A construção de uma relação amorosa que seja boa e duradora exige um esforço enorme. Requer imaginação, dedicação, tolerância, auto-sacrifício e responsabilidade nas escolhas. O amor é algo que precisa ser renovado a cada dia, a cada hora; constantemente ressuscitado, reafirmado e cuidado. Em resumo: o amor não suporta covardia, nem se desenvolve na estufa do conformismo.
Mas nós não queremos saber disso. Nada queremos saber das exigências do amor. Aprendemos que amar é verbo intransitivo: não requer complemento. Por isso mesmo, não é a toa que certos relacionamentos se transformam, ao longo do tempo, em objeto de queixas constantes. Lembremos que a causa inicial de toda queixa é a preguiça. Amar dá trabalho, uma vez que a cada minuto surge uma demanda nova, um afeto imprevisto, um inesperado que exige correção do caminho.
Quando não é possível desconhecer o incômodo que o outro nos causa ou menosprezar o acontecimento que perturba a inércia de cada um, surge à queixa. A vontade de culpar o outro. Vontade que pode ir aumentando até o ponto em que a pessoa chega a se convencer, paranoicamente, que o amado está contra ela. Que ele não a compreende e que por isso ela é infeliz.
Nesse ponto, a relação entra num impasse. Não há mais diálogo, nem possibilidade de compreensão. As pessoas se sentem sozinhas no relacionamento: “Ele(a) não me escuta, não me entende.” – dizem aos amigos, na esperança que alguém compreenda sua solidão.
Toda queixa tem seu traço narcísico. A energia liberada por ela assume a forma de uma força centrífuga. É um fechamento sobre si mesmo, uma recusa da dificuldade de lidar com a realidade trabalhosa de toda a relação. Diferentemente da reivindicação justa, a queixa não serve para nada. Aliás, é comum o queixoso se valer da nobreza das justas reivindicações sociais para mascarar seu exagerado narcisismo.
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