem forte, com energia e disponibilidade de sobra para mais um favor para chefe, o amigo, o marido ou esposa, e, principalmente, para os filhos. Parecem não ter limites. Quanto maior a exploração, mais fortes e poderosas elas se sentem.

Algumas vezes, param para reclamar. Dizem sentirem-se tolas. É nesses momentos que podemos constatar o gozo masoquista que sustenta essa mascara comportamental. A posição de inferioridade é vivenciada como poder, portanto, como superioridade. São esses sentimentos antagônicos, derivados da mesma ação, como é o caso da humilhação e da vaidade, que permite ao masoquista continuar sentido prazer na posição que se coloca.

Temos a tendência de imaginar o masoquista como uma pessoa de auto-imagem negativa. Uma pessoa frágil e sem forças para se rebelar. Essa é uma imagem muito simplória. Para o masoquista, a posição de humilhação é um grande alimento da vaidade, portanto, necessária e conveniente para alimentar todo o processo. Há, também, nesse modo de gozo, um grande prazer erótico relacionado com o servir e subjugar-se, pois essa posição implica numa forma sutil de dominação e de poder.


sábado, 17 de setembro de 2011

Estranhos Conselhos


A vida é sem garantia e tem prazo de validade. Para desconforto de alguns, ela não vem com “bula” nem “com modo de usar”: tem que ser conquistada diariamente. Ela não é consequência, é causa. Por conseguinte, contra todo o senso comum, cada um tem que descobrir o seu modo próprio de ser feliz.

Essa é uma visão de vida que, na maioria das vezes, é muito difícil de aceitar. É mais fácil acreditar que alguém, em algum lugar, tem a fórmula da felicidade. Para os pais, de maneira geral, é quase impossível aceitar essa idéia de que a vida não tem fórmula pronta. O amor narcísico impõe a crença de que a partir de suas próprias experiências podem traçar o melhor caminho para os seus filhos. Desse princípio, nascem as numerosas imposições em formato de conselho.

A dificuldade de lançar os filhos no mundo, sem uma grande lista de recomendações, é uma característica comum de todos os pais. Eles carregam a estranha fé de saber o que é melhor para os seus filhos: a melhor carreira, o melhor parceiro, os melhores amigos, o melhor lugar para morar, o melhor caminho a seguir. São os conhecidos “ideais”, que fazem parte de qualquer cultura em qualquer tempo, e que passamos grande parte da vida tentando alcançá-los.

É preciso ter atenção, pois a transmissão desses ideais pode ser muito positiva ou bastante negativa. É positiva quando eles têm por base valores éticos e estéticos: esses são sempre bem vindos. É um dever dos pais a transmissão desses valores. Afinal, valores são construções culturais. Portanto, são aprendidos. Não nascemos com eles.

Mas pode se tornar muito negativa, um verdadeiro tormento para os filhos, quando estes ideais estão assentados nos medos e nas frustrações dos pais. Nestes casos, os pais não estão transmitindo valores e virtudes, mas suas próprias neuroses. No primeiro caso, a transmissão de valores são ferramentas importantes que passamos aos nossos filhos para que eles possam abrir seus próprios e novos caminhos. No segundo, a transmissão de neuroses são pesados grilhões que obrigamos nossos filhos a carregar por caminhos já traçados de antemão.

sábado, 10 de setembro de 2011

Respeito e Gentileza: valores difíceis de encontrar.


Matilde é uma jovem bonita, inteligente, batalhadora e independente. Gosta do que faz e, por isso mesmo, leva muito a sério sua carreira. Como uma boa profissional ganha o suficiente para se manter sem ajuda dos pais, ou depender de um homem.

Matilde já viveu várias histórias de amor. Por não ter preconceito com idade, cor ou raça; a diversidade de seus parceiros é impressionante. Tipos muito diferentes de homens despertaram seu interesse e desejo. Já viveu a experiência de namoros à distância, daqueles que se encontram três ou quatro vezes por ano. Mas também já dividiu a mesma casa com um homem, por um tempo bastante longo.

Essa mulher acredita no amor, numa relação sexual prazerosa, e aposta num relacionamento duradouro e intenso. Mas, como várias outras com esse mesmo perfil, ela ainda não encontrou um parceiro capaz de fazê-la abrir mão de sua vida de solteira. Sabe por quê? Porque ela elegeu como valores maiores, para um relacionamento, a gentileza e o respeito pelo outro.

Valores que, me parecem, não têm nada de delirante, mas que ainda são difíceis de encontrar. Numa cultura onde os homens são muito machistas ou demasiados dependentes, encontrar alguém que esteja disposto a abrir mão do poder fálico para viver uma relação de parceria, ainda é uma raridade.

O respeito e a gentileza só são possíveis quando olhamos para outro com igualdade de direitos. E, ainda hoje, as mulheres são percebidas pelos homens como pessoas com menos direitos. Não estou me referindo aos direitos conquistados por lei. Pela lei, homens e mulheres têm os mesmos direitos. Mas, na vivência diária, não importa o direito que sabemos que o outro tem, o que realmente importa são os direitos que sentimos que o outro tem. É o sentimento, e não a racionalidade, que comanda nossos comportamentos espontâneos do cotidiano.

Parece-me que o desejo de mulheres como Matilde abre uma nova via de relacionamentos, onde a igualdade se dá mais pela subjetividade do que pelo direito.

Maria Holthausen

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

CONVITE



CLARISSA ALCANTARA

Lançamento do Livro
CORPOALÍNGUA
Performance e Esquizoanálise

Dia: 15/09/2011
Hora: 19:00 hs
Local: Restaurante TODA HORA
Rua Dib Mussi, 443
Centro - Florianópolis-SC


sábado, 3 de setembro de 2011

Um discurso difícil




Gostaria de escrever sobre algumas das dificuldades sexuais comuns em qualquer relacionamento. Mas, admito, não é nada fácil escrever sobre a sexualidade. A causa dessa dificuldade não tem nada haver com falta de conhecimento do tema, ou inibição social. Falar e escrever sobre sexo é difícil porque esse tema ainda carrega um alto nível de preconceito.


Por causa desse preconceito, encontramos normalmente três tipos de textos sobre esse tema. O primeiro é o texto técnico ou científico. Neles podemos encontrar, numa linguagem cuidadosamente objetiva, as análises de pesquisas médicas ou psicológicas, e os estudos antropológicos sobre a sexualidade. O segundo é o texto pornográfico ou erótico: aqueles que se lê com uma só mão. E o terceiro é o texto irônico: as piadas apimentadas.

Encontrar uma linguagem para desenvolver qualquer aspecto desse tema, sem precisar usar uma das três formas citadas acima, sempre me pareceu uma tarefa extremamente difícil. Esse é um dos motivos que me fazem gostar dos textos de Freud. Ele construiu um modelo narrativo que atravessa esses modelos padrões. Mesmo como um estudioso do tema, seus textos dialogam com os vários discursos sobre a sexualidade sem se fixar em nenhum.

Outra característica dos textos de Freud que me agrada muito é que ele fala sobre problemas sexuais como: ejaculação precoce, falta de ereção, inibição da libido feminina, impotência masculina, perversão... sem cair no aconselhamento fácil, tão comum nos textos médico encontrados hoje na internet.

Nos textos que acompanhamos hoje, parece haver um só modelo para resolver qualquer dificuldade sexual. Todos os problemas sexuais do contemporâneo, e são tantos e tão diversos, tem como causa o estresse, a falta de dinheiro, a crise da masculidade a hipercobrança feminina e outros tantos problemas causados pela “agitação da vida contemporânea”. Ou seja, as causas são sempre externas. Por isso mesmo, as receitas são sempre as mesmas: Tirar férias, cuidar da alimentação, não exagerar nos medicamentos tarja preta nem qualquer outro tipo de droga, cuidar do colesterol... e se nada disso resolver, busca-se a solução em algum dos produtos milagrosos da indústria farmacêutica.

Acredito que não precisamos fazer dos problemas sexuais uma tragédia. Alguns deles até têm soluções muito fáceis. Mas é impossível acreditar que os caminhos tão singulares da libido tenham todos as mesmas causas e, por consequência, a mesma solução.

Maria Holthausen



segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Amores Virtuais


O desenvolvimento tecnológico mudou nossa forma de estar no mundo e o nosso modo de relação com o outro. Para nos relacionarmos com pessoas de lugares e culturas diferentes, ter dinheiro e vontade de viajar não é determinante. A internet nos permite o contato com pessoas que, até uns 10 anos atrás, dificilmente teríamos condições de nos relacionar.

Essa abertura para mundo, a partir da telinha do computador, mudou, também, a perspectiva das relações amorosas. Na sala de espera de qualquer aeroporto internacional, conversamos com jovens que transitam pelo mundo para encontrar os parceiros cujo namoro começou pela internet.

Muitas dessas relações fracassam logo após o primeiro encontro. Outras se transformam em casamentos, depois de meia dúzia de viagens de cada um dos parceiros. Parece-me, pelas histórias que pude acompanhar até agora, que os namoros virtuais têm acertos e erros iguais aos dos namoros com o colega de sala de aula, ou com o vizinho do prédio.

É claro que a geração que nasceu com a internet tem mais confiança nesse modo de relacionamento do que os seus pais. A maioria dos pais ainda não acredita nesse tipo de namoro, e não bota muita fé nessas relações. Temem as diferenças culturais, algumas vezes por preconceito, outras por puro desconhecimento de causa.

Minha conclusão, depois de ouvir e acompanhar várias dessas histórias, é que o amor é sempre um risco. Não importa se namoramos um inglês que está trabalhando na Nova Zelândia, uma francesa que faz mestrado no Canadá, ou se namoramos o vizinho do nosso bairro. As chances de dar certo, ou não, são exatamente as mesmas, desde que acreditemos nesse novo modo de relacionamento e sejamos capazes de nos desvencilharmos de antigos valores.


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Derrotados pelo sucesso


Aprendemos com Freud que a felicidade causa medo. E o medo nos leva a ser mais destrutivos justamente quando estamos muito próximos da felicidade. Quando nos aproximamos de um estado de plenitude, um estado em que parece não nos faltar nada (o amor corresponde a uma das situações nas quais sentimos isso), passamos a experimentar um medo difuso, a viver uma sensação de ameaça e de risco iminente.

Sempre que um sonho está próximo de se realizar – seja ele afetivo ou profissional -, sentimos que uma grande tragédia passa a nos rondar e, a qualquer momento, pode nos alcançar. A angústia e o pavor pode ser tal que não consigamos vislumbrar outra saída a não ser destruir aquilo que está provocando a felicidade e também o medo.

Se a causa da felicidade é um encontro amoroso de grande intensidade, o que costuma ocorrer é que encontramos motivos externos, de valor relativo, para justificar a decisão de nos livrarmos daquele relacionamento.

Ao nos aproximarmos de uma condição de vida que imaginamos ideal - o que acontece de forma marcante quando nos sentimos protegidos por uma pessoa que é objeto do nosso amor - experimentamos primeiramente a plenitude para, logo em seguida, sentirmos medo de que esse estado de felicidade possa ser rompido por uma experiência dramática. Diante do pavor de tal possibilidade, é claro que tendemos a evitar ou mesmo destruir a tão sonhada condição ideal.

Por outro lado, se o relacionamento está ruim, o emprego está chato, e a carreira não consegue alcançar sucesso, não temos esse problema. Não temos medo da felicidade porque não estamos próximo delas. Ficamos mais serenos entre as sombras da insatisfação.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Narciso no país da solidão


No esforço diário de estabelecer um lugar no mundo, cada um de nós se alimenta de duas fontes essenciais. Na primeira, encontramos as aspirações, as normas e os ideais transmitidos pelo discurso paterno. Na segunda, o amor incondicional da mãe que nos acolheu e agasalhou nos primeiros anos de vida. Ou seja, nossas fontes são a lei paterna e o amor materno.

No entanto, na sociedade contemporânea, bebemos sobretudo da segunda fonte: o amor materno. Por isso, somos tão narcísicos. Estamos muito mais preocupados em sermos amados, aplaudidos e admirados, do que com os deveres e princípios. “Narciso é o mito de uma humanidade sem interdito e fascinada pelo poder ilimitado de seu eu.”

Como crianças, sapateamos sempre que nossos desejos não são imediatamente atendidos. Não queremos, ou melhor, não sabemos mais esperar por nada. Temos pressa, tudo é urgente. Devoramos tudo rapidamente. Não sabemos mais lidar com as frustrações, elas nos causam angústia. Aquela velha noção de tempo que aprendemos com a natureza - tempo para plantar, tempo para crescer, tempo para colher -; hoje não faz mais sentido. Tudo tem que ser resolvido num clic.

O estranho é que esse sentimento de urgência, de querer tudo e de acreditar que podemos fazer tudo, acaba provocando muita solidão. Temos milhares de amigos no faceboock. Saímos com centenas de colegas. Temos relações sexuais com dezenas de parceiros, mas, no “fim da noite”, continuamos nos sentido sozinho, porque os laços afetivos com todas essas pessoas são muito frágeis e superficiais.

Não temos mais fôlego para sustentar os projetos de longo prazo. Tudo nos cansa rapidamente. Tal como narciso, nossa imagem é líquida. Nosso rosto pode ter muitas formas e, simultaneamente, forma nenhuma. Substituímos o peso da tradição pelo deleite do culto a “si-mesmo”, e a punição da lei pelo cuidado terapêutico.


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Os perigos da sedução


Sempre que uma mulher muito sedutora se aproxima de nossa “cara metade”, sentimos ciúme. E não é para menos. As sedutoras estabelecem rapidamente, com a pessoa do seu interesse, um jogo sensual tão arrebatador, que a “vítima” perde toda a noção de realidade.

A sedução faz parte do mundo dos simulacros, como ensina Baudrillard. Simular implica jogo, encenação. Por isso mesmo, é tão fácil reconhecer a abordagem sedutora. São gestos e palavras performáticos que tem o poder de surpreender e fascinar. Não importa se você é um homem ou uma mulher. Se é heterossexual ou homossexual. Você, como eu, reconhece com facilidade os artifícios de uma pessoa sedutora.

Quando uma sedutora investe sobre nosso parceiro, sentimo-nos impotente frente à carga de atração da sua performance. Na maioria das vezes, começamos mostrando nossa irritação pela cena, logo depois, a irritação vira fúria. E como toda sedutora é uma pessoa bastante narcísica, ela não vai deixar de demonstrar através de pequenos detalhes, o prazer que sente quando revelamos nossa frustração. Atitude, é claro, que vai nos deixar mais iradas ainda.

A cena armada por uma sedutora é sempre ambígua. Ela não usa as técnicas de um conquistador, por exemplo. Este último, é sempre muito direto, visa um objetivo muito claro. Por isso, a sedução é considerada um elemento da feminilidade. As mulheres fazem melhor esse jogo. Elas sustentam por mais tempo o erotismo provocado pela fantasia.

Então, se na maioria das vezes são as mulheres que seduzem. É justo afirmar que são elas, também, que mais sofrem com as cenas de sedução criadas por outras. No momento em que nosso parceiro entra nesse jogo, nem sempre muito consciente do que está acontecendo, mas sempre hipnotizado e infantilizado, somos arrebatadas da cena. Perdemos o controle. O ciúme se instala e tudo que queremos é ver a outra desaparecer como num passe de mágica.



segunda-feira, 25 de julho de 2011

“Tudo que eu faço, eu faço por você.”



Gostamos de ser cuidado. Precisamos de proteção e abrigo. Necessitamos de intimidade. Este feixe de anseios é causa da nossa disposição para encontrar um amor. Para procurar, no meio da multidão, alguém que seja amável e que esteja disposto a amar. Afinal, o amor nos faz entrar em contato com a melhor parte de nós mesmos, a identificar traços luminosos de nosso próprio destino na vida de outra pessoa.

E, como diz o poeta: Quando a gente gosta. É claro que a gente cuida. Acredito nas palavras do poeta. Cuidar faz parte dessas centenas de vontades que a gente adquire quando está amando. Contudo, é bom ter cuidado com esse cuidado. Assim como uma mãe superprotetora pode acabar sufocando o filho. Aquele que ama, quando o cuidado é excessivo, pode sufocar a pessoa amada.

Cuidar pode ser uma forma de representar o carinho que sentimos pelo outro. No entanto, o cuidado excessivo é sentido como controle. Nenhum adulto sadio gosta de ser controlado.

Cuidar pode ser uma forma de demonstrar interesse. Contudo, o interesse pelo o que acontece na vida do outro pode ser rapidamente transformado em intromissão. Pessoas intrometidas tornam-se uma pedra no meio do nosso caminho, mesmo quando a amamos.

Cuidar pode ser uma forma de dizer: “Eu te quero”. Mas se ultrapassar a delicada fronteira do dito carinhoso, transforma-se em possessividade. A possessividade é um sentimento difícil de ser compartilhado.

Como não existe uma escala métrica para medir os sentimentos, é difícil saber quando exageramos. Quando transformamos uma representação positiva do amor em um afeto negativo, passional. Normalmente, é o parceiro que nos avisa quando ultrapassamos os limites do tolerável. É bom ficar “de olhos bem abertos”.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Casais Fóbicos



Para alguns casais, viver juntos é sinônimo de fazer tudo juntos. Dormem juntos. Almoçam juntos. Viajam juntos. Tiram férias juntos. Às vezes, até trabalham juntos. Para esses casais, não há vida fora do relacionamento. Formam um tipo de casal que poderíamos muito bem denominar de “casal fóbico”: tudo o que está fora da experiência a dois é perigoso.


Não vou negar que é bom ter companhia. Pouca gente gosta de viajar sozinha. É bom ter com quem dividir os prazeres das férias. É bom ter alguém para esquentar a cama nos dias de frio. Melhor ainda, é dividir todos esses prazeres com alguém que a gente ama e confia. Mas quando o prazer de dividir um momento feliz com alguém vira obrigação, a vida pode se tornar um inferno. As mais simples atividades diárias acabam virando palco de muita discussão e muito atrito.

Algumas vezes, o casal constrói essa dependência obsessiva do outro por causa do ciúme de um dos parceiros. O ciumento tem muito medo do desejo do outro. Por isso, precisa estar sempre controlando tudo o que o outro faz. Precisa estar sempre por perto para “proteger” o outro de desejar algo que não tenha a sua aprovação. Nesse caso, aprovação é sinônimo de controle.

Outras vezes, essa dependência é causada pela insegurança. Normalmente, um dos parceiros é muito inseguro. Precisa ter alguém “segurando a sua mão” constantemente. Precisa da aprovação constante do outro. É como uma criança que não consegue ir a lugar nenhum sem a presença da mãe. Não dorme na casa do amiguinho. Tem dificuldade de ir para escola sozinha, etc, etc. Nesse caso, o(a) parceiro(a) é o substituto da mãe super-protetora.

Em todos esses casos, e tantos outros que podíamos relacionar aqui, a possibilidade de fazer algo sozinho, estando numa relação, pode ser interpretado pelo parceiro como abandono, falta de amor ou desinteresse. Ou seja, é sempre uma ameaça. É sempre objeto de queixas.

Perde-se, nesse tipo de relação, a individualidade. A responsabilidade das escolhas. A liberdade de desejar. Não é a toa que casais que escolheram esse tipo de relacionamento, depois de alguns anos juntos, jogam a responsabilidade de seus fracassos nos ombros do parceiro.


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Basta de queixas


A construção de uma relação amorosa que seja boa e duradora exige um esforço enorme. Requer imaginação, dedicação, tolerância, auto-sacrifício e responsabilidade nas escolhas. O amor é algo que precisa ser renovado a cada dia, a cada hora; constantemente ressuscitado, reafirmado e cuidado. Em resumo: o amor não suporta covardia, nem se desenvolve na estufa do conformismo.

Mas nós não queremos saber disso. Nada queremos saber das exigências do amor. Aprendemos que amar é verbo intransitivo: não requer complemento. Por isso mesmo, não é a toa que certos relacionamentos se transformam, ao longo do tempo, em objeto de queixas constantes. Lembremos que a causa inicial de toda queixa é a preguiça. Amar dá trabalho, uma vez que a cada minuto surge uma demanda nova, um afeto imprevisto, um inesperado que exige correção do caminho.

Quando não é possível desconhecer o incômodo que o outro nos causa ou menosprezar o acontecimento que perturba a inércia de cada um, surge à queixa. A vontade de culpar o outro. Vontade que pode ir aumentando até o ponto em que a pessoa chega a se convencer, paranoicamente, que o amado está contra ela. Que ele não a compreende e que por isso ela é infeliz.

Nesse ponto, a relação entra num impasse. Não há mais diálogo, nem possibilidade de compreensão. As pessoas se sentem sozinhas no relacionamento: “Ele(a) não me escuta, não me entende.” – dizem aos amigos, na esperança que alguém compreenda sua solidão.

Toda queixa tem seu traço narcísico. A energia liberada por ela assume a forma de uma força centrífuga. É um fechamento sobre si mesmo, uma recusa da dificuldade de lidar com a realidade trabalhosa de toda a relação. Diferentemente da reivindicação justa, a queixa não serve para nada. Aliás, é comum o queixoso se valer da nobreza das justas reivindicações sociais para mascarar seu exagerado narcisismo.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Um Líder Hoje



1.   Um líder hoje é diferente de ontem. Hoje estamos em uma sociedade de rede, uma sociedade plana, não vertical, o líder não pode se apresentar como um modelo a ser imitado, ou louvado como um ideal. Acabou a era dos líderes imperiais, mistura de sabedoria e poder.

2. Um líder hoje tem que ter algo de carismático. Lembremos que os carismáticos eram os que tinham acesso a Deus sem intermediação, razão de sua perseguição pela Igreja. O carismático tem um compromisso com sua paixão, acima da vontade de ser compreendido pelo outro. Por essa postura, seduz, tem o algama, como diria Sócrates.
3. Um líder hoje tem que estar pronto a suportar o mal-entendido. No mundo-mix não há uma razão maior unificante, que universalize (versão do um), que convença plenamente pela razão. Mais do que nunca vale o conselho: “Não se explique, nem se justifique”.
4. Um líder hoje deve dar maior importância ao ressoar que ao raciocinar, “tá ligado”? Essa expressão dos jovens atuais aponta a um novo tipo de laço social que não é baseado na compreensão, como há até pouco tempo, mas na multiplicidade de estimulações. Só assim podemos compreender uma Techno-parade com dois milhões de pessoas que estão juntas no exercício de suas diferenças, não de uma igualdade.
5. Um líder hoje deve ter uma história para contar, sim, mas, sobretudo, criatividade para inová-la. A sua história mais vale pela paixão vivida, que pelo exemplo moral do sofrimento. A ética do desejo é diferente da moral dos costumes.
6. Um líder hoje deve adotar o Princípio Responsabilidade, não a utopia, nem o medo. O Princípio Responsabilidade exige dois movimentos: inventar uma solução e, em seguida, ser capaz de inscrevê-la ao mundo.
7. Um líder hoje não deve se preocupar com nenhum figurino prêt-à-porter, mas com a convicção do seu gesto. Não haverá um líder igual a outro, acabou a pessoa com cara de líder.
8. Um líder hoje deve preferir a razão sensível à razão ascética. Lógica com subjetividade será mais convincente que lógica com números. Números não emocionam.
9. Um líder hoje deve saber que a cauda da distribuição de preferências é longa e que mais valem os detalhes do pouco a pouco, a atenção com as janelas quebradas, que propostas monumentais.
10. Um líder hoje deve saber que na sociedade de comunicação o que mais vale é a própria comunicação, a interface, o contato, além de qualquer bem material: o líder deve ser a expressão de uma cultura.
 Jorge Forbes