Nossa vida é circunscrita,
basicamente, por um tempo histórico, um espaço geográfico e um gênero sexual.
Esses três elementos emolduram nosso lugar no mundo. Constituem a imagem que
nos representa no campo da Cultura.
No entanto, mesmo sendo lugares
fundantes, não são necessariamente lugares fixos. Transcendemos com facilidade
as fronteiras de nosso espaço geográfico. Podemos ir viver numa outra cidade,
estado, país ou continente e nos sentirmos em casa, plenamente adaptados a uma
nova cultura e uma nova língua. O mesmo acontece com o gênero sexual. A
biologia pode não nos definir. E quando isso acontece, podemos também
transcendê-la.
Do tempo, porém, dificilmente conseguimos
transcender. Nascemos e somos mergulhados nas cresças e nos valores constituintes,
desse curto período de tempo que compõe uma vida humana. Somos filho de um período
histórico. Somos homens e mulheres que vivem de acordo com as verdades, as
ficções de nosso tempo. Em qualquer lugar do mundo, sofremos os efeitos do tempo
que nos constitui.
Nossas experiências do passado são
efêmeras. Elas nos atravessam como relâmpagos. Entramos num prédio muito antigo
e somos mergulhados, por exemplo, no século XI. Enquanto andamos pelos
labirintos que definem a arquitetura daquele século, temos a estranha sensação
de que podemos transpor o tempo. As grossas paredes remetem-nos há um tempo que
não é nosso, mas que, por uma fração de segundos, podemos senti-lo atravessando
as pedras.
Não importa a história daquele lugar.
Sobre ela, podemos aprender sentados em nossa poltrona preferida, com um livro
na mão; ou na sala de aula, escutando uma aula de história; ou na tela do
computador, em qualquer lugar do mundo. Mas este aprendizado é apenas um
exercício racional, como qualquer outro. Ele nunca nos proporcionará aquela
estranha e densa sensação da transcendência do tempo. Aquele ínfimo momento em
que a fenda do tempo se abre e nos remete a um tempo imemorial há muito perdido.
Ao sairmos desses espaços
centenários, verdadeiros túnel do tempo, somos, na maioria das vezes, engolfados
por uma cidade do tempo de hoje. Cidades constituídas por largas avenidas, com
seu trânsito barulhento e restos de conversas com as quais nos identificamos. E,
mais uma vez, sentimo-nos seguros em nossa comunidade adormecida nas certezas
de seu próprio tempo.
Maria Holthausen
Ufa, terminei finalmente!
ResponderExcluirAcabei de ler todos os textos que não tinha lido ultimamente... e gostei de todos. Muito bom seus textos tia, parabéns!
Só pra saberes, é o Vinícius aqui!
Bj!
Obrigado Vi!
ResponderExcluirBom saber que você leu. E melhor ainda, foi saber que você gostou.
Beijos