Freud, no início do século XX, foi muito
criticado por defender a teoria da sexualidade infantil. Hoje, um século
depois, ainda é difícil para a maioria das pessoas aceitarem que a energia
sexual está presente, desde muito cedo, em toda criança. E que a vida sexual do
adulto depende, em grande parte, da maneira como seu corpo foi libidinizado, ou
seja, erotizado na primeira infância. Pois, o que a teoria da sexualidade
infantil freudiana nos ensina é que toda criança saudável tem seu corpo
erotizado pelos carinhos e cuidados maternos. E que corpo erotizado é sinônimo
de corpo vivo e saudável. Capaz de sentir prazer num abraço, num beijo, no
cheiro e olhar daqueles que se ocupam dela.
A vida sexual do adulto, de acordo
com Freud, é um caleidoscópio formado por traços dessa primeira erotização do
corpo, mais as crenças nos discursos sobre a sexualidade de seu tempo e grupo
social, mais as fantasias – conscientes e inconscientes – que cada pessoa
elabora sobre o seu prazer sexual, mais as repressões provocadas pela educação
familiar. Sempre em movimento, sempre capaz de novas articulações, a vida
sexual do adulto tem uma grande plasticidade, embora se utilize dos mesmos
traços psíquicos e emocionais. Ou seja, esses traços psíquicos são como letras
para um escritor, ou linhas para um pintor, que nos diversos momentos da vida e
na relação com os diversos parceiros criam palavras, ou imagens, diferentes.
E assim como o artista passa por
diversas fases: têm períodos muito criativos e outros onde parece que a
criatividade literalmente desapareceu, qualquer ser humano saudável passa por
diferentes fases na sua vida sexual. Em alguns períodos da vida, basta um
olhar, um tom de voz, ou a imagem de um belo corpo para que o nosso corpo pulse
de desejo. Em outros, parece que nosso corpo desligou o mecanismo do erotismo.
Algumas pessoas aceitam essas
diferentes fases como um processo natural. Outras, sempre que a libido diminui,
entram em pânico. Os homens, porque a cobrança social do constante desempenho
sexual ainda é maior para eles, são os que mais entram em pânico. Infelizmente,
o pânico não resolve problema nenhum, ele só aumenta sua dimensão. Uma pessoa
em pânico normalmente paralisa, recusa-se a reconhecer o que a incomoda.
Recusa-se a falar com a parceira sobre o que está acontecendo, ou a procurar a
ajuda de um profissional. Normalmente,
buscam saídas “milagrosas”, aquelas que prometem resolver o problema
imediatamente. O que, às vezes, pode até dar certo, mas pode também não resolver
nada e até agravar a situação. Afinal, o prazer sexual, assim como a criação
artística, é um processo que se alimenta do mundo e, ao
mesmo tempo, é incondicionalmente marcado pela singularidade de cada indivíduo.
Nele, “cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é”.
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