domingo, 20 de novembro de 2011

Síndrome de Shrek

Shrek é um ogro feliz. Apaixonou-se pela jovem princesa e foi correspondido. Casou-se com ela, teve três filhos adoráveis e continuou mantendo os laços de amizade com os companheiros de aventuras da época de solteiro. Shrek realizou seu conto de fadas. Conquistou uma vida afetiva sólida, tornou-se um ogro respeitável e nada assustador.

Um belo dia, Shrek se da conta da rotina sem graça que tomou conta de sua vida. Seu dia-a-dia tornou-se uma sucessão de compromissos que precisavam ser cumpridos para manter o bem-estar da família. A vida tinha perdido o encanto, as obrigações roubaram-lhe o brilho da felicidade. Mergulhado no marasmo das repetições cotidianas, passa a encantar-se com as memórias da época em que era um ogro assustador e livre. Lembranças antigas das aventuras que o faziam sentir-se um “ogro de verdade”.

A frustração desperta um sentimento de raiva que o ogro acaba projetando na mulher e nos filhos. Culpa a família pelo seu mal estar e melancolia. Nesse momento, surge um personagem que lhe oferece a oportunidade mágica de fugir do cotidiano por um dia. Claro que a ideia é encantadora. Por um dia poder voltar ao passado, viver sem o peso das obrigações. Sherk não resiste, aceita a proposta, embalado pela perspectiva de recuperar a sua liberdade. Entusiasmado, não percebe o logro da proposta.

Essa sensação de frustração causada pelas memórias de um tempo para sempre perdido, tão bem representada nessa fábula contemporânea, não tem nada de estranho, ou excepcional. Todo ser humano, em algum momento de sua vida, será tomado por ela. Não tem nada haver com a consciência de ter cometido um erro, ou a decepção de descobrir que o amor acabou.

Como Sherk, sentimos que continuamos a amar os nossos parceiros, mas esse amor já não tem mais o brilho que costumava ter. A vida parece ter paralisado. Não conseguimos vislumbrar nenhum sinal de mudança. Surge uma enorme necessidade de partir, dar um tempo, terminar com o comodismo a sair em busca de novos sonhos. É claro que o parceiro, assim como Fiona, não entende nada do que está acontecendo, e por isso sofre. Esse sofrimento nos causa culpa. A culpa aumenta o mal estar.

Na maioria das vezes, largamos tudo. Fazemos as malas e partimos em busca de novas aventuras. Esta decisão, mesmo acompanhada de muito medo, é a mais comum, e, penso, a mais ética com o parceiro. Mesmo que de início lhe cause muita dor. Em muitos casos, assim como na fábula do ogro, depois de certo tempo voltamos a querer conquistar o parceiro abandonado. O amor, antes adormecido, ganha novo brilho.

Outras vezes, fugimos do marasmo pela via da infidelidade. Um olhar de desejo lançado em nossa direção faz surgir à esperança de uma nova felicidade e de novas aventuras. Mas, se o que estamos sentindo é só um “momento sherk”, essa nova aventura vai durar pouco tempo. Ela terá a função de acordar sentimentos adormecidos.

Um comentário:

  1. Gostei muito da sua analogia,faz se necessária para a atualidade.👏👏👏

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