sábado, 17 de setembro de 2011

Estranhos Conselhos


A vida é sem garantia e tem prazo de validade. Para desconforto de alguns, ela não vem com “bula” nem “com modo de usar”: tem que ser conquistada diariamente. Ela não é consequência, é causa. Por conseguinte, contra todo o senso comum, cada um tem que descobrir o seu modo próprio de ser feliz.

Essa é uma visão de vida que, na maioria das vezes, é muito difícil de aceitar. É mais fácil acreditar que alguém, em algum lugar, tem a fórmula da felicidade. Para os pais, de maneira geral, é quase impossível aceitar essa idéia de que a vida não tem fórmula pronta. O amor narcísico impõe a crença de que a partir de suas próprias experiências podem traçar o melhor caminho para os seus filhos. Desse princípio, nascem as numerosas imposições em formato de conselho.

A dificuldade de lançar os filhos no mundo, sem uma grande lista de recomendações, é uma característica comum de todos os pais. Eles carregam a estranha fé de saber o que é melhor para os seus filhos: a melhor carreira, o melhor parceiro, os melhores amigos, o melhor lugar para morar, o melhor caminho a seguir. São os conhecidos “ideais”, que fazem parte de qualquer cultura em qualquer tempo, e que passamos grande parte da vida tentando alcançá-los.

É preciso ter atenção, pois a transmissão desses ideais pode ser muito positiva ou bastante negativa. É positiva quando eles têm por base valores éticos e estéticos: esses são sempre bem vindos. É um dever dos pais a transmissão desses valores. Afinal, valores são construções culturais. Portanto, são aprendidos. Não nascemos com eles.

Mas pode se tornar muito negativa, um verdadeiro tormento para os filhos, quando estes ideais estão assentados nos medos e nas frustrações dos pais. Nestes casos, os pais não estão transmitindo valores e virtudes, mas suas próprias neuroses. No primeiro caso, a transmissão de valores são ferramentas importantes que passamos aos nossos filhos para que eles possam abrir seus próprios e novos caminhos. No segundo, a transmissão de neuroses são pesados grilhões que obrigamos nossos filhos a carregar por caminhos já traçados de antemão.

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