Minha geração sonhou mudar o mundo. Mergulhados em novos clichês ideológicos – constituídos, principalmente, pelas teorias psicanalítica e marxista - fomos para as ruas exigir a inscrição de novos valores sociais. Lutamos bravamente pelo direito de sonhar com uma sociedade livre dos valores “burgueses”. Questionamos as várias teses da velha ideologia burguesa que afirmava, por exemplo, que a maternidade era um instinto “natural” das mulheres.
Lemos Freud e Marx – este último sempre escondido, seus textos foram proibidos na época da ditadura - acompanhamos, com fé cega, as dezenas de autores, cineasta e analistas sociais que reverberavam a crítica da ideologia burguesa, iniciada no final do século XIX, por esses dois grandes contraventores da ordem estabelecida.
Nosso maior alvo era a família, núcleo fundamental para a disseminação dos valores bolorentos da burguesia. Acreditávamos que a essência das mudanças aconteceria no núcleo familiar. Na busca de novas formas de união, criamos comunidade hippies e anarquistas, aonde a liberdade das relações afetivas ia de encontro aos vínculos, que considerávamos opressores, do casamento burguês oficializado pela igreja católica e respaldado pelo código civil que delegava todos os direitos à representação paterna.
Nossa esperança era a de que as novas gerações – nossos filhos – estariam livres da “opressão” dos valores familiares. E que os grupos sociais que se formariam, na esteira da afirmação das diferenças, como os homossexuais, seriam fundamentais para a invenção de novas formas de prazer. Prazeres que a família burguesa nunca antes sonhara.
Nossos sonhos não se realizaram, mais nossa luta provocou muitas mudanças. Hoje, os valores familiares não são mais aqueles das décadas de 60 e 70, do século passado. A família constituída pelo “pátrio poder” agoniza nos rincões evangelizados dos pequenos grupos. Para o espanto de muita gente da minha geração, os jovens homossexuais exigem o direito de constituir uma família. E, perplexos, constatamos que a exigência deste direito tem um efeito de mudança, no conceito de família, muito maior do que aquele que sonhamos um dia.
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