terça-feira, 23 de outubro de 2012

Um Presente de Natal Inesquecível


 

No ano em que se comemora o bicentenário da primeira edição dos contos dos irmãos Grimm, a Cosac Naify se orgulha de apresentar ao leitor brasileiro uma obra rara: num feito inédito no mercado editorial do país, lança a versão original das 156 histórias, nunca antes reunidas em português, diretamente traduzidas do alemão. A coletânea, dividida em dois tomos como a original (publicados em 1812 e 1815), conta com tradução da especialista Christine Röhrig e ilustrações do gravurista pernambucano J. Borges. A Cosac Naify manteve os prefácios escritos pelos Grimm e algumas notas de cunho histórico, além de trazer uma apresentação exclusiva do professor doutor Marcus Mazzari.

É com ar de novidade que o leitor vai redescobrir contos cujas adaptações, e seus famosos “viveram felizes para sempre”, diferem completamente dos originais, com desfechos surpreendentes (e às vezes chocantes!). 

A editora convidou o célebre gravurista pernambucano J. Borges, que conseguiu captar o maravilhoso dos textos e as metamorfoses da história por meio de uma técnica essencialmente nacional: a xilogravura. Borges talhou os desenhos em madeira, passou tinta e carimbou no papel. Muito diferente das ilustrações tradicionais das obras dos irmãos Grimm, o traço do cordelista abraça com naturalidade e humor a excentricidade e o maravilhoso da narrativa.

Apoiada pelo Goethe Institut, os dois volumes ficam acondicionados em uma caixa, mantendo a organização proposta pelos autores. A editora preparou, além da edição convencional, uma outra especial, limitada. Esta tem capa dura revestida com tecido e luva em material transparente com impressão em serigrafia. A edição convencional, em brochura, vem em luva de papel cartão e traz na capa elementos icônicos das ilustrações.

FONTE: Site da Editora


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Cronos Implacável




Nossa vida é circunscrita, basicamente, por um tempo histórico, um espaço geográfico e um gênero sexual. Esses três elementos emolduram nosso lugar no mundo. Constituem a imagem que nos representa no campo da Cultura.

No entanto, mesmo sendo lugares fundantes, não são necessariamente lugares fixos. Transcendemos com facilidade as fronteiras de nosso espaço geográfico. Podemos ir viver numa outra cidade, estado, país ou continente e nos sentirmos em casa, plenamente adaptados a uma nova cultura e uma nova língua. O mesmo acontece com o gênero sexual. A biologia pode não nos definir. E quando isso acontece, podemos também transcendê-la.

Do tempo, porém, dificilmente conseguimos transcender. Nascemos e somos mergulhados nas cresças e nos valores constituintes, desse curto período de tempo que compõe uma vida humana. Somos filho de um período histórico. Somos homens e mulheres que vivem de acordo com as verdades, as ficções de nosso tempo. Em qualquer lugar do mundo, sofremos os efeitos do tempo que nos constitui.

Nossas experiências do passado são efêmeras. Elas nos atravessam como relâmpagos. Entramos num prédio muito antigo e somos mergulhados, por exemplo, no século XI. Enquanto andamos pelos labirintos que definem a arquitetura daquele século, temos a estranha sensação de que podemos transpor o tempo. As grossas paredes remetem-nos há um tempo que não é nosso, mas que, por uma fração de segundos, podemos senti-lo atravessando as pedras.

Não importa a história daquele lugar. Sobre ela, podemos aprender sentados em nossa poltrona preferida, com um livro na mão; ou na sala de aula, escutando uma aula de história; ou na tela do computador, em qualquer lugar do mundo. Mas este aprendizado é apenas um exercício racional, como qualquer outro. Ele nunca nos proporcionará aquela estranha e densa sensação da transcendência do tempo. Aquele ínfimo momento em que a fenda do tempo se abre e nos remete a um tempo imemorial há muito perdido.

Ao sairmos desses espaços centenários, verdadeiros túnel do tempo, somos, na maioria das vezes, engolfados por uma cidade do tempo de hoje. Cidades constituídas por largas avenidas, com seu trânsito barulhento e restos de conversas com as quais nos identificamos. E, mais uma vez, sentimo-nos seguros em nossa comunidade adormecida nas certezas de seu próprio tempo.

Maria Holthausen

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cinquenta Tons de Cinza: Uma Nova Onda Sadomasoquista?



Cinquenta Tons de Cinza, romance da escritora inglesa Erika James é o best-seller do momento. Quem está acompanhado as repercussões dessa obra na mídia, principalmente na internet, sabe que o livro faz parte de uma trilogia: Cinquenta Tons de Cinza, Cinquenta Tons Mais Escuro e Cinquenta Tons de Liberdade.

O tema que conduz essa trilogia não é novo. As tramas do desejo sadomasoquista tecem uma multiplicidade de romance desde o século XVIII, com o Marques de Sade. Da trilha aberta por Sade, construiu-se as diversas veredas do erotismo sadomasoquista, no campo da literatura. Algumas muito interessantes, outras, apenas, oportunistas.

Sem entrar no julgamento estético do texto da autora inglesa. Se é que existe algum. O que me apaixona nesse livro são as discussões que ele causa. Não consigo deixar de pensar nas polêmicas que todos os romances, sobre esse tema, promoveram sempre que foram publicados. O erotismo e, principalmente, o erotismo sadomasoquista sempre causou e, parece, continua a causar, um movimento de atração e repulsa. 

Em nossa época, os que são atraídos por esse tema compram os livros e enchem as salas de cinema. Já que a maioria desses livros é transformada em filme, e esse também será. Para esses fieis defensores, a fantasia sadomasoquista faz parte da vida erótica de todo mundo. Falar sobre elas parece ser um alívio, ou um grito de liberdade. E quando uma dona de casa de classe média, mãe de dois filhos, pode publicar suas fantasias sadomasoquistas, mesmo que seja sob o véu do texto literário; nada mais os impede de reconhecer o seu próprio desejo por elas.

Do outro lado, encontram-se as pessoas que sentem repulsa por essas fantasias. Algumas por posição política, como as feministas. Para elas, a submissão feminina estabelecida no par sado-masoquista é uma afronta à luta pela igualdade nas relações heterossexuais. E, portanto, esse tipo de “literatura” deve ser combatida.

Para outros, a repulsa advém pelo viés moral. Como os religiosos que defendem a sexualidade apenas como um rito necessário à procriação. O prazer suscitado por esse tipo de fantasia faz parte do pecado da luxuria. Por isso mesmo, esses livros deveriam ser proibidos, eliminados ou queimados. Afinal, não se negocia com o reino do céu.

Fazendo parte de um grupo ou de outro, todos se posicionam. E pelo sucesso de vendas do livro, parece-me que tem muita gente desejando experimentar essa fantasia. Uma fantasia que, como apontei no início do texto, não é nova, mas que de tempos em tempos se renova.

Maria Holthausen

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A Síndrome do Ninho Vazio




Para alguns pais, é muito difícil a separação dos filhos. O luto do ninho vazio é acompanhado de um sentimento melancólico tão profundo que, muitas vezes, induz a períodos de depressão. Tentando se defender dessa experiência dolorosa, esses pais fazem o possível e o impossível para manter os filhos, por um longo tempo, em casa.

Para sustentar essa escolha perante aos amigos e outros membros da família, nunca faltam boas desculpas. A mais usada, e a de maior valor de persuasão, é a questão financeira. As crianças – observe como a maioria desses casais tendem a chamar os filhos de “as crianças” – ainda não ganham suficiente para se manterem sozinhas. Então, por que se sacrificar para sair de casa antes do casamento. Afinal, a casa é grande e tem espaço de sobra para todos. Ou então, quando  “as crianças” já estão ganhando o suficiente para se sustentarem sozinhas, ainda tem a desculpa de que em casa é mais fácil fazer uma boa poupança para o futuro.

Como rebater um argumento tão racional, lógica e consistente. Na verdade, não é questão de rebater, nem mesmo, de recriminar essa escolha. O que me interessa pensar são as dificuldades e o medo que alguns pais demonstram, frente à perspectiva de voltarem a viver a experiência de casal. Aquela experiência primeira, a convivência que antecedeu a chegada dos filhos. Para alguns, esse tempo foi muito rápido. Os filhos chegaram logo depois do casamento. Para outros, durou alguns anos. Nesse último caso, se a vivência a dois foi positiva, eles terão menos medo de recuperar o status de casal.

Acredito que casais que tiveram filhos logo após o casamento têm mais dificuldade em aceitar a vivência a dois. O casamento adquiriu, muito cedo, a significação de família. Pensar-se sem a convivência diária dos filhos é assustador.  A falta dos filhos descortina a falta de significação do casal. A perspectiva de viver a dois não tem consistência, é vazia. Esses casais teriam que estar dispostos a se reinventar. A construir juntos, um novo sentido para suas vidas. O que pode ser muito gratificante e enriquecedor. Mas sempre é assustador. Nós, seres humanos, temos muito medo de mudanças.

Outra dificuldade que gera o medo da separação dos filhos, para alguns casais, é que a vivência a dois, no início do casamento, foi tão frustrante que a possibilidade de que ela se repita é assustadora. Nestes casos, o medo é que ao voltar ao status de casal, a separação será iminente. E, infelizmente, manter os filhos por o mais longo tempo possível dentro de casa, é percebido como a melhor solução. Uma solução que remedia o problema, mas não resolve.

Afinal, como já dizia o guru dos anos 70, Gibran Kahlil, “vossos filhos não são vossos filhos, são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem...”

Maria Holthausen