segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Pedagogias...


"O professor que dialoga com os alunos não é aquele que simplesmente ouve ou concorda. Mas aquele que se apresenta para o diálogo também como diferença. Aprendizagem exige um posicionamento em relação ao mundo, a negação da neutralidade, a busca do movimento exato na hora certa, que se dá também por experimentação. Há que pensar então o movimento do diálogo. "

Fragmento da tese, Ensaio sobre o Movimento Humano,
 de Ana Cristina Zimmermann, amiga de doutorado.


terça-feira, 9 de novembro de 2010

Soberania


Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que

tentara pegar na bunda do vento — mas o rabo
do vento escorregava muito e eu não consegui
pegar. Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso
carinhoso para mim e não disse nada. Meus irmãos
deram gaitadas me gozando. O pai ficou preocupado
e disse que eu tivera um vareio da imaginação.
Mas que esses vareios acabariam com os estudos.
E me mandou estudar em livros. Eu vim. E logo li
alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio.
E dei de estudar pra frente. Aprendi a teoria
das idéias e da razão pura. Especulei filósofos
e até cheguei aos eruditos. Aos homens de grande
saber. Achei que os eruditos nas suas altas
abstrações se esqueciam das coisas simples da
terra. Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo
— o Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase:
A imaginação é mais importante do que o saber.
Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira. Botei
um pouco de inocência na erudição. Deu certo. Meu
olho começou a ver de novo as pobres coisas do
chão mijadas de orvalho. E vi as borboletas. E
meditei sobre as borboletas. Vi que elas dominam
o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no
corpo. (Essa engenharia de Deus!) E vi que elas
podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as
próprias asas. E vi que o homem não tem soberania
nem pra ser um bentevi.


Manoel de Barros
Memórias Inventadas - A Terceira Infância -