terça-feira, 27 de março de 2012

Felicidade: nada mais saudável.



Andamos pela vida a procura de alegrias, satisfações, prazeres e realizações, ou seja, procuramos pela felicidade. Nada mais saudável. Tragédias e dramas, sofrimento e dor são especialidades da mídia. Só quem precisa de notícia, ou os muito masoquistas preferem passar pela vida lambendo feridas.
Mas a felicidade, conforme aprendemos desde tenra idade, não é transmitida por herança: nem genética nem monetária. Ela faz parte das conquistas individuais. Precisamos nos aventurar para beber de sua fonte. Para Freud, a água dessa fonte é composta por duas substâncias: amor e trabalho. O amor sustenta os laços familiares. Permite a troca de intimidades físicas e afetivas. Com as pessoas que amamos dividimos com grande prazer nossos momentos mais felizes e, também, nossas mais profundas tristezas e dores. Sem amor parecemos flores de plástico: faz cena, mas não perfuma.
A outra substância da fonte da felicidade é o trabalho. Fundamental na construção de nossa emancipação e liberdade, o trabalho é o movimento de abertura do sujeito para o mundo. Tão importante na nossa vida que Marx chegou a sugerir que foi o trabalho – e não Deus – que criou o homem, e é o trabalho – e não a razão – que distingue o homem dos outros animais.
Em tempos como os de hoje, em que a vida profissional concorre ferozmente com a vida afetiva, parece um paradoxo querer juntar essas substâncias como causas primeiras da felicidade. Parece, mas não é. Primeiro, porque há uma diferença entre trabalho e emprego. Marx e Freud apontam a importância do trabalho, e questionam as relações de empregabilidade. Questões que continuamos a discutir ainda hoje. Segundo, porque a partir do momento que admitimos a importância delas na nossa vida, vamos, passo a passo, buscando harmonizá-las.
Essa harmonização constrói sabedoria, faz parte do que chamamos savoir vivre - saber viver. Afinal, fica mais fácil viver as dores e perdas na vida afetiva, quando temos um trabalho que nos dá satisfação. Assim como fica mais fácil enfrentar as pedras do caminho profissional, quando temos o conforto de um ombro amoroso. Para Freud, era tão importante ter esses dois campos em perspectiva que propôs, como ganho subjetivo de uma análise, aprender a superar as dificuldades que às vezes nos fazem querer desistir de um desses dois caminhos.
  

segunda-feira, 19 de março de 2012

Erotismo é Criação



Freud, no início do século XX, foi muito criticado por defender a teoria da sexualidade infantil. Hoje, um século depois, ainda é difícil para a maioria das pessoas aceitarem que a energia sexual está presente, desde muito cedo, em toda criança. E que a vida sexual do adulto depende, em grande parte, da maneira como seu corpo foi libidinizado, ou seja, erotizado na primeira infância. Pois, o que a teoria da sexualidade infantil freudiana nos ensina é que toda criança saudável tem seu corpo erotizado pelos carinhos e cuidados maternos. E que corpo erotizado é sinônimo de corpo vivo e saudável. Capaz de sentir prazer num abraço, num beijo, no cheiro e olhar daqueles que se ocupam dela.

A vida sexual do adulto, de acordo com Freud, é um caleidoscópio formado por traços dessa primeira erotização do corpo, mais as crenças nos discursos sobre a sexualidade de seu tempo e grupo social, mais as fantasias – conscientes e inconscientes – que cada pessoa elabora sobre o seu prazer sexual, mais as repressões provocadas pela educação familiar. Sempre em movimento, sempre capaz de novas articulações, a vida sexual do adulto tem uma grande plasticidade, embora se utilize dos mesmos traços psíquicos e emocionais. Ou seja, esses traços psíquicos são como letras para um escritor, ou linhas para um pintor, que nos diversos momentos da vida e na relação com os diversos parceiros criam palavras, ou imagens, diferentes.

E assim como o artista passa por diversas fases: têm períodos muito criativos e outros onde parece que a criatividade literalmente desapareceu, qualquer ser humano saudável passa por diferentes fases na sua vida sexual. Em alguns períodos da vida, basta um olhar, um tom de voz, ou a imagem de um belo corpo para que o nosso corpo pulse de desejo. Em outros, parece que nosso corpo desligou o mecanismo do erotismo.

Algumas pessoas aceitam essas diferentes fases como um processo natural. Outras, sempre que a libido diminui, entram em pânico. Os homens, porque a cobrança social do constante desempenho sexual ainda é maior para eles, são os que mais entram em pânico. Infelizmente, o pânico não resolve problema nenhum, ele só aumenta sua dimensão. Uma pessoa em pânico normalmente paralisa, recusa-se a reconhecer o que a incomoda. Recusa-se a falar com a parceira sobre o que está acontecendo, ou a procurar a ajuda de um profissional.  Normalmente, buscam saídas “milagrosas”, aquelas que prometem resolver o problema imediatamente. O que, às vezes, pode até dar certo, mas pode também não resolver nada e até agravar a situação. Afinal, o prazer sexual, assim como a criação artística, é um processo que se alimenta do mundo e, ao mesmo tempo, é incondicionalmente marcado pela singularidade de cada indivíduo. Nele, “cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é”.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Dom de Iludir


O que os homens falam, pensam e escrevem sobre as mulheres.....


Não me venha falar
Na malícia de toda mulher
Cada um sabe a dor
E a delícia
De ser o que é...
Não me olhe
Como se a polícia
Andasse atrás de mim
Cale a boca
E não cale na boca
Notícia ruim...
Você sabe explicar
Você sabe
Entender tudo bem
Você está
Você é
Você faz
Você quer
Você tem...

Você diz a verdade
A verdade é o seu dom
De iludir
Como pode querer
Que a mulher
Vá viver sem mentir
Caetano Veloso

sábado, 10 de março de 2012

Mulher: Salto Alto e Saia Justa?



Março é o mês da mulher. Não importam as críticas, a data já se consolidou: 8 de março é o dia da mulher. Gostando ou não, achando justo ou injusto, nesse dia e durante todo esse mês fala-se da mulher.

Sustentada por uma áurea mais política do que festiva, essa data provoca-nos a falar sobre as questões da mulher.  É a época de discutir, por exemplo, que apesar de todo o preparo e dedicação das mulheres no trabalho, elas ganhamos menos que os homens em qualquer cargo que ocupem. Na base da pirâmide profissional ou no ápice dela, o valor do trabalho feminino é menor que o do masculino.

Outro tema que sempre está na pauta das discussões é a tripla jornada de trabalho: profissional, esposa e mãe. Não importa se ela é Ministra de Estado, executiva ou faxineira, quando chega em casa depois de um dia pesado de trabalho, espera-se que a mulher se preocupe com a organização da casa e com a educação dos filhos. Cabe a ela organizar, cuidar e nutrir os filhos. Tarefas incondicionalmente de responsabilidade materna. O marido, quando tem marido em casa, pode, no máximo, “ajudar” nessas tarefas.

Mesmo com tantos avanços sobre os preconceitos sociais é quase improvável que alguém ache “normal” que uma mãe, ao sair do trabalho, vá para um bar beber alguma coisa com os amigos, antes de ir para casa. Na verdade, nem mesmo ela vai se sentir confortável nessa posição. A culpa por estar “desperdiçando” as poucas horas que tem para ficar com os filhos será maior do que a necessidade de relaxar e se divertir.

E por falar em culpa, acho que esse é o sentimento mais caracteristicamente feminino. São poucas as mulheres que não carregam sobre os ombros um grande pacote de culpas. Sempre preocupadas com a forma física, com o corte dos cabelos, com as modas e os modismos, elas são capazes de dormir cinco horas por noite e, ainda assim, não conseguirem tempo para todos os compromissos do dia. Sempre atentadas às infinitas demandas a sua volta - do chefe, do marido, dos filhos, dos pais, das amigas -, elas vivem administrando uma eterna dívida para com o “outro”.  E não tem jeito, se sentir em dívida, principalmente com as pessoas amadas, é se sentir culpada.

Será que essa situação um dia vai mudar? Não sei. Mas penso que é bom que todo ano, em março, sejamos convocadas a parar para pensar sobre essas questões. Quem sabe aos poucos descobrimos novos caminhos. Caminhos menos árduos e mais prazerosos.

terça-feira, 6 de março de 2012

Bullying

Denise Fraga fala sobre Bullying

 no blog da editora Cosac Naif.

Vale a pena passar no blog para ouvir .

sábado, 3 de março de 2012

Separação: Precisa ser uma tragédia?




Todo processo de separação provoca dor. No entanto, nem toda separação precisa se transformar em uma tragédia Grega. Luto, insegurança, instabilidade emocional, culpa, medo, estresse e vários outros sentimentos difíceis de conviver, fazem parte do processo de toda separação.
Se o casal tem filhos a dificuldade aumenta. Eles também vão sofrer com o processo, e os pais se sentem ainda mais culpados. Para não aumentar o sofrimento dos filhos, alguns casais superam suas inseguranças e medos e obrigam-se a usar o bom senso num momento em que as atitudes passionais parecem ser as mais adequadas.

È muito bom quando isso acontece. Afinal, com filhos no meio, a relação nunca se desfaz totalmente. O casal pode se separar, cada um dos parceiros pode construir uma nova família. E, mesmo assim, continuarão sendo o pai e a mãe das crianças que geraram. Não existe ex-pai ou ex-mãe. Filhos são pessoas com quem temos vínculos sanguíneos, esse tipo de vínculo jamais se desfaz. 

Essa constatação pode ser considerada até simplória, todo mundo sabe. Mais acreditem, as pessoas esquecem. Um homem que faz as malas e sai de casa, está desfazendo um contrato civil que um dia escolheu assinar. Ele deixa de ser casado, mais não deixa de ser pai. O mesmo acontece com uma mulher que toma a mesma decisão.  Portanto, ainda no momento da separação o comportamento dos pais servirá de modelo para os filhos.
Em nome desse vínculo indissolúvel com os filhos, é aconselhável que o casal procure ajuda de um profissional sempre que sentir dificuldade para lidar com a carga emocional provocada pela dissolução dos laços matrimoniais. Existem vários modelos de trabalho, na área da psicologia, que podem fazer diferença significativa nessas horas.

O modelo mais conhecido é o da terapia de casal. Neste modelo, o casal escolhe um profissional para falar sobre as suas dificuldades no processo. Ou seja, fazem sessões juntos. Outro modelo é o da terapia de família. Como o nome já diz, toda a família vai participar desse trabalho. Cada um irá dividir com os outros membros da família, suas dores e pontos de vistas.

Por fim, há, também, a possibilidade de cada um dos parceiros fazer seu trabalho com um profissional diferente: análise individual. Neste caso, vai-se aprender a lidar com a desestabilização provocada pelo fracasso das fantasias, e reconhecer que o espaço vazio deixado pelo parceiro abre-se para uma nova topologia do desejo.