Philautia: Um último amor conhecido pelos gregos
era philautia, ou amor-próprio, que à
primeira vista parece o oposto de ágape*
- um rival que o destruiria. Os sábios gregos, no entanto, percebiam que ele se
manifestava sob duas formas. Havia um tipo negativo de amor-próprio, um desejo
ardente e egoísta de obter prazeres pessoais, dinheiro e honrarias públicas
muito além da cota justa. Seus perigos foram revelados no mito de Narciso, o
irresistível jovem que se apaixona pelo próprio reflexo num lago e, incapaz de
se afastar, pereceu ali de inanição. A má reputação do amor-próprio persistiu
no pensamento ocidental: no século XVI, o teólogo francês João Calvino
descreveu-o como uma “peste”, ao passo que Freud o via como um redirecionamento
patológico da nossa libido para nós mesmos, tornando-se incapaz de amar os
outros.
Por sorte, Aristóteles havia
reconhecido uma versão mais positiva do amor-próprio, que intensificava nossa
capacidade de amor. “Todos os sentimentos amistosos pelos outros”, escreveu
ele, “são extensões dos sentimentos de um homem por si mesmo.” A mensagem era
que, quando gostamos de nós e nos sentimos seguros de nós mesmos, temos amor em
abundância para dar. De maneira semelhante, se sabemos o que nos faz felizes,
estaremos em melhores condições para estender essa felicidade aos que nos
cercam. Se, por outro lado, estamos em desconforto com o que somos, ou
alimentamos alguma aversão por nós mesmos, teremos pouco amor a oferecer aos
outros. Ao que parece, deveríamos aprender a amar a nós mesmos de uma maneira
que não se transforme num sentimento arrebatador de obsessão por nós. Isso
significa, no mínimo, aceitar nossas imperfeições e reconhecer humildemente
nossos talentos individuais, em vez de sempre olhar para nossos defeitos e
inadequações.
Agape: Amor que devia ser estendido
desinteressadamente a todos os seres humanos.
Roman Krznaric, Sobre
a arte de viver
Muito bom. Obrigado por compartilhar.
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