terça-feira, 24 de abril de 2012

O conflito entre liberdade e dependência nas relações amorosas.



O ser humano nasce prematuro, isto quer dizer que ao nascer somos completamente dependentes. Precisamos ao longo dos primeiros anos de vida, de um adulto que se disponha a satisfazer nossas necessidades básicas: alimentação, higiene, saúde e afetos. Sem os cuidados de um adulto, dificilmente atravessaríamos os primeiros anos de vida.

Essa dependência do outro carregamos ao longo de nossa vida. Mesmo quando podemos suprir por nós mesmos as necessidades básicas da sobrevivência, precisamos de alguém para trocar ideias, experiências e afetos. Gostamos de exercer nossa individualidade com a máxima liberdade, mas amamos voltar para casa e encontrar alguém à nossa espera. 

Queremos ter espaço para realizar nossos anseios e desejos, ou seja, queremos experimentar nossa individualidade. Mas, também, necessitamos ter alguém para compartilhar nossas experiências. Essa contradição, inerente a todo ser humano, nunca é fácil de ser administrada na vida de um casal.

Muitas vezes, o interesse de um dos parceiros pela carreira e, até mesmo, pelos filhos é sentido pelo outro como abandono ou falta de companheirismo. Na maioria das vezes, os homens reclamam que as mulheres só se interessam pelos filhos. Elas, por sua vez, reclamam dos parceiros que dedicam tempo demais ao trabalho.

A sensação de solidão costuma deixar-nos frustrados e infelizes. O parceiro, que se sente “traído” pelo interesse do outro, tem vontade de procurar uma nova relação. Sonha com um novo amor, com uma relação de mais companheirismo. Começa a acreditar que a felicidade está noutro lugar, com outro parceiro. Isso acaba deixando-o com uma sensação de impotência e ainda mais solitário. Pois, uma das formas de nos sentirmos presos na vida, é quando passamos a acreditar que só seremos felizes em outro lugar e com outra pessoa. Essa prisão provocada pela ilusão romântica da felicidade foi o tema do romance mais famoso de Flaubert: Madame Bovary. E sabemos que não terminada nada bem.

Por isso mesmo, não acredito que a separação seja a melhor forma de resolver esse dilema. A busca ilusória de uma relação completa vai sempre fracassar. Afinal, a divisão entre a liberdade e a homeostase do amor, é inerente a todo ser humano, e mais cedo ou mais tarde vamos ter que aprender a conviver com ela.

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