Sabemos que a generosidade é uma virtude ética. Como tal, tem valor positivo. Mas como toda virtude, seu excesso transforma-se em vício, já nos ensinou Aristóteles. É sobre a experiência negativa da generosidade que gostaria de fazer algumas pontuações.
Embora não seja fácil de admitir, existe uma complexa aliança entre a generosidade e o egoísmo. A sensação de superioridade que algumas pessoas sentem na capacidade de renunciar seus desejos em nome das demandas dos outros, nada mais é do que uma forma de egoísmo. Diria, seguindo os pressupostos teóricos da psicanálise, que é a face masoquista do egoísmo.
São pessoas que têm consciência de que estão sendo exploradas e mesmo assim se sentem forte, com energia e disponibilidade de sobra para mais um favor para chefe, o amigo, o marido ou esposa, e, principalmente, para os filhos. Parecem não ter limites. Quanto maior a exploração, mais fortes e poderosas elas se sentem.
Algumas vezes, param para reclamar. Dizem sentirem-se tolas. É nesses momentos que podemos constatar o gozo masoquista que sustenta essa mascara comportamental. A posição de inferioridade é vivenciada como poder, portanto, como superioridade. São esses sentimentos antagônicos, derivados da mesma ação, como é o caso da humilhação e da vaidade, que permite ao masoquista continuar sentido prazer na posição que se coloca.
Temos a tendência de imaginar o masoquista como uma pessoa de auto-imagem negativa. Uma pessoa frágil e sem forças para se rebelar. Essa é uma imagem muito simplória. Para o masoquista, a posição de humilhação é um grande alimento da vaidade, portanto, necessária e conveniente para alimentar todo o processo. Há, também, nesse modo de gozo, um grande prazer erótico relacionado com o servir e subjugar-se, pois essa posição implica numa forma sutil de dominação e de poder.
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