segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O que é memória? O que é ficção?


"Sou Nadia Guerra, e pela primeira vez vou lhes dizer, com microfone aberto, tudo o que senti em cada uma das manhãs de minha vida durante todos esses anos enquanto saudava a bandeira e cantava o Hino Nacional, tudo aquilo que não me atrevi a dizer até este minuto....

Pertenço a uma zona de intimidade que me faz humana, não divina. Sou uma artista, não uma heroína contemporânea, odeio essa desproporção, não quero que esperem que eu seja o que não sou. Não devo mais aos mártires do que aos meus pais, à minha resistência, à minha própria história pessoal ancorada aqui em minha simples vida cubana.

Não posso continuar tentando ser como Che, nem herdar a pureza de Camilo... minha proeza é singela: sobreviver nesta ilha, evitar o suicídio, suportar a culpa de minhas dívidas, o acaso de estar viva, e desligar-me definitivamente desses persistentes nomes de guerra e de paz."

Pequenos fragmentos do belíssimo livro, Nunca fui Primeira-Dama, da escritora cubana Wendy Guerra. Um texto que provoca nossas certezas a respeito das fronteiras entre a memória, a história e a ficção.