sábado, 29 de junho de 2013

CINEMA COMO ILUSTRAÇÃO



A arte de contar a dor da vida

Barack Obama convida Hollywood a atuar na redução ao preconceito contra a doença mental

 Em 2001, o filme norte-americano Uma Mente Brilhante retratou a história do genial matemático John Wash, Prêmio Nobel de Economia em 1994 pelas suas contribuições à Teoria dos Jogos. Ele sofria de delírios e alucinações decorrentes de um quadro de esquizofrenia. O filme, dramático e sensível, retrata seus embates com os sintomas decorrentes da doença e a força do amor de Alicia, ex-aluna e esposa, que lhe possibilita conjuntamente com a descoberta do diagnóstico e tratamento uma amarração com a vida.

Seguindo a máxima “acontece na vida, acontece nos filmes, acontece com você!” o jornal O Globo publicou no último dia 6 de junho a iniciativa do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de recorrer à indústria cinematográfica de Hollywood, convidando atores e produtores, para o debate que visa reduzir o preconceito em relação às doenças mentais. A estratégia inicial é a de levar ao ar, pela televisão, depoimentos de atores e pessoas públicas que tiveram casos da doença em suas famílias. Numa segunda fase, com a ajuda de profissionais da área psi, serão retratados nos filmes, com maior precisão e sem caricaturas, os desafios enfrentados por pessoas portadoras destas doenças, tentando evitar que descrições confusas potencializem a discriminação.

Falar nas mídias sobre esquizofrenia, autismo, depressão grave, bipolaridade e outras doenças mentais pode levar as pessoas a perceberem a importância de procurar tratamento, além da via medicamentosa, e desconstruir estigmas construídos culturalmente sobre tais sintomas.

A psicanálise, desde Freud, trabalha com a linguagem que constitui nossa humanidade. Somos seres da fala e as palavras ao ressoarem no corpo mostram a impossibilidade de separá-lo do psiquismo. Desta forma, nomear o que nos acomete, circunscreve o medo errático do desconhecido.

Quando se trata do psiquismo humano é preciso ser cuidadoso, evitar os padrões do politicamente correto e das tentativas de estabelecer limites e modelos de normalidade. Na sociedade pós-moderna, resta muito pouco a “enquadrar”. Os indivíduos são diferentes um a um em seus acometimentos. Nossas “esquisitices” são uma marca singular e sobre elas devemos nos responsabilizar.

Em princípio, parece que a campanha, encabeçada por Obama, para combater o preconceito sobre a doença mental é bem intencionada. Fica a aposta, que este projeto contemple a liberdade de ser diferente e o respeito a singularidade e que o mesmo não se transforme em mais um genérico na expressão do sofrimento subjetivo.
By: Griseldis Achôa





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