A arte de contar a dor da vida
Barack Obama convida Hollywood a atuar na
redução ao preconceito contra a doença mental
Em 2001, o filme norte-americano Uma
Mente Brilhante retratou a história do genial matemático John Wash, Prêmio
Nobel de Economia em 1994 pelas suas contribuições à Teoria dos Jogos. Ele
sofria de delírios e alucinações decorrentes de um quadro de esquizofrenia. O
filme, dramático e sensível, retrata seus embates com os sintomas decorrentes
da doença e a força do amor de Alicia, ex-aluna e esposa, que lhe possibilita
conjuntamente com a descoberta do diagnóstico e tratamento uma amarração com a
vida.
Seguindo a máxima “acontece na vida, acontece
nos filmes, acontece com você!” o jornal O Globo publicou no último dia
6 de junho a iniciativa do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de
recorrer à indústria cinematográfica de Hollywood, convidando atores e
produtores, para o debate que visa reduzir o preconceito em relação às doenças
mentais. A estratégia inicial é a de levar ao ar, pela televisão, depoimentos
de atores e pessoas públicas que tiveram casos da doença em suas famílias. Numa
segunda fase, com a ajuda de profissionais da área psi, serão retratados nos
filmes, com maior precisão e sem caricaturas, os desafios enfrentados por
pessoas portadoras destas doenças, tentando evitar que descrições confusas
potencializem a discriminação.
Falar nas mídias sobre esquizofrenia, autismo,
depressão grave, bipolaridade e outras doenças mentais pode levar as pessoas a
perceberem a importância de procurar tratamento, além da via medicamentosa, e
desconstruir estigmas construídos culturalmente sobre tais sintomas.
A psicanálise, desde Freud, trabalha com a
linguagem que constitui nossa humanidade. Somos seres da fala e as palavras ao
ressoarem no corpo mostram a impossibilidade de separá-lo do psiquismo. Desta
forma, nomear o que nos acomete, circunscreve o medo errático do desconhecido.
Quando se trata do psiquismo humano é preciso
ser cuidadoso, evitar os padrões do politicamente correto e das tentativas de
estabelecer limites e modelos de normalidade. Na sociedade pós-moderna, resta
muito pouco a “enquadrar”. Os indivíduos são diferentes um a um em seus
acometimentos. Nossas “esquisitices” são uma marca singular e sobre elas
devemos nos responsabilizar.
Em princípio, parece que a campanha, encabeçada
por Obama, para combater o preconceito sobre a doença mental é bem
intencionada. Fica a aposta, que este projeto contemple a liberdade de ser
diferente e o respeito a singularidade e que o mesmo não se transforme em mais
um genérico na expressão do sofrimento subjetivo.
By:
Griseldis Achôa
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