segunda-feira, 25 de julho de 2011

“Tudo que eu faço, eu faço por você.”



Gostamos de ser cuidado. Precisamos de proteção e abrigo. Necessitamos de intimidade. Este feixe de anseios é causa da nossa disposição para encontrar um amor. Para procurar, no meio da multidão, alguém que seja amável e que esteja disposto a amar. Afinal, o amor nos faz entrar em contato com a melhor parte de nós mesmos, a identificar traços luminosos de nosso próprio destino na vida de outra pessoa.

E, como diz o poeta: Quando a gente gosta. É claro que a gente cuida. Acredito nas palavras do poeta. Cuidar faz parte dessas centenas de vontades que a gente adquire quando está amando. Contudo, é bom ter cuidado com esse cuidado. Assim como uma mãe superprotetora pode acabar sufocando o filho. Aquele que ama, quando o cuidado é excessivo, pode sufocar a pessoa amada.

Cuidar pode ser uma forma de representar o carinho que sentimos pelo outro. No entanto, o cuidado excessivo é sentido como controle. Nenhum adulto sadio gosta de ser controlado.

Cuidar pode ser uma forma de demonstrar interesse. Contudo, o interesse pelo o que acontece na vida do outro pode ser rapidamente transformado em intromissão. Pessoas intrometidas tornam-se uma pedra no meio do nosso caminho, mesmo quando a amamos.

Cuidar pode ser uma forma de dizer: “Eu te quero”. Mas se ultrapassar a delicada fronteira do dito carinhoso, transforma-se em possessividade. A possessividade é um sentimento difícil de ser compartilhado.

Como não existe uma escala métrica para medir os sentimentos, é difícil saber quando exageramos. Quando transformamos uma representação positiva do amor em um afeto negativo, passional. Normalmente, é o parceiro que nos avisa quando ultrapassamos os limites do tolerável. É bom ficar “de olhos bem abertos”.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Casais Fóbicos



Para alguns casais, viver juntos é sinônimo de fazer tudo juntos. Dormem juntos. Almoçam juntos. Viajam juntos. Tiram férias juntos. Às vezes, até trabalham juntos. Para esses casais, não há vida fora do relacionamento. Formam um tipo de casal que poderíamos muito bem denominar de “casal fóbico”: tudo o que está fora da experiência a dois é perigoso.


Não vou negar que é bom ter companhia. Pouca gente gosta de viajar sozinha. É bom ter com quem dividir os prazeres das férias. É bom ter alguém para esquentar a cama nos dias de frio. Melhor ainda, é dividir todos esses prazeres com alguém que a gente ama e confia. Mas quando o prazer de dividir um momento feliz com alguém vira obrigação, a vida pode se tornar um inferno. As mais simples atividades diárias acabam virando palco de muita discussão e muito atrito.

Algumas vezes, o casal constrói essa dependência obsessiva do outro por causa do ciúme de um dos parceiros. O ciumento tem muito medo do desejo do outro. Por isso, precisa estar sempre controlando tudo o que o outro faz. Precisa estar sempre por perto para “proteger” o outro de desejar algo que não tenha a sua aprovação. Nesse caso, aprovação é sinônimo de controle.

Outras vezes, essa dependência é causada pela insegurança. Normalmente, um dos parceiros é muito inseguro. Precisa ter alguém “segurando a sua mão” constantemente. Precisa da aprovação constante do outro. É como uma criança que não consegue ir a lugar nenhum sem a presença da mãe. Não dorme na casa do amiguinho. Tem dificuldade de ir para escola sozinha, etc, etc. Nesse caso, o(a) parceiro(a) é o substituto da mãe super-protetora.

Em todos esses casos, e tantos outros que podíamos relacionar aqui, a possibilidade de fazer algo sozinho, estando numa relação, pode ser interpretado pelo parceiro como abandono, falta de amor ou desinteresse. Ou seja, é sempre uma ameaça. É sempre objeto de queixas.

Perde-se, nesse tipo de relação, a individualidade. A responsabilidade das escolhas. A liberdade de desejar. Não é a toa que casais que escolheram esse tipo de relacionamento, depois de alguns anos juntos, jogam a responsabilidade de seus fracassos nos ombros do parceiro.


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Basta de queixas


A construção de uma relação amorosa que seja boa e duradora exige um esforço enorme. Requer imaginação, dedicação, tolerância, auto-sacrifício e responsabilidade nas escolhas. O amor é algo que precisa ser renovado a cada dia, a cada hora; constantemente ressuscitado, reafirmado e cuidado. Em resumo: o amor não suporta covardia, nem se desenvolve na estufa do conformismo.

Mas nós não queremos saber disso. Nada queremos saber das exigências do amor. Aprendemos que amar é verbo intransitivo: não requer complemento. Por isso mesmo, não é a toa que certos relacionamentos se transformam, ao longo do tempo, em objeto de queixas constantes. Lembremos que a causa inicial de toda queixa é a preguiça. Amar dá trabalho, uma vez que a cada minuto surge uma demanda nova, um afeto imprevisto, um inesperado que exige correção do caminho.

Quando não é possível desconhecer o incômodo que o outro nos causa ou menosprezar o acontecimento que perturba a inércia de cada um, surge à queixa. A vontade de culpar o outro. Vontade que pode ir aumentando até o ponto em que a pessoa chega a se convencer, paranoicamente, que o amado está contra ela. Que ele não a compreende e que por isso ela é infeliz.

Nesse ponto, a relação entra num impasse. Não há mais diálogo, nem possibilidade de compreensão. As pessoas se sentem sozinhas no relacionamento: “Ele(a) não me escuta, não me entende.” – dizem aos amigos, na esperança que alguém compreenda sua solidão.

Toda queixa tem seu traço narcísico. A energia liberada por ela assume a forma de uma força centrífuga. É um fechamento sobre si mesmo, uma recusa da dificuldade de lidar com a realidade trabalhosa de toda a relação. Diferentemente da reivindicação justa, a queixa não serve para nada. Aliás, é comum o queixoso se valer da nobreza das justas reivindicações sociais para mascarar seu exagerado narcisismo.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Um Líder Hoje



1.   Um líder hoje é diferente de ontem. Hoje estamos em uma sociedade de rede, uma sociedade plana, não vertical, o líder não pode se apresentar como um modelo a ser imitado, ou louvado como um ideal. Acabou a era dos líderes imperiais, mistura de sabedoria e poder.

2. Um líder hoje tem que ter algo de carismático. Lembremos que os carismáticos eram os que tinham acesso a Deus sem intermediação, razão de sua perseguição pela Igreja. O carismático tem um compromisso com sua paixão, acima da vontade de ser compreendido pelo outro. Por essa postura, seduz, tem o algama, como diria Sócrates.
3. Um líder hoje tem que estar pronto a suportar o mal-entendido. No mundo-mix não há uma razão maior unificante, que universalize (versão do um), que convença plenamente pela razão. Mais do que nunca vale o conselho: “Não se explique, nem se justifique”.
4. Um líder hoje deve dar maior importância ao ressoar que ao raciocinar, “tá ligado”? Essa expressão dos jovens atuais aponta a um novo tipo de laço social que não é baseado na compreensão, como há até pouco tempo, mas na multiplicidade de estimulações. Só assim podemos compreender uma Techno-parade com dois milhões de pessoas que estão juntas no exercício de suas diferenças, não de uma igualdade.
5. Um líder hoje deve ter uma história para contar, sim, mas, sobretudo, criatividade para inová-la. A sua história mais vale pela paixão vivida, que pelo exemplo moral do sofrimento. A ética do desejo é diferente da moral dos costumes.
6. Um líder hoje deve adotar o Princípio Responsabilidade, não a utopia, nem o medo. O Princípio Responsabilidade exige dois movimentos: inventar uma solução e, em seguida, ser capaz de inscrevê-la ao mundo.
7. Um líder hoje não deve se preocupar com nenhum figurino prêt-à-porter, mas com a convicção do seu gesto. Não haverá um líder igual a outro, acabou a pessoa com cara de líder.
8. Um líder hoje deve preferir a razão sensível à razão ascética. Lógica com subjetividade será mais convincente que lógica com números. Números não emocionam.
9. Um líder hoje deve saber que a cauda da distribuição de preferências é longa e que mais valem os detalhes do pouco a pouco, a atenção com as janelas quebradas, que propostas monumentais.
10. Um líder hoje deve saber que na sociedade de comunicação o que mais vale é a própria comunicação, a interface, o contato, além de qualquer bem material: o líder deve ser a expressão de uma cultura.
 Jorge Forbes


segunda-feira, 4 de julho de 2011

O amor é uma imersão.



O amor entrou na vida dessa mulher pela porta dos fundos. Não tocou a campainha, não se fez anunciar. Quando ela percebeu, ele já estava lá, muito bem instalado nas entranhas do seu ser, na mais profunda ex-timidade.

Desde então, sua vida racional, disciplinada e plena de sentido desmoronou. A paixão a arrastou para um dos mais sublimes e difíceis lugares da condição humana, que denominamos de “miséria criativa” – miséria de sentido, criativa de invenção.

Buscou um analista na tentativa, desesperada e angustiante, de dar sentido aquilo “que não tem sentido, nem nunca terá”. Como compreender esse amor? Como explicar que uma mulher casada e feliz de repente fosse tomada por uma paixão avassaladora de adolescente? Sentia-se ridícula.

“Como fui me apaixonar por esse homem?” – repetia insistentemente. “Ele não é bonito, não é rico nem mesmo inteligente”. “Mas”, continuava ela, “quando sinto o olhar apaixonado e desejoso dele sobre mim, o sem-sentido ganha vida, não consigo evitar seus abraços.”

Foi preciso deixar que ela repetisse dezenas de vezes essa mesma questão. Foi preciso esperar que a angústia diminuísse para que ela começasse a admitir que o amor se dá no acaso, no encontro, na surpresa, daí dizer que ele foge à consciência, que ele é mágico.

Assim como não há nada a se compreender na delícia de um banho de cachoeira ou na preocupação de uma mãe com um filho, também não há nada a se compreender numa declaração de amor. Não há nenhum por que, e se fosse explicado, perderia o sentido do afeto. Não se pode entender o amor.

Do encontro amoroso não se foge. Ele exige uma posição. Não há forma ou fórmula de fingimento. Essa era a única questão a ser enfrentada. Ou ela criava coragem para iniciar uma nova história ou arrancaria as raízes desse amor de suas entranhas. Nenhuma das alternativas se daria sem dor.