A correria da vida contemporânea produziu a cultura da multitarefa. Nela as mulheres parecem sair-se muito bem. Pois, segundo o senso comum, uma das características do feminino é essa capacidade de realizar várias tarefas simultaneamente. Assim sendo, as mulheres são as mais adaptadas à rapidez dos fluxos e refluxos da vida atual.
Será que esse “potencial” feminino é um privilégio, ou é, apenas, uma nova forma de operar com o gozo masoquista? Acredito que seria um privilégio se graças a esse potencial, as mulheres tivessem mais tempo para si mesmas. Afinal, reservar um tempo para sair da rotina pesada é tão importante - se não mais - do que estar nela. Organizar nossas vidas em torno do imperativo de não fazer nada, pode ser a abertura que precisamos para descobrir o prazer das coisas simples e sensuais, que se pode ter na vida diária, se simplesmente deixarmos nossos cabelos soltos ao vento.
Por outro lado, acredito que essa cultura é um gozo masoquista, quando observo aquela estranha satisfação, que algumas mulheres demonstram ter, ao confessar o seu apetite de lobo por tarefas torturantes, listas e obrigações irritantes e culpa constante. Para elas, a noção de que todos têm o direito de algumas horas diárias de fecundo ócio é tão estranha que até parece crime contra a humanidade.
Se você é mulher deve concordar comigo que a palavra ócio, hoje em dia, é quase obscena no mundo feminino. Ócio, disse-me uma amiga outro dia, é coisa de adolescente que fica fechado no quarto na frente do computador ou da televisão por horas a fio. Ou seja, ócio é sinônimo de apatia. Esquecemos que existem outros modos de viver o ócio que não tem nada de apático. Ter tempo para curtir uma banheira com água morna e com uma boa ducha para massagear o corpo pode ser o que precisamos para ter um sorriso no rosto e a vontade de um beijo prolongado quando o marido, ou namorado, chegar para o jantar. Jantar que pode ser uma simples omelete, um pedaço de pão e um copo de vinho. Não dá trabalho e é delicioso. Quantas vezes por semana você consegue fazer um programa desses?
É bem provável que as mulheres “multitarefas” do tipo masoquista, nunca encontrem tempo para fazer esse tipo de programa. Sua energia libidinal está toda dirigida para agenda: as dezenas de coisas a fazer, ou por fazer. Sua vida sexual já entrou para o rol das tarefas a serem cumpridas, já perdeu todo encanto e paixão. Afinal, encanto e paixão não se agendam, é preciso ter espaço para desfrutá-las.
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