terça-feira, 16 de outubro de 2012

Cronos Implacável




Nossa vida é circunscrita, basicamente, por um tempo histórico, um espaço geográfico e um gênero sexual. Esses três elementos emolduram nosso lugar no mundo. Constituem a imagem que nos representa no campo da Cultura.

No entanto, mesmo sendo lugares fundantes, não são necessariamente lugares fixos. Transcendemos com facilidade as fronteiras de nosso espaço geográfico. Podemos ir viver numa outra cidade, estado, país ou continente e nos sentirmos em casa, plenamente adaptados a uma nova cultura e uma nova língua. O mesmo acontece com o gênero sexual. A biologia pode não nos definir. E quando isso acontece, podemos também transcendê-la.

Do tempo, porém, dificilmente conseguimos transcender. Nascemos e somos mergulhados nas cresças e nos valores constituintes, desse curto período de tempo que compõe uma vida humana. Somos filho de um período histórico. Somos homens e mulheres que vivem de acordo com as verdades, as ficções de nosso tempo. Em qualquer lugar do mundo, sofremos os efeitos do tempo que nos constitui.

Nossas experiências do passado são efêmeras. Elas nos atravessam como relâmpagos. Entramos num prédio muito antigo e somos mergulhados, por exemplo, no século XI. Enquanto andamos pelos labirintos que definem a arquitetura daquele século, temos a estranha sensação de que podemos transpor o tempo. As grossas paredes remetem-nos há um tempo que não é nosso, mas que, por uma fração de segundos, podemos senti-lo atravessando as pedras.

Não importa a história daquele lugar. Sobre ela, podemos aprender sentados em nossa poltrona preferida, com um livro na mão; ou na sala de aula, escutando uma aula de história; ou na tela do computador, em qualquer lugar do mundo. Mas este aprendizado é apenas um exercício racional, como qualquer outro. Ele nunca nos proporcionará aquela estranha e densa sensação da transcendência do tempo. Aquele ínfimo momento em que a fenda do tempo se abre e nos remete a um tempo imemorial há muito perdido.

Ao sairmos desses espaços centenários, verdadeiros túnel do tempo, somos, na maioria das vezes, engolfados por uma cidade do tempo de hoje. Cidades constituídas por largas avenidas, com seu trânsito barulhento e restos de conversas com as quais nos identificamos. E, mais uma vez, sentimo-nos seguros em nossa comunidade adormecida nas certezas de seu próprio tempo.

Maria Holthausen

2 comentários:

  1. Ufa, terminei finalmente!

    Acabei de ler todos os textos que não tinha lido ultimamente... e gostei de todos. Muito bom seus textos tia, parabéns!

    Só pra saberes, é o Vinícius aqui!

    Bj!

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  2. Obrigado Vi!
    Bom saber que você leu. E melhor ainda, foi saber que você gostou.
    Beijos

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