segunda-feira, 19 de março de 2012

Erotismo é Criação



Freud, no início do século XX, foi muito criticado por defender a teoria da sexualidade infantil. Hoje, um século depois, ainda é difícil para a maioria das pessoas aceitarem que a energia sexual está presente, desde muito cedo, em toda criança. E que a vida sexual do adulto depende, em grande parte, da maneira como seu corpo foi libidinizado, ou seja, erotizado na primeira infância. Pois, o que a teoria da sexualidade infantil freudiana nos ensina é que toda criança saudável tem seu corpo erotizado pelos carinhos e cuidados maternos. E que corpo erotizado é sinônimo de corpo vivo e saudável. Capaz de sentir prazer num abraço, num beijo, no cheiro e olhar daqueles que se ocupam dela.

A vida sexual do adulto, de acordo com Freud, é um caleidoscópio formado por traços dessa primeira erotização do corpo, mais as crenças nos discursos sobre a sexualidade de seu tempo e grupo social, mais as fantasias – conscientes e inconscientes – que cada pessoa elabora sobre o seu prazer sexual, mais as repressões provocadas pela educação familiar. Sempre em movimento, sempre capaz de novas articulações, a vida sexual do adulto tem uma grande plasticidade, embora se utilize dos mesmos traços psíquicos e emocionais. Ou seja, esses traços psíquicos são como letras para um escritor, ou linhas para um pintor, que nos diversos momentos da vida e na relação com os diversos parceiros criam palavras, ou imagens, diferentes.

E assim como o artista passa por diversas fases: têm períodos muito criativos e outros onde parece que a criatividade literalmente desapareceu, qualquer ser humano saudável passa por diferentes fases na sua vida sexual. Em alguns períodos da vida, basta um olhar, um tom de voz, ou a imagem de um belo corpo para que o nosso corpo pulse de desejo. Em outros, parece que nosso corpo desligou o mecanismo do erotismo.

Algumas pessoas aceitam essas diferentes fases como um processo natural. Outras, sempre que a libido diminui, entram em pânico. Os homens, porque a cobrança social do constante desempenho sexual ainda é maior para eles, são os que mais entram em pânico. Infelizmente, o pânico não resolve problema nenhum, ele só aumenta sua dimensão. Uma pessoa em pânico normalmente paralisa, recusa-se a reconhecer o que a incomoda. Recusa-se a falar com a parceira sobre o que está acontecendo, ou a procurar a ajuda de um profissional.  Normalmente, buscam saídas “milagrosas”, aquelas que prometem resolver o problema imediatamente. O que, às vezes, pode até dar certo, mas pode também não resolver nada e até agravar a situação. Afinal, o prazer sexual, assim como a criação artística, é um processo que se alimenta do mundo e, ao mesmo tempo, é incondicionalmente marcado pela singularidade de cada indivíduo. Nele, “cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é”.

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