segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Amores Virtuais


O desenvolvimento tecnológico mudou nossa forma de estar no mundo e o nosso modo de relação com o outro. Para nos relacionarmos com pessoas de lugares e culturas diferentes, ter dinheiro e vontade de viajar não é determinante. A internet nos permite o contato com pessoas que, até uns 10 anos atrás, dificilmente teríamos condições de nos relacionar.

Essa abertura para mundo, a partir da telinha do computador, mudou, também, a perspectiva das relações amorosas. Na sala de espera de qualquer aeroporto internacional, conversamos com jovens que transitam pelo mundo para encontrar os parceiros cujo namoro começou pela internet.

Muitas dessas relações fracassam logo após o primeiro encontro. Outras se transformam em casamentos, depois de meia dúzia de viagens de cada um dos parceiros. Parece-me, pelas histórias que pude acompanhar até agora, que os namoros virtuais têm acertos e erros iguais aos dos namoros com o colega de sala de aula, ou com o vizinho do prédio.

É claro que a geração que nasceu com a internet tem mais confiança nesse modo de relacionamento do que os seus pais. A maioria dos pais ainda não acredita nesse tipo de namoro, e não bota muita fé nessas relações. Temem as diferenças culturais, algumas vezes por preconceito, outras por puro desconhecimento de causa.

Minha conclusão, depois de ouvir e acompanhar várias dessas histórias, é que o amor é sempre um risco. Não importa se namoramos um inglês que está trabalhando na Nova Zelândia, uma francesa que faz mestrado no Canadá, ou se namoramos o vizinho do nosso bairro. As chances de dar certo, ou não, são exatamente as mesmas, desde que acreditemos nesse novo modo de relacionamento e sejamos capazes de nos desvencilharmos de antigos valores.


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Derrotados pelo sucesso


Aprendemos com Freud que a felicidade causa medo. E o medo nos leva a ser mais destrutivos justamente quando estamos muito próximos da felicidade. Quando nos aproximamos de um estado de plenitude, um estado em que parece não nos faltar nada (o amor corresponde a uma das situações nas quais sentimos isso), passamos a experimentar um medo difuso, a viver uma sensação de ameaça e de risco iminente.

Sempre que um sonho está próximo de se realizar – seja ele afetivo ou profissional -, sentimos que uma grande tragédia passa a nos rondar e, a qualquer momento, pode nos alcançar. A angústia e o pavor pode ser tal que não consigamos vislumbrar outra saída a não ser destruir aquilo que está provocando a felicidade e também o medo.

Se a causa da felicidade é um encontro amoroso de grande intensidade, o que costuma ocorrer é que encontramos motivos externos, de valor relativo, para justificar a decisão de nos livrarmos daquele relacionamento.

Ao nos aproximarmos de uma condição de vida que imaginamos ideal - o que acontece de forma marcante quando nos sentimos protegidos por uma pessoa que é objeto do nosso amor - experimentamos primeiramente a plenitude para, logo em seguida, sentirmos medo de que esse estado de felicidade possa ser rompido por uma experiência dramática. Diante do pavor de tal possibilidade, é claro que tendemos a evitar ou mesmo destruir a tão sonhada condição ideal.

Por outro lado, se o relacionamento está ruim, o emprego está chato, e a carreira não consegue alcançar sucesso, não temos esse problema. Não temos medo da felicidade porque não estamos próximo delas. Ficamos mais serenos entre as sombras da insatisfação.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Narciso no país da solidão


No esforço diário de estabelecer um lugar no mundo, cada um de nós se alimenta de duas fontes essenciais. Na primeira, encontramos as aspirações, as normas e os ideais transmitidos pelo discurso paterno. Na segunda, o amor incondicional da mãe que nos acolheu e agasalhou nos primeiros anos de vida. Ou seja, nossas fontes são a lei paterna e o amor materno.

No entanto, na sociedade contemporânea, bebemos sobretudo da segunda fonte: o amor materno. Por isso, somos tão narcísicos. Estamos muito mais preocupados em sermos amados, aplaudidos e admirados, do que com os deveres e princípios. “Narciso é o mito de uma humanidade sem interdito e fascinada pelo poder ilimitado de seu eu.”

Como crianças, sapateamos sempre que nossos desejos não são imediatamente atendidos. Não queremos, ou melhor, não sabemos mais esperar por nada. Temos pressa, tudo é urgente. Devoramos tudo rapidamente. Não sabemos mais lidar com as frustrações, elas nos causam angústia. Aquela velha noção de tempo que aprendemos com a natureza - tempo para plantar, tempo para crescer, tempo para colher -; hoje não faz mais sentido. Tudo tem que ser resolvido num clic.

O estranho é que esse sentimento de urgência, de querer tudo e de acreditar que podemos fazer tudo, acaba provocando muita solidão. Temos milhares de amigos no faceboock. Saímos com centenas de colegas. Temos relações sexuais com dezenas de parceiros, mas, no “fim da noite”, continuamos nos sentido sozinho, porque os laços afetivos com todas essas pessoas são muito frágeis e superficiais.

Não temos mais fôlego para sustentar os projetos de longo prazo. Tudo nos cansa rapidamente. Tal como narciso, nossa imagem é líquida. Nosso rosto pode ter muitas formas e, simultaneamente, forma nenhuma. Substituímos o peso da tradição pelo deleite do culto a “si-mesmo”, e a punição da lei pelo cuidado terapêutico.


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Os perigos da sedução


Sempre que uma mulher muito sedutora se aproxima de nossa “cara metade”, sentimos ciúme. E não é para menos. As sedutoras estabelecem rapidamente, com a pessoa do seu interesse, um jogo sensual tão arrebatador, que a “vítima” perde toda a noção de realidade.

A sedução faz parte do mundo dos simulacros, como ensina Baudrillard. Simular implica jogo, encenação. Por isso mesmo, é tão fácil reconhecer a abordagem sedutora. São gestos e palavras performáticos que tem o poder de surpreender e fascinar. Não importa se você é um homem ou uma mulher. Se é heterossexual ou homossexual. Você, como eu, reconhece com facilidade os artifícios de uma pessoa sedutora.

Quando uma sedutora investe sobre nosso parceiro, sentimo-nos impotente frente à carga de atração da sua performance. Na maioria das vezes, começamos mostrando nossa irritação pela cena, logo depois, a irritação vira fúria. E como toda sedutora é uma pessoa bastante narcísica, ela não vai deixar de demonstrar através de pequenos detalhes, o prazer que sente quando revelamos nossa frustração. Atitude, é claro, que vai nos deixar mais iradas ainda.

A cena armada por uma sedutora é sempre ambígua. Ela não usa as técnicas de um conquistador, por exemplo. Este último, é sempre muito direto, visa um objetivo muito claro. Por isso, a sedução é considerada um elemento da feminilidade. As mulheres fazem melhor esse jogo. Elas sustentam por mais tempo o erotismo provocado pela fantasia.

Então, se na maioria das vezes são as mulheres que seduzem. É justo afirmar que são elas, também, que mais sofrem com as cenas de sedução criadas por outras. No momento em que nosso parceiro entra nesse jogo, nem sempre muito consciente do que está acontecendo, mas sempre hipnotizado e infantilizado, somos arrebatadas da cena. Perdemos o controle. O ciúme se instala e tudo que queremos é ver a outra desaparecer como num passe de mágica.