sábado, 29 de junho de 2013

CINEMA COMO ILUSTRAÇÃO



A arte de contar a dor da vida

Barack Obama convida Hollywood a atuar na redução ao preconceito contra a doença mental

 Em 2001, o filme norte-americano Uma Mente Brilhante retratou a história do genial matemático John Wash, Prêmio Nobel de Economia em 1994 pelas suas contribuições à Teoria dos Jogos. Ele sofria de delírios e alucinações decorrentes de um quadro de esquizofrenia. O filme, dramático e sensível, retrata seus embates com os sintomas decorrentes da doença e a força do amor de Alicia, ex-aluna e esposa, que lhe possibilita conjuntamente com a descoberta do diagnóstico e tratamento uma amarração com a vida.

Seguindo a máxima “acontece na vida, acontece nos filmes, acontece com você!” o jornal O Globo publicou no último dia 6 de junho a iniciativa do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de recorrer à indústria cinematográfica de Hollywood, convidando atores e produtores, para o debate que visa reduzir o preconceito em relação às doenças mentais. A estratégia inicial é a de levar ao ar, pela televisão, depoimentos de atores e pessoas públicas que tiveram casos da doença em suas famílias. Numa segunda fase, com a ajuda de profissionais da área psi, serão retratados nos filmes, com maior precisão e sem caricaturas, os desafios enfrentados por pessoas portadoras destas doenças, tentando evitar que descrições confusas potencializem a discriminação.

Falar nas mídias sobre esquizofrenia, autismo, depressão grave, bipolaridade e outras doenças mentais pode levar as pessoas a perceberem a importância de procurar tratamento, além da via medicamentosa, e desconstruir estigmas construídos culturalmente sobre tais sintomas.

A psicanálise, desde Freud, trabalha com a linguagem que constitui nossa humanidade. Somos seres da fala e as palavras ao ressoarem no corpo mostram a impossibilidade de separá-lo do psiquismo. Desta forma, nomear o que nos acomete, circunscreve o medo errático do desconhecido.

Quando se trata do psiquismo humano é preciso ser cuidadoso, evitar os padrões do politicamente correto e das tentativas de estabelecer limites e modelos de normalidade. Na sociedade pós-moderna, resta muito pouco a “enquadrar”. Os indivíduos são diferentes um a um em seus acometimentos. Nossas “esquisitices” são uma marca singular e sobre elas devemos nos responsabilizar.

Em princípio, parece que a campanha, encabeçada por Obama, para combater o preconceito sobre a doença mental é bem intencionada. Fica a aposta, que este projeto contemple a liberdade de ser diferente e o respeito a singularidade e que o mesmo não se transforme em mais um genérico na expressão do sofrimento subjetivo.
By: Griseldis Achôa





domingo, 23 de junho de 2013

EROTISMO



No texto abaixo, o psicanalista Contardo Calligaris revela o quanto, para a sociedade contemporânea, o ato sexual é considerado obsceno e, portanto, deve ser reprimido em nome dos bons costumes.
Mas, em uma sociedade em que a indústria da pornografia fatura milhões, obsceno não seria os nossos falsos pudores?


Sex and the city



Numa madrugada de inverno dos anos 1960, em Milão, um jovem casal estava num carro estacionado numa praça. Dez minutos foram suficientes para embaçar os vidros e esquentar os corpos.

Dois guardas notaram que o carro subia e descia com movimentos "suspeitos". Eles gritaram "Polícia!" e mandaram abrir. O casal, intimidado, obedeceu, revelando seus corpos nus ainda enroscados. Os guardas autuaram a ambos por atentado ao pudor.

Um ano depois, os jovens foram inocentados: o juiz reconheceu que eles só se mostraram porque os guardas mandaram abrir o carro --ninguém atentara ao pudor de ninguém.

Com amigos e amigas, decidimos zombar da polícia e dos cidadãos bem-pensantes (os quais, em cartas aos jornais, tinham manifestado sua indignação). Era de novo inverno; estacionávamos nossos carros, não de noite em lugares ermos, mas de dia, nas ruas mais frequentadas.

Assim que os vidros estivessem embaçados, era um exagero de sacudidas, de modo que ninguém duvidasse que, lá dentro, a gente fazia a festa. Infelizmente, nenhum guarda nunca bateu nos vidros de nossos carros trêmulos e protestatórios.

Pensei nessa história na sexta passada, quando li a ótima reportagem de Roberto de Oliveira, em "Cotidiano" (Folha, 7 de junho): uma inquilina do edifício Copan, glória de São Paulo, emprestou seus aposentos para um casal de amigos cariocas. Na noite do dia 27, o casal subiu pelo elevador até o último andar e se engajou nas escadas externas. Um segurança viu esse movimento pelas câmeras e foi atrás, até encontrar o casal no ato (sexual, claro).

O síndico do condomínio multou a inquilina (R$ 678) --por escolher "mal" seus amigos?-- e agora esbraveja que se tratou de um atentado ao pudor. Mas ao pudor de quem? Se o segurança (que imagino que seja maior de idade) "foi atrás", é porque estava a fim de dar uma espiadinha, suponho.

Claro, haverá um carrancudo para perguntar: não podiam ir para seu apartamento e se deitar na cama? Pois é, não, não podiam. Ou melhor, podiam, mas deviam achar que seria muito mais chato do que transar com a vista de São Paulo, o ar frio, a sensação de estar fazendo algo inusitado, a fantasia de serem vistos de alguma janela do Terraço Itália e, enfim, o risco de serem surpreendidos pelo segurança do prédio, como aconteceu.

Somos um pouco diferentes dos outros mamíferos. O cheiro do sexo oposto não é suficiente para nos excitar; precisamos recorrer a fantasias sexuais --sem isso, nada ou pouco acontece. E, se você acha que não recorre a fantasia alguma, isso significa apenas que você não sabe a quais fantasias recorre.

O que é extraordinário não é que um casal transe nas escadas externas do Copan. O extraordinário é que tantas pessoas transem (ou digam que transam) sempre nas suas camas.

Essa é uma opinião excêntrica de psicanalista? Tomemos o caso do risco: dois grupos parecidos atravessam um precipício por pontes diferentes, um passa por uma sólida ponte de alvenaria, e o outro, por uma ponte de cordas. Na chegada do outro lado, quem está mais receptivo para sexo? Pois é, são os da ponte estilo Indiana Jones.

O síndico do Copan declarou inicialmente que o ato era "depreciativo". Que cada um escreva sua lista das coisas que depreciam nossa vida. Na minha lista, há corrupção, violência, insegurança, incompetência, intolerância, estupidez são as coisas que atentam cada dia ao meu pudor. Um casal transando não está entre as coisas que depreciam meu dia, mas entre as que lhe dão valor.

A vítima do Copan criou uma conta no vakinha.com.br, pedindo ajuda para pagar a multa. Quis contribuir ao pagamento da multa, que me parece injusta. Infelizmente, a conta foi apagada (talvez por causa dos comentários bestas e agressivos que ela recebeu).

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tirou do ar uma ação de seu ministério voltada para as prostitutas (e demitiu o responsável pela campanha), porque ele se escandalizou com a frase "Eu sou feliz sendo prostituta", que ele substituiu por "Sem vergonha de usar camisinha" (que ele deve ter complementado mentalmente: "mas com vergonha de ser prostituta"). O ministro poderia ser candidato a síndico do edifício Copan.

Caro ministro Padilha, antes de demitir mais colaboradores competentes, dê uma lida: Gabriela Silva Leite, "Eu Mulher da Vida" (Rosa dos Tempos), "Filha, Mãe, Avó e Puta" (Objetiva) e (um pouco mais complexo) Eliana dos Reis Calligaris, "Prostituição - O Eterno Feminino" (Escuta).

Contardo Calligaris
Fonte: Site Jornal Folha de São Paulo





quinta-feira, 20 de junho de 2013

PSORÍASE



Cientistas espanhóis concluem 
que emoções negativas agravam psoríase.

Cientistas da Universidade de Múrcia, na Espanha, concluíram que há uma relação entre as emoções negativas e as lesões da pele que caracterizam a doença inflamatória crônica chamada psoríase. Ela pode atingir mucosas, unhas e até articulações e o processo é alternado entre momentos de melhora e piora. Não é uma doença contagiosa, mas está associada a fatores psicológicos. É caracterizada por manchas avermelhadas, em forma circular, com descamação da pele.

Os cientistas avaliaram 800 doentes, de diferentes regiões do mundo, na primeira etapa dos estudos. Na segunda fase, os investigadores avaliaram a personalidade dos doentes e fizeram uma análise, por meio de testes, com emoções negativas e positivas.

O estudo, do qual fez parte a associação espanhola de doentes Acción Psoriasis, concluiu que o doente quando se sente deprimido, pressionado, agitado, preocupado ou nervoso acaba tendo um aumento das lesões. Esses fatores causam o agravamento e a extensão dessas lesões.

Os cientistas do grupo de Psicodiversidade da Universidade de Múrcia defendem a necessidade de um tratamento completo do doente de psoríase, incluindo os aspectos dermatológico e psicológico.
De acordo com a Acción Psoriasis, as avaliações mostraram que emoções positivas podem constituir fator de proteção.

FONTE:  site ebc



quarta-feira, 12 de junho de 2013

"Narciso acha feio o que não é Espelho"





Não existe uma fórmula mágica para a felicidade. Mas, existe uma chave que pode abrir muitas portas para ela. Esta chave, acredito, chama-se coerência com os seus desejos. Se não desejo as mesmas coisas que os meus amigos desejam, por que tenho que organizar a minha vida de acordo com a vida deles?  

O texto de Ruth de Aquino, fala da coragem de assumir as nossas singularidades.


Vida longa ao namoro
RUTH DE AQUINO


Pode não parecer, mas sou romântica. Isso não quer dizer que precise ganhar flores. Talvez, por isso, nunca nenhum namorado ou marido me tenha presenteado com rosas. Eles se sentiriam deslocados na cena, no tempo e no espaço. Digamos que escolhi homens que, como eu, não associam amor a buquês. Sei que escolhi. Lembro cada vez em que me apaixonei e pensei: agora, é este.

Já ganhei árvores da felicidade... do meu atual namorado. Muito atual. Completamos 22 anos de namoro em abril. Comemoramos no mesmo mês, mas em datas diferentes. Eu, no dia em que nos conhecemos – foi uma espécie de “surpresa à primeira vista”. Ele, no dia em que fizemos amor pela primeira vez. Convidou-me para dormir em sua casa, por elegância, jamais carência. Voltei para minha casa. Já ficava claro ali, em abril de 1991, que eu queria apenas romance, não casamento. Ele também.

Amigos não se conformam quando nos tratamos de namorado e namorada. Como assim? Isso já virou um casamento! Não virou. Tenho ex-maridos, pais de meus filhos. Sei o que é morar na mesma casa, constituir família. Ele tem ex-mulher, mãe de seus filhos. Somos solteiros, não casamos oficialmente. Existe diferença entre casamento e namoro. Não somos marido e mulher. Não acreditamos em usucapião no amor.

A atriz Marieta Severo, de 66 anos, namora há oito o diretor de teatro Aderbal Freire-Filho. Ela falou para a revista Quem: “Moro na minha casa, ele na dele. Na minha cabeça, quando não se mora junto, se chama namoro. Gosto que seja namoro. Adoro esse nome (risos). Já vivi um casamento de 30 anos (com Chico Buarque, de quem se separou em 1996), está bom. Tenho uma vida familiar intensa, são sete netos”.

Meu namorado e eu também temos netos. Esse é outro preconceito com o namoro. Como se apenas jovens pudessem ser namorados. Às vezes, nos olham de viés e não acreditam. Como se namoros tivessem prazo de validade para passar à outra etapa. Sabemos que, qualquer dia, esse namoro pode acabar – talvez só a consciência da precariedade do amor o salve. 

O namoro quase acabou poucas vezes – quando o Botafogo goleou o Fluminense, ou vice-versa. Não assistimos juntos a embates diretos. Se um time cismar em humilhar o outro, naquela noite não nos vemos. O romance sofre sempre que ficamos junto demais e caímos na armadilha clássica dos maridos e mulheres que implicam, cobram e reclamam. E se tornam malas. Quantas infidelidades são cometidas por desinteresse, mau humor e possessividade! Olhem-se no espelho no Dia dos Namorados, mesmo os casados ou sozinhos, e se perguntem: qual meu índice de chatice no cotidiano?

A primeira dedicatória de um livro de poesias dele dizia: “Para Ruth, companheira das praias de maio”. Eu tinha 36 anos, ele 42. O único desejo era dar prazer um ao outro, no outono de 1991. Não era premeditado, tínhamos poucas ilusões. O amor persiste pelo tesão físico e intelectual. E pela cumplicidade que resiste às diferenças de dois temperamentos fortes. Sempre fugimos dessa história de se fundir. Ou se ferrar... Cara-metade é uma expressão assustadora. Quantos se redescobrem quando viram ex! Conseguem um habeas corpus para o livre agir e pensar. E se reconhecem no verso de Fernando Pessoa: “Há muito tempo que não sou eu”.

É duro suportar uma longa solidão, a irregularidade do sexo. Mas muitas relações não têm salvação. Em 2011, o número de divórcios no Brasil cresceu 45,6%, segundo o IBGE. Isso significa o fim de 351 mil casamentos num ano. O advogado Luiz Octavio Rocha Miranda disse ao jornal O Globo que os casais se divorciam por crise financeira, desemprego do marido, salário superior da mulher, incompatibilidade cultural. Mais que por traição. Dos 108 processos que comandou nos últimos dois anos, o casamento mais curto durou a lua de mel. Aumentaram também as separações de idosos. Um casal, junto há 49 anos, decidiu se divorciar. “Perguntei à mulher, octogenária, o motivo”, disse Miranda. “Ela disse: ‘Doutor, quero morrer feliz!’.”

As mulheres que não vivem com seus parceiros mantêm seu desejo muito mais aceso que as mulheres vivendo na mesma casa com os maridos. A conclusão é de um estudo com 2.500 voluntários, feito por um psicólogo alemão, Dietrich Klusmann. Por que será? Uma pista: os maridos param de enxergar suas mulheres, não as olham mais com vontade e fogo. E esse é um dos maiores afrodisíacos femininos: perceber que ele quer você (ou que ela quer você, nestes tempos de Daniela Mercury). Se virar móvel ou utensílio, não há libido que resista.

O poeta e escritor Paulo Mendes Campos, morto em 1991, escreveu um livro de crônicas chamado O amor acaba. Foi relançado em abril e esgotou em menos de um mês. Dizem que é porque o amor anda em alta. Mas quando esteve em baixa? 

 Fonte:  Site da Revista Época


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Jovens Delinquentes: Além dos Clichês



Os textos do psicanalista Contardo Calligaris propõem discussões sobre a questão da maioridade jurídica, numa perspectiva de análise que ultrapassa os clichês do discurso politicamente correto.


Jovens Delinquentes

Na noite de terça-feira passada (dia 9), em São Paulo, Victor Hugo Deppman, estudante de 19 anos, foi assassinado. As câmeras mostram que ele entregou seu celular, e o assaltante o matou sem razão, com um tiro na cabeça.

O criminoso se entregou à polícia declarando que faltavam dois dias para ele completar 18 anos. Com isso, pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), aos 20 anos e 11 meses no máximo, ele voltará a circular. A gente não pode nem deixar anotado o nome do assassino, para mantê-lo afastado de nossas vidas futuras: por ele ser menor, seu anonimato é preservado.

É assim que protegemos o futuro do criminoso, para que, uma vez regenerado pela mágica de três anos de internação (alguém acredita?), ele possa facilmente reintegrar a sociedade e ser um cidadão exemplar, nosso vizinho.

Obviamente, nos últimos dias, multiplicaram-se os pedidos de revisão do próprio ECA. Marcos Augusto Gonçalves (na Folha de segunda) observou que, na boca dos políticos, esses pedidos escondem décadas de descaso em matéria de segurança pública. Concordo. Mas, como não sou político, não vou deixar de discutir, mais uma vez, o estatuto do menor.

Por exemplo, sou a favor de baixar a maioridade penal, drasticamente, como acontece no Reino Unido, no Canadá, na Austrália, na Índia, nos Estados Unidos etc. --sendo que, na maioria desses lugares, o juiz tem a autonomia para decidir por qual crime um menor de 12 ou dez anos será, eventualmente, julgado como adulto.

Hélio Schwartsman (na página 2 da Folha de sexta passada) aconselhou prudência: seria melhor não "legislar sob forte impacto emocional" e, sobretudo agora, confiar apenas nas "considerações racionais". Ele quase me convenceu, mas...

1) Penso isso há muito tempo.

2) Se deixássemos de agir sob impacto emocional, nunca nada mudaria. Por exemplo, o conselho de esperar para que as emoções esfriem é o argumento dos fabricantes de armas a cada vez que, nos EUA, um exterminador invade uma escola e o Congresso propõe leis de controle das armas. Os fabricantes de armas querem que esperemos para quê? Pois é, para que a gente se esqueça e se desmobilize.

3) Conheço só uma consideração racional a favor da maioridade penal aos 18 anos, e ela não é boa: o córtex pré-frontal (zona do cérebro que controla os impulsos) não está totalmente desenvolvido na infância e na adolescência.
Tudo bem, se aceitarmos essa consideração, deveríamos aumentar seriamente a maioridade penal, pois o córtex pré-frontal se desenvolve até os 25 anos ou além. Além disso, deveríamos julgar como menores todos os adultos impulsivos, que nunca desenvolveram um córtex pré-frontal "satisfatório".

4) As outras "considerações racionais" (que deveriam prevalecer sobre o impacto das emoções) são apenas disfarces de emoções especificamente modernas que, à força de serem compartilhadas, se tornaram chavões ideológicos.

Três deles são corolários de nossa "infantolatria", ou seja, da paixão narcisista que nos faz venerar crianças e jovens porque, graças a eles, esperamos continuar presentes no mundo depois de nossa morte.

Primeiro, queremos que as crianças nos apareçam como querubins felizes como nós nunca fomos e nunca seremos. Por isso, preferimos imaginar que os jovens sejam naturalmente bons. Quando eles forem maus, atribuímos a culpa à sociedade e a nós mesmos. Portanto, não podemos puni-los, mas devemos, isso sim, nos punir.

Tendo a pensar o contrário: as crianças podem ser simpáticas, mas são más (briguentas, possessivas, invejosas, mentirosas, ingratas etc.); às vezes, elas melhoram crescendo, ou seja, a cultura pode civilizá-las (ou piorá-las, claro).
Segundo, adoramos acreditar que sempre podemos mudar (para melhor, claro): apostamos que a liberdade do indivíduo permita qualquer reviravolta -até a salvação eterna pelo arrependimento na hora da morte. A possibilidade de os criminosos (ainda mais jovens) se redimirem confirma nossa crença querida.

Terceiro, acreditamos também na fábula da reciprocidade amorosa: quem ama será amado. Se forem bem tratados e se sentirem amados e respeitados, os jovens se emendarão. É só confiar neles, deixá-los impunes e lhes oferecer castiçais de prata, como o padre que presenteia Jean Valjean.

Meus amigos, "Les Misérables" é lindo e comovedor, mas é um romance, ok? Na outra noite, no bairro do Belém, teria sido melhor que aparecesse Javert.

Contardo Calligaris
Fonte: Site Jornal Folha de São Paulo


Irresponsabilidade

A coluna da semana passada tratava da maioridade penal. Eu disse que sou a favor de considerar que, nos crimes mais graves (sobretudo contra a pessoa), os jovens sejam responsáveis pelos seus atos.

A partir de que idade? Talvez um juiz ou uma corte especial possam decidir, em cada circunstância, quando um jovem deve ser julgado como adulto ou não.

A coluna suscitou um grande número de comentários, pelos quais agradeço e aos quais não terei como responder individualmente. Tento resumir algumas objeções, organizando-as em quatro eixos:

1) A redução da maioridade penal não vai resolver o problema da violência.
Concordo: em geral, a severidade das penas não produz o efeito mágico de estancar a violência e o crime. Em compensação, a impunidade, ela sim, autoriza o crime e seu crescimento. Mas tanto faz: o que importa é que a violência criminosa baixa quando sobem não tanto as penas quanto a inclusão social e o sentimento de pertencermos todos a uma mesma comunidade de destino.

Desse ponto de vista, no máximo, a redução da maioridade penal faria que menos adolescentes fossem arregimentados pelo tráfico --mas nem isso é uma certeza.

2) Então, para que serve a proposta de reduzir a maioridade penal?
A Justiça e o sistema penitenciário sonham em amedrontar e dissuadir do crime. Também eles sonham com a reabilitação dos criminosos condenados. Agora, mais prosaicamente, eles têm a tarefa (menos gloriosa) de punir os criminosos de forma que a sociedade se sinta vingada e que, portanto, as vítimas não inaugurem ciclos de vendetas privadas.

A questão da maioridade penal se coloca relativamente a essa última tarefa da Justiça: podemos e devemos punir os jovens da mesma forma que os adultos?

3) Sobretudo, no caso dos jovens, não deveríamos querer que eles sejam reabilitados em vez de punidos? Para que encarcerar os jovens se sabemos que a detenção será uma escola do crime e não um lugar onde seria preparada sua reinserção social?

O sistema penitenciário moderno é paradoxal: nele, tanto para os jovens quanto para os adultos, a vontade de punir coexiste e rivaliza com a vontade de reeducar. Esse conflito de intenções talvez não seja uma falha, mas a propriedade essencial do sistema.

Nota: à vista do fracasso crônico de reabilitação e reinserção é possível pensar que a intenção de reeducar seja sobretudo o álibi necessário de uma punição que se envergonha de si mesma. Ou seja, queremos reeducar (e nunca conseguimos) porque nos envergonhamos de estarmos "ainda" punindo os criminosos. Gostaria de ter o tempo de reler "Vigiar e Punir", de Michel Foucault, pensando nisso.

4) A redução da maioridade penal significaria encher as cadeias de crianças pobres.

Em Brasília, 16 anos atrás, cinco jovens de classe média assassinaram barbaramente um índio, colocando fogo em seu corpo. Eles se desculparam dizendo, aliás, que não sabiam que era um índio, achavam que fosse um mendigo.

Graças a seu privilégio social, quatro desses jovens, condenados, cumpriram sua pena estudando e trabalhando fora da prisão. O quinto, que tinha 17 anos na época, ficou três meses num centro de reabilitação e só. Eu acho que ele deveria ter sido julgado como adulto.

Mais uma coisa. A coluna da semana passada queria abordar um problema mais amplo do que a simples maioridade penal. Explico.

Uma das grandes novidades de nossa cultura é que ela promove a obrigação de cada um responder por suas ações. Talvez por isso mesmo, para descansarmos um pouco de tamanho encargo, um dos grandes sonhos contemporâneos seja a irresponsabilidade.

É assim que nos tornamos mestres nas explicações que valem como desculpas.

Os assassinos de Brasília passearam demais pelos shoppings da capital e foram mimados pelos pais, e o assassino de Victor Hugo Deppman talvez tenha crescido em algum tipo de favela. Sempre há um trauma, um abuso passado, que "explica" e que serve para transferir a culpa.

Ao mesmo tempo, somos uma cultura "infantólatra", ou seja, que idealiza e venera as crianças como crianças. Ou seja, amamos vê-las sem nenhum dos pesos que castigam a vida adulta.

No sonho de irresponsabilidade que mencionei antes, esses dois traços de nossa cultura se combinam assim: 1) as crianças são todas querubins irresponsáveis e 2) a história da nossa infância nos torna irresponsáveis quando adultos. Que maravilha.

Contardo Calligaris
Fonte Site: Jornal Folha de São Paulo



sexta-feira, 7 de junho de 2013

Carreira: Um projeto pessoal



Antes de procurar uma vaga de trabalho, é importante saber o que você quer e gosta de fazer. Afinal, como diz a lenda, quando você não sabe para onde que ir, todos os caminhos levam a lugar nenhum.

Hoje a dinâmica do mercado de trabalho é outra, mais rápida, mais inovadora, e com isso a dinâmica da nossa vida também passa a ser diferente. Será que estamos alinhados a esse novo tempo?
Diferentemente da época de nossos pais e, principalmente, nossos avós, onde escolher uma carreira era para sempre, o grande sonho era entrar em uma empresa e lá se aposentar... Isso soa estranho? Parece um sonho louco ou até mesmo triste, monótono? Para eles não foi, naquele momento era esta a dinâmica necessária para um mercado que exigia processos de qualidade e crescimento sólido. Mas esta era a realidade das gerações passadas, hoje o mercado pede inovação, dinamismo, criatividade.
O mundo passa por transformações e o Brasil está em um grande momento de crescimento, com isso as oportunidades para empreender e para escolher a carreira mudaram de perspectiva. Agora é o profissional que define o seu espaço e não mais o mercado ou as empresas. Estamos na era da gestão do conhecimento e da gestão da consciência, somos nós que definimos como seremos felizes em meio a tantas oportunidades.
E como fazer escolhas nessa nova era? O segredo está em olharmos primeiro para dentro de nós e respondermos algumas perguntas. Quem somos? Do que gostamos? O que nos faz realmente feliz? Quais são os meus talentos, minhas competências? A partir dessas respostas já podemos direcionar nossas vidas, nossas carreiras. Após este intenso exercício precisamos olhar para fora, conhecer o mercado de trabalho, suas demandas e saber onde estão as oportunidades que queremos para nossas vidas. O que é preciso estudar, conhecer, quais competências desenvolver? Como me torno um expert naquele assunto? Como vendo minhas habilidades? Como desenvolvo meu trabalho? Como recebo por isso? Quanto recebo por isso?
Olhar para dentro e para fora garante que tomemos as rédeas de nossas vidas, que sejamos líderes das nossas escolhas, que aprendamos com os nossos erros e nos tornemos cada vez mais fortes, seguros. Com isso podemos escolher os lugares que queremos estar, os trabalhos que queremos produzir, o clientes ou empresas pra quem queremos trabalhar. É claro que precisamos de uma longa caminhada, de muito esforço e de muito trabalho, quanto mais maduros e experientes, mais assertivos nos tornamos, mas toda a caminhada precisa de um primeiro passo, e porque não começar com o pé direito?
Por isso identificar, desenvolver e potencializar nossas competências, nos conecta com nossa alma, nos faz sermos exatamente quem somos ou ainda quem queremos ser. E mais do que isso nos torna uma pessoa feliz.
By: Paula Alexandrisky 
Fonte: Site VAGAS.com.br

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Gentileza Masculina ou Machismo Benevolente?




Comportamentos repetidos por várias gerações acabam fazendo parte da cultura. Na maior parte do tempo, envolvidos no automatismo da repetição, não temos tempo para questionar os efeitos que eles causam na construção de nossa subjetividade. O texto a seguir, é um ótimo momento para pensar e questionar o “perfume” romântico da gentileza masculina.



Simpático à causa feminista, aparente modelo de pai e marido, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, viveu seu dia de “brucutu” há algumas semanas ao, por incrível que pareça, elogiar uma mulher. Na posse da nova procuradora-geral Kamala Harris, Obama não resistiu e soltou o galanteio: “É, de longe, a mais bela procuradora-geral”, disse. Harris sorriu lisonjeada, mas o presidente foi pego no laço pelas feministas, que o acusaram de prejudicar a almejada igualdade dos gêneros no trabalho quando destacou um atributo físico da procuradora. Pasmem, senhores, mas o cavalheirismo está deixando de ser unanimidade.

Mais de 50 anos após o início do movimento de liberação feminina e do advento da pílula anticoncepcional, as feministas agora lutam pelo direito de não serem tratadas tão bem assim. Ou, pelo menos, não de uma forma particularmente dirigida ao gênero feminino, o que ocultaria, defendem, uma condição de superioridade de quem a pratica, o homem. Rejeitam o cavalheirismo como uma forma disfarçada, “benevolente”, de machismo, mas sem abrir mão da gentileza no trato. A diferença fundamental estaria em que o homem gentil é gentil com homens e mulheres, e o cavalheiro, apenas com as mulheres. Obama seria capaz de fazer a mesura se fosse um procurador bonitão? Eis a questão.

O termo machismo ou sexismo benevolente foi utilizado pela primeira vez em 1996, pela dupla de psicólogos norte-americanos Peter Glick e Susan Fiske, mas voltou à baila nos últimos anos a partir de novos estudos dedicados inteiramente ao tema surgidos em vários países. Em dois dos trabalhos mais conhecidos, a pesquisadora alemã Julia Becker, da Universidade de Marburg, e sua colega Janet Swim, da Universidade da Pensilvânia, tentam demonstrar como ações masculinas à primeira vista inofensivas, como abrir portas, carregar sacolas ou pagar a conta no restaurante podem esconder a noção subliminar de que a mulher é fraca e incapaz.

Obviamente a reação mais feroz partiu dos homens. Artigos com títulos como “As feministas querem matar o cavalheirismo” pipocaram na internet em diversos idiomas. Até mulheres apareceram fazendo o contraponto, apontando certo exagero na teoria. Em se tratando delas, porém, foi uma crítica conectada com o conservadorismo. O Fórum Independente de Mulheres dos EUA, um grupo anti-feminista, acusou o atual feminismo de ser “misógino” e de querer ridicularizar as mulheres. No Arizona, uma organização conservadora de universitárias chegou a organizar um campeonato de cavalheirismo entre os estudantes, com premiação e tudo. Peter Glick, o autor do estudo original, veio a público para esclarecer que o cavalheirismo não é sempre inapropriado, mas é preciso saber “não cruzar a linha”.

Mas qual é exatamente a linha a ser cruzada? Por que o outrora simpático cavalheirismo seria, no fundo, prejudicial às mulheres? No Brasil, uma das vozes que tem se destacado na oposição ferrenha ao cavalheirismo é a da psicanalista Regina Navarro Lins, autora de artigos em que desanca um suposto excesso de rapapés dos homens no momento de fazer a corte. No recente O cavalheirismo é nocivo às mulheres, Navarro Lins questiona: “Que tipo de homem deseja proteger uma mulher? Certamente não seria um que a vê como uma igual, que a encara como um par. Mas aquele que se sente superior a ela.”

Por proteger, entenda-se oferecer o braço ao cruzar a rua, por exemplo, ou puxar a cadeira para a pretendente em um restaurante.  “Jamais vai passar pela cabeça de um homem que não é machista a ideia de se levantar para puxar a cadeira para uma mulher. Isso não existe”, disse a psicanalista a CartaCapital. “Quem se levanta está ainda submetido a uma mentalidade que acha que a mulher é incapaz. Mesmo que seja inconsciente, está.”

Pode até soar absurdo para os homens, mas o discurso da psicanalista ecoa entre jovens mulheres interessadas em temas feministas. “O cavalheirismo é uma forma de submissão que o patriarcado machista encontrou mais eficaz do que o machismo literal a que a gente está acostumada. O sexismo benevolente é muito mais sutil e cotidiano”, dispara Bianca Andrade, estudante de Psicologia de 22 anos de Natal, Rio Grande do Norte. “Para que abrir uma porta que eu sou capaz de abrir sozinha? É um romantismo falso, relacionado à ideia de que a mulher necessita de um homem para sobreviver.”

“De que adianta ajudar com as compras, se não ajuda a lavar a louça? Abrir a porta mas não fazer a faxina?”, provoca a socióloga Tica Moreno, 29 anos, membro da Marcha Mundial de Mulheres, que alerta para a possibilidade, aventada pelas feministas, de que o cavalheiro seja o outro lado do agressor, assim como seria uma face disfarçada do machismo. “Ser cavalheiro não significa que o cara será gente boa, mesmo porque o cavalheirismo é no espaço público e a violência, no privado.”

A psicóloga alemã Julia Becker reforça a controversa ideia de que o cavalheiro, como o médico e o monstro, pode esconder com amabilidades um alterego tenebroso. “Homens que endossam o sexismo hostil também podem endossar o benevolente. Se uma mulher decide confrontar o machismo, ela provavelmente está sujeita a experimentar o hostil”, defende. Becker enumera outros insuspeitos efeitos adversos do cavalheirismo: prejudica a performance cognitiva feminina; faz a mulher esperar pelo príncipe encantado em vez de perseguir os próprios objetivos; aumenta a crença de que a sociedade é justa; desmotiva as mulheres a se engajarem em ações pela igualdade de gêneros.

“O principal problema do machismo benevolente é que as mulheres são tratadas como criaturas maravilhosas, mas também como incompetentes”, explica a psicóloga. Ela refuta com veemência as acusações de que o feminismo estaria matando o cavalheirismo. “Estes argumentos também são machistas. O romance sem cavalheirismo, que subordina às mulheres ao homem, pode levar a um relacionamento muito mais satisfatório”. Pergunto a Julia se seu marido não reclama de ela rejeitar ser tratada com cavalheirismo, e ela responde: “Atualmente meu marido fica em casa, cuidando das crianças, enquanto eu trabalho.”

Uma das questões que incomodam as feministas é o sexismo benevolente no ambiente de trabalho: aquelas ofertas, “beirando o assédio”, que os homens fazem para ajudar as colegas do sexo feminino (sobretudo as mais atraentes) em tarefas prosaicas, partindo de estereótipos como “elas não sabem lidar com computadores”. O problema, apontam, é que, se as mulheres recusam, são tidas como “frias”, por um lado, embora competentes por outro. Se aceitam a oferta, no entanto, são carimbadas como “afáveis”, porém ineptas. O mesmo não acontece quando é um homem a rejeitar o auxílio.

No cotidiano das relações amorosas, a ação cavalheiresca mais execrada pelas feministas é quando os parceiros sacam a carteira para pagar a conta do restaurante após um jantar romântico, em vez de rachar a despesa, como preferem. Oferecer-se para pagar a conta embutiria certa sensação de superioridade por parte do homem –e por trás da atitude aparentemente inocente de pagar a conta no restaurante estaria o fato incômodo e persistente de que as mulheres ganham menos do que os homens, inclusive quando ocupam as mesmas posições no trabalho.

“Já tive brigas enormes na hora que vem a conta. Para começar, o garçom entrega direto para o homem”, diz Carol Peters, 21 anos, estudante de Letras da USP e integrante do setorial de mulheres do PSOL. “Os homens não entendem porque é importante para a mulher pagar a conta. Se um dia eles pagam, tudo bem, mas quando a gente quer devolver a gentileza, não aceitam. Parece que isso mexe com a virilidade deles. Aliás, essa noção de virilidade, de que o homem tem que ser viril, não é positiva. Deve ser desconstruída também.” Opa.

Nos anos 1990, Camille Paglia comprou briga com o movimento feminista ao defender as diferenças entre os gêneros pronunciando frases como: “O sexo entre os dois sexos é bom porque as mulheres e os homens são diferentes. Nós queremos apenas direitos iguais na sociedade, não queremos que os homens sejam como as mulheres.” Hoje, em dia, porém, o discurso dominante é o da diluição das diferenças até um ponto que, como acredita Regina Navarro Lins, em 30 ou 40 anos toda a humanidade será bissexual. “Masculino e feminino não existem, isso está acabando”, defende. “Essa divisão foi forjada e aprisionou ambos os sexos.”

Os homens, é claro, não concordam nem um pouco. “A resposta a essa postura das mulheres é esse homem mais feminino, mais sensível, mais dependente, que não sei se está agradando por aí”, desdenha o jornalista e músico Marvio dos Anjos, 34 anos, que escreve sobre relacionamentos em um blog. “Há mulheres que acreditam tanto no feminismo que passam a psicanalisar todo e qualquer ato que o homem faça a seu respeito. E aí, tudo que se pretende carinho passa por agressão e dominação. É como dormir com o inimigo”, critica. “Não se pode hiper-racionalizar as relações, isso é negar a própria humanidade.”

Cavalheiro assumido, “nota 9″ na escala segundo ele próprio, do tipo que puxa a cadeira e abre a porta, o escritor Xico Sá, autor de Modos de Macho & Modinhas de Fêmea (Record), acha que pode, sim, existir um verniz de machismo disfarçado aí. “Mas ver como negativos os bons modos é pura paranóia delirante. Hoje em dia vejo os homens, principalmente os mais jovens, tratando as meninas como se fossem ‘manos’. Não tenho o direito de tratar bem uma mulher?”

Xico acha que, de fato, as meninas andam rejeitando o cavalheirismo e que o homem está meio perdido diante das reações delas. Já criaram confusão com ele, por exemplo, ao se antecipar para pagar a conta, mas diz que não vai mudar o estilo por causa disso. “Um cavalheiro convicto não abandona seus gestos, sob pena de sentir-se um tosco, grosseiro.” Pergunto se é gentil com os homens. “Também. O que muda é que no código do nosso faroeste masculino às vezes xingar o amigo com um palavrão, por exemplo, significa um ato de ternura.” E o que você faria se uma mulher dissesse “vai abrir a porta para sua mãe”? “Diria: ‘Perdão pelos bons modos, minha querida, passar bem’”.

“Não é preciso abrir porta para cortejar uma mulher. Não é isso que elas querem, não é o que estão buscando”, defende o escritor Alex Castro, do blog Papo de Homem, autor de vários textos onde condena o cavalheirismo e uma das raras vozes masculinas em favor da tese do “sexismo benevolente”. Segundo Alex, não dá para generalizar o que “as mulheres” querem. “É preciso descobrir o que a mulher que você deseja quer, isso sim”, defende, e diz que é ótimo que o homem esteja confuso. “Ao recusar o cavalheirismo, a mulher está negando uma narrativa milenar, de um grupo dominante. Para os homens, estar em dúvida é um excelente começo. É melhor do que ter certezas.”

Há um aspecto, no entanto, que homens e mulheres parecem ignorar neste debate e que vai além de feminismo e machismo, de gentilezas e cavalheirismos: e se abrir portas, puxar a cadeira e pagar a conta para uma “dama” for apenas algo datado, que se tornou simplesmente cafona?

By: Cynara Menezes

(Reportagem originalmente publicada na revista CartaCapital)