Como todo comportamento humano, a sexualidade é constituída pelos padrões culturais de um grupo social, num certo período de tempo. Sabemos, por exemplo, das mudanças que a pílula anticoncepcional provocou nos padrões da sexualidade feminina. Antes do advento da pílula, o risco de engravidar era um forte elemento de repressão do desejo erótico. Esse evento, oportunizado pela ciência médica, demonstra que o prazer sexual, na espécie humana, só é possível se incluir a volúpia em corpos libertos das determinações da natureza.
Por estar constituída dentro do discurso, mais do que da natureza, a sexualidade humana, evidentemente, sofre interferências do grau de informação ou desinformação adquirida nas diversas formas de educação deste tema. Desde a repressão mais direta, a que as manifestações da sexualidade são submetidas no campo familiar, ao mergulho nos tabus, preconceitos, medos e superstições dos discursos moralizantes da escola e da igreja; cada sujeito carrega na própria carne as delícias e as dores de seu erotismo.
Sob essa perspectiva, podemos afiançar que padrões econômicos e qualidade de vida também influenciam a satisfação do prazer. Para ter prazer precisamos estar com nossas necessidades básicas razoavelmente atendidas. Períodos muito tensos, ou angustiantes, não propiciam o abandono necessário ao prazer.
A lógica da produtividade, desempenho e eficiência a que somos submetidos diariamente, quando levada para cama gera grandes desastres. Aumenta a “ansiedade de desempenho” entre as pessoas que se julgam liberadas para desfrutar o sexo, e aumenta as probabilidades de fracasso entre os lençóis: não obtenção de ereção e/ou orgasmo. Da mesma forma, o aumento da autovigilância colabora para inibir todos os sentidos possíveis do prazer.
O que nos leva a apostar que a vida sexual insatisfatória, queixa de um grande número de adultos, na maioria dos casos é consequência direta da miséria de sua qualidade de vida. E que tomar consciência dessa realidade é dar início a novo modo de se relacionar com o prazer.
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