domingo, 30 de outubro de 2011

A paixão habita o espaço da coragem






Estar apaixonado é uma delícia. Quando a paixão atravessa nosso caminho, a vida adquire novas e impensáveis dimensões. Nosso olhar ganha o estranho brilho da felicidade explicitada, nossas percepções se dilatam, nossa fala instiga o prazer e os sentidos se aguçam. O mundo a nossa volta conquista um novo ritmo: muito mais intenso e frenético. Os movimentos tomam a direção do acolhimento e da comunhão.

Para o sujeito apaixonado, o corpo é a medida de todas as coisas. Pois a paixão insufla a liberdade do corpo, império do erotismo. Ela desperta o princípio do prazer, e conviver sob as leis desse princípio é absurdamente delicioso. O corpo mergulha em intimidades abissais, a pele ganha nova sensibilidade, as fantasias eróticas predominam sobre a realidade. As leis da paixão inscrevem um novo regime de liberdade no corpo.

Quando estamos apaixonados o sensível obscurece a racionalidade. A libido solta às amarras da repressão abrindo as portas para as mais intensas e estranhas fantasias eróticas. O espaço em que a paixão acontece desvenda uma estranha liberdade. Nele, perdemos e ganhamos o mundo. A paixão se apresenta, quase sempre, como uma ruptura da ordem social: ao unir os amantes, os separa do grupo.

Por ser essa força imensa que nos retira o controle das verdades estabelecidas e das inibições protetoras, é preciso muita coragem para se entregar a essa deusa libidinosa. Não são todos que ousam correr esse risco.

sábado, 22 de outubro de 2011

A solidão dos que não estão sozinhos.



Vivemos em um mundo super povoado. Nos grandes centros urbanos, são centenas de pessoas vivendo na mesma rua e, às vezes, milhares no mesmo bairro. Com tanta gente em tão pouco espaço, um simples raciocínio lógico nos levaria a concluir que as pessoas que moram nesses grandes centros podem sofrer por várias causas, menos de solidão.

Mas, infelizmente, não é isso que acontece. Pelo contrário, quanto maior a metrópole maior é o número de pessoas que se dizem solitárias. Com certeza, nesse caso, você deve concordar comigo, a realidade transcende aos princípios do raciocínio lógico.

Como dar sentido ao estado de solidão de tantas pessoas que vivem mergulhadas na multidão? A primeira resposta que me acorre é influenciada pela teoria das massas defendida por Freud. Qual seja, as grandes massas tem o poder de homogeneizar o pensamento humano para o mais baixo nível. Para fazer parte da coletividade massificada temos que funcionar num nível quase primário de pensamento. Quem não se subordina a essa lei, passa a ser um excluído. E como excluído, a sentir-se solitário.

Por outra via, mais coerente com o pensamento contemporâneo, podemos dar sentido a solidão pelo excesso de oferta do mundo globalizado. São tantas as ofertas de amizades e relacionamentos que se apresentam para um sujeito urbano, que ele simplesmente não consegue mais escolher. Ou melhor, ele está sempre duvidando da sua escolha.

Inicia-se um relacionamento hoje, depois de uma semana começam a aparecer às diferenças e com elas as primeiras frustrações. Pronto, a dúvida está instalada. Será que devo fazer sacrifícios para manter uma relação com alguém que “não é tudo isso”, quando tenho oportunidade de encontrar outra pessoa que poderia ser muito mais agradável? Aí o sujeito começa a duvidar se quer ficar na relação. Na segunda ou terceira frustração, ele já tem certeza absoluta que vale a pena ir atrás de algo melhor, e já está sozinho de novo.

Essa é, na maioria dos casos, a cara da solidão do sujeito urbano. Ele passa por uma série de pequenas relações afetivas: está sempre mudando de parceiros, afinal “a fila tem que andar”. Mas, depois de uma série de fracassos, ele começa a se sentir absolutamente só. Com a sensação que todas as relações são muito superficiais e que no fim de uma interminável série ele acabará sozinho.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Amores Verdadeiros




Os fios com os quais a experiência amorosa é tecida têm diferentes densidades e comprimentos múltiplos. Algumas vezes, eles nem são tão densos, mas tecem longas histórias de amor. Outras vezes, a densidade é muita alta, mas as pequenas dimensões constroem histórias de curta duração.

Para alguns a densidade da trama amorosa é fundamental. Não importa se a trama seja curta, que dure pouco tempo. O que realmente importa é a intensidade da experiência afetiva compartilhada com o outro. A sublime experiência de união hipostática, com alguém que até um pouco de tempo antes era um ilustre desconhecido, supera o desejo de longevidade.

Para outros, só as longas relações amorosas são sinônimos de verdadeiro amor. É necessário que os fios que constroem a relação sejam longos o bastante para que ela possa ser tecida por muito e muitos anos. Para esses pacientes tecelões do amor, não importa que os fios tenham pouca densidade. Eles sabem que alguns dos mais belos trabalhos manuais são tramados com fios muito finos. E que, nesses casos, o fundamental é a habilidade do tecelão.

Nenhuma dessas duas experiências pode ser considerada melhor que a outra. Afinal, o amor não é lei, é experiência afetiva. Contra todo o senso comum, o verdadeiro valor dessa experiência é sempre singular. Cada um tem que descobrir o seu modo de ser feliz.

sábado, 1 de outubro de 2011

Quando falta prazer, sobra mal humor





Quem gosta de estar perto de alguém mal humorado? Quem gosta de conviver com o chefe ou um parceiro que está sempre de mau humor? Ninguém gosta, mas às vezes somos obrigados a suportar. O humor, assim como o perfume, quando é muito denso contamina com facilidade todo o ambiente. E da mesma forma que uma pessoa com excesso de perfume não consegue perceber o aroma que exala no ambiente, as pessoas com alto nível de mau humor também não conseguem perceber a contaminação que provocam.

É claro que o bom humor também contamina. Mas ele costuma esquentar o nosso coração, portanto, não há porque reclamar. O mau humor, ao contrário, esfria o coração e causa uma sensação de solidão. Ninguém consegue compartilhar um passeio agradável ao lado de uma pessoa de mau humor, por exemplo. As palavras e os gestos do parceiro mal humorado apagarão a claridade do dia, a beleza da natureza, o encanto da novidade.

Para alguns estudiosos as mulheres são mais propensas ao mau humor por causa do período pré-menstrual: a famosa TPM. Por certo, esse é um período muito difícil para o humor de algumas mulheres. Quem consegue manter o bom humor sentindo cólicas, dor de cabeça e tantos outros incômodos físicos. Mas nesses casos, o mau humor é pontual. Todo mundo tem “aquele dia” que acorda intragável. “Aquele dia” que o melhor a fazer seria não sair da cama.

Conviver com o mau humor do outro, nesses casos pontuais, faz parte do aprendizado da convivência. Há que se respeitar, mantendo uma distância estratégica. Não abordar questões polêmicas nesses dias. Protelar decisões importantes. E tantos outros “truques” que a gente vai aprendendo na convivência diária.

Mas quando o mau humor é o estado de espírito mais constante na vida do parceiro, aí a coisa complica. Pessoas com mau humor crônico têm dificuldade de lidar com o prazer. Estão sempre cobrando excessivamente de si mesma e dos outros. Têm baixo nível de tolerância para as frustrações. Normalmente são muitos impulsivas.  Não sabem esperar. Não sabem fazer projetos. Têm pouco sentimento de empatia, o que torna a convivência diária quase insuportável. Nesses casos, o melhor a fazer é incentivá-las a pedir ajuda de um profissional para que aprendam a olhar com mais amor e generosidade para si mesmas.