Para alguns pais, é muito difícil a
separação dos filhos. O luto do ninho vazio é acompanhado de um sentimento
melancólico tão profundo que, muitas vezes, induz a períodos de depressão.
Tentando se defender dessa experiência dolorosa, esses pais fazem o possível e
o impossível para manter os filhos, por um longo tempo, em casa.
Para sustentar essa escolha perante
aos amigos e outros membros da família, nunca faltam boas desculpas. A mais
usada, e a de maior valor de persuasão, é a questão financeira. As crianças –
observe como a maioria desses casais tendem a chamar os filhos de “as crianças”
– ainda não ganham suficiente para se manterem sozinhas. Então, por que se
sacrificar para sair de casa antes do casamento. Afinal, a casa é grande e tem
espaço de sobra para todos. Ou então, quando
“as crianças” já estão ganhando o suficiente para se sustentarem
sozinhas, ainda tem a desculpa de que em casa é mais fácil fazer uma boa
poupança para o futuro.
Como rebater um argumento tão racional,
lógica e consistente. Na verdade, não é questão de rebater, nem mesmo, de
recriminar essa escolha. O que me interessa pensar são as dificuldades e o medo
que alguns pais demonstram, frente à perspectiva de voltarem a viver a
experiência de casal. Aquela experiência primeira, a convivência que antecedeu
a chegada dos filhos. Para alguns, esse tempo foi muito rápido. Os filhos
chegaram logo depois do casamento. Para outros, durou alguns anos. Nesse último
caso, se a vivência a dois foi positiva, eles terão menos medo de recuperar o
status de casal.
Acredito que casais que tiveram
filhos logo após o casamento têm mais dificuldade em aceitar a vivência a dois.
O casamento adquiriu, muito cedo, a significação de família. Pensar-se sem a
convivência diária dos filhos é assustador. A falta dos filhos descortina a falta de
significação do casal. A perspectiva de viver a dois não tem consistência, é vazia.
Esses casais teriam que estar dispostos a se reinventar. A construir juntos, um
novo sentido para suas vidas. O que pode ser muito gratificante e enriquecedor.
Mas sempre é assustador. Nós, seres humanos, temos muito medo de mudanças.
Outra dificuldade que gera o medo da
separação dos filhos, para alguns casais, é que a vivência a dois, no início do
casamento, foi tão frustrante que a possibilidade de que ela se repita é
assustadora. Nestes casos, o medo é que ao voltar ao status de casal, a
separação será iminente. E, infelizmente, manter os filhos por o mais longo
tempo possível dentro de casa, é percebido como a melhor solução. Uma solução
que remedia o problema, mas não resolve.
Afinal, como já dizia o guru dos
anos 70, Gibran Kahlil, “vossos filhos não são vossos filhos, são os
filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não
de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem...”
Maria
Holthausen
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