segunda-feira, 27 de junho de 2011

Filhos do Contemporâneo



Até bem pouco tempo atrás o diálogo entre gerações era muito difícil. Educação significava rigidez. Assuntos como a sexualidade passavam longe da mesa de jantar. Pais e filhos viviam em “mundos” diferentes. Sem diálogo e incompreendidos, tudo o que os filhos queriam era sair de casa para buscar sua liberdade e independência, o mais cedo possível.

Hoje a realidade é outra. Pesquisas recentes têm demonstrado que as relações entre pais e filhos mudaram para melhor. A maioria dos jovens gosta da vida familiar, convive bem com o pai e a mãe e não pretende sair de casa tão cedo. Autonomia e liberdade são projetos para um futuro distante. Os jovens pensam até em morar sozinhos um dia, mas só quando estiverem seguros da decisão. Para a maior parte, não vale a pena sacrificar o conforto pela independência.

A principal razão, que mantém os jovens em casa hoje, é o bom relacionamento dentro de casa. A proximidade do dialogo entre pais e filhos têm facilitado até a vida afetiva e sexual da garotada. Uma pesquisa, feita por uma faculdade de São Paulo, mostra que 15% dos pais permitem que as filhas durmam acompanhadas em casa. Entre os rapazes, esse número dobra.

Uma das preocupações que se levanta, nessa nova relação entre pais e filhos, é que ao se tornarem amigos, os pais correm o risco de não mais exercer seu papel, que é orientar.

Na relação pais e filhos é importante para os pais estabelecer limites aos jovens, mesmo que esses limites gerem conflitos. O conflito é importante para o amadurecimento do adolescente. Diante do limite dos pais, ele se sente obrigado a tomar uma decisão. Ou vai contra os pais e segue por sua conta e risco, arcando com as conseqüências, ou acata a determinação. Esse tipo de ponderação é o que leva à maturidade. Para estabelecer seu próprio jeito de viver no mundo, os jovens precisam de alguns princípios básicos, que são adquiridos muitas vezes na base da divergência. Pais de verdade são aqueles que exercem o papel que lhes cabe.




segunda-feira, 20 de junho de 2011

Nós: coabitação e diferença

Alguns casais são como água e óleo. Tão diferentes que é quase impossível acreditar que se mantenham juntos por muito tempo. Por exemplo, ele é do tipo organizado, metódico e conservador. Ela é impulsiva, passional e liberal.

Em casais com essa dinâmica só existe uma fórmula para se manter juntos e com harmonia, o respeito pela diferença. Fora dessa “fórmula” a diferença é percebida como negativa: o outro não é igual a mim, portanto, o outro é inferior, ou menor que eu. Nesta segunda perspectiva, as diferenças se transformam em queixas. Ela compra demais – reclama ele. Ele é um pão duro, só pensa no futuro - responde ela.

Contudo, quando o casal percebe a diferença com respeito e, até mesmo, com interesse, é bem provável que a transforme em uma oportunidade criativa de aprendizado e mudança. Se o outro tem algumas características que me faltam, posso aprender com ele. Posso estabelecer, através da convivência diária, comportamentos que muitas vezes me fazem falta.

Não é fácil mudar, todo mundo sabe disso. Tendemos a ser radicais em nosso modo de ser na vida. Não importa se somos conservadores ou liberais, somos sempre previsíveis. Uma das possibilidades de sair dessa matriz fantasmática, que transforma nossos hábitos diários numa infinita repetição, é o laço amoroso. O atravessamento diário de comportamentos e visões do mundo diferentes acaba, se dermos autorização, nos obrigando a perceber que existem outros pontos de vistas, outras formas de alcançar nossos objetivos.

Mas é importante essa autorização, esse querer olhar para a diferença de forma positiva. Essa é a magia.

No entanto, se você é daquelas pessoas que prefere pagar o preço de ser como é, a ter que fazer alguma mudança no seu modo de ser na vida, ao menos tenha o bom senso de saber que, em algumas ocasiões, a impulsividade é a melhor forma de resolver um problema. Em outras, um bom planejamento é a melhor solução. Saiba dividir com o outro as escolhas do casal.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Anos 60: a revolução sexual


Com o desembarque da pílula anticoncepcional no Brasil, entre os anos 60 e 70, eclodiu a chamada revolução sexual. Livres da sífilis e ainda longe da aids (conforme os estudos de Mary Del Priori em Histórias íntimas – sexualidade e erotismo na história do Brasil), os jovens começaram experimentar de tudo. O ato sexual deixou de servir exclusivamente para a procriação. Abriu-se uma brecha no mandamento divino: doravante, a mulher poderia escolher entre ter ou não ter filhos. Era o fim de intermináveis gravidezes e de problemas que essas traziam.

Introduzida primeiramente nos EUA, a pílula marcou o início da “liberação sexual”. No final dos anos 60 já se via em toda parte slogans sobre “o direito ao prazer”. Agora, podia-se considerar a sexualidade feminina, também, como fonte de deleite, Além de permitir-se escolher o parceiro, “fazer amor” tornou-se uma coisa boa, e não somente uma maneira de fazer crescer a família. A “mulher liberada” optou por viver uma sexualidade plena, como nunca dantes lhe fora facultado.

O surgimento da pílula tornou a mulher livre para escolher sua vida: adquirir estudos superiores ou participar do mercado de trabalho, sem ser interrompida por uma gravidez. Isto é, abriu as portas para o surgimento de uma nova produção de subjetividade feminina que, por efeito, provocou ebulições no machismo masculino estabelecido.

Era o início do fim de amores que tinham que parar no último estágio: “quero casar virgem!”. Deixava-se para trás a “meia-virgem”, aquela na qual as carícias sexuais acabavam “na portinha”. Lia-se Wilhelm Reich, segundo quem o nazismo e o stalinismo teriam nascido da falta de orgasmo. A ideia de que os casais, além de amar, deviam ser sexualmente equilibrados começava a ser discutida por alguns “pra frente”. Era o início do direito ao prazer para todos, sem que as mulheres fossem penalizadas ao manifestar seu interesse por alguém.


segunda-feira, 6 de junho de 2011

Amores intensos


Alguns amores chegam com a intensidade de um furacão. Destroem valores cultivados diariamente com muito sacrifício. Desfazem as certezas adquiridas ao longo do tempo. Misturam nossos sentidos. Criam sensações nunca antes experimentadas.

Tomados pela paixão, perdemos o contato com a realidade. Tudo o que um dia foi sólido, numa fração de segundos, perde a consistência. A única coisa que desejamos é estar nos braços da pessoa amada. Os sentidos se potencializam: o beijo, o abraço, o carinho, o cheiro e o sexo ganham dimensões sublimes.

Segundo diz a lenda de Tristão e Isolda, as grandes paixões duram três anos - esse é o tempo do efeito da porção de amor mágica. Não tenho certeza se esse é o tempo de duração de uma paixão. Talvez algumas durem mais tempo, outras, com certezas, duram menos. Mas não importa o tempo que durem, depois de uma grande paixão nunca mais seremos os mesmos.

Porque é mágico, porque é químico, porque não faz sentido, porque não tem lógica. Seja lá porque razão, ou porque não tem razão, a experiência da paixão é a mais forte e intensa experiência que podemos experimentar. Tão intensa na superfície da pele, quanto nas entranhas mais profundas do ventre.

Para Freud, nunca somos tão egoístas como quando estamos apaixonados. Esse é o perigo, sabemos muito bem disso. As consequências desse arrebatamento, muitas vezes, são trágicas. O impulso vertiginoso da paixão não reconhece leis ou fronteiras. A intensidade das sensações não reconhece a delicadeza da generosidade com os outros. Mesmo quando parece que estamos fora de toda lógica, a economia libidinal continua com sua lógica obstinada: amar alguém demais é amar os outros de menos.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Mudar o que?


Não creio na revolução, mas na transformação revolucinonária do indivíduo. Creio que apenas podemos mudar as coisas individualmente, em torno de nós, e fazer a revolução no nosso próprio cotidiano sem esperar, por exemplo, que o poder de Estado desapareça. Acredito que podemos começar a modificar as coisas nas nossas relações de amor ou amizade com as pessoas com quem trabalhamos e convivemos diariamente.

Michel Onfray