segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A Síndrome do Ninho Vazio




Para alguns pais, é muito difícil a separação dos filhos. O luto do ninho vazio é acompanhado de um sentimento melancólico tão profundo que, muitas vezes, induz a períodos de depressão. Tentando se defender dessa experiência dolorosa, esses pais fazem o possível e o impossível para manter os filhos, por um longo tempo, em casa.

Para sustentar essa escolha perante aos amigos e outros membros da família, nunca faltam boas desculpas. A mais usada, e a de maior valor de persuasão, é a questão financeira. As crianças – observe como a maioria desses casais tendem a chamar os filhos de “as crianças” – ainda não ganham suficiente para se manterem sozinhas. Então, por que se sacrificar para sair de casa antes do casamento. Afinal, a casa é grande e tem espaço de sobra para todos. Ou então, quando  “as crianças” já estão ganhando o suficiente para se sustentarem sozinhas, ainda tem a desculpa de que em casa é mais fácil fazer uma boa poupança para o futuro.

Como rebater um argumento tão racional, lógica e consistente. Na verdade, não é questão de rebater, nem mesmo, de recriminar essa escolha. O que me interessa pensar são as dificuldades e o medo que alguns pais demonstram, frente à perspectiva de voltarem a viver a experiência de casal. Aquela experiência primeira, a convivência que antecedeu a chegada dos filhos. Para alguns, esse tempo foi muito rápido. Os filhos chegaram logo depois do casamento. Para outros, durou alguns anos. Nesse último caso, se a vivência a dois foi positiva, eles terão menos medo de recuperar o status de casal.

Acredito que casais que tiveram filhos logo após o casamento têm mais dificuldade em aceitar a vivência a dois. O casamento adquiriu, muito cedo, a significação de família. Pensar-se sem a convivência diária dos filhos é assustador.  A falta dos filhos descortina a falta de significação do casal. A perspectiva de viver a dois não tem consistência, é vazia. Esses casais teriam que estar dispostos a se reinventar. A construir juntos, um novo sentido para suas vidas. O que pode ser muito gratificante e enriquecedor. Mas sempre é assustador. Nós, seres humanos, temos muito medo de mudanças.

Outra dificuldade que gera o medo da separação dos filhos, para alguns casais, é que a vivência a dois, no início do casamento, foi tão frustrante que a possibilidade de que ela se repita é assustadora. Nestes casos, o medo é que ao voltar ao status de casal, a separação será iminente. E, infelizmente, manter os filhos por o mais longo tempo possível dentro de casa, é percebido como a melhor solução. Uma solução que remedia o problema, mas não resolve.

Afinal, como já dizia o guru dos anos 70, Gibran Kahlil, “vossos filhos não são vossos filhos, são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem...”

Maria Holthausen


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