sexta-feira, 26 de julho de 2013

DROGAS ILEGAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS



Drogas no Brasil: uma política à beira do retrocesso


“A política atual fracassou e o que estão fazendo no Brasil é simplesmente dar um passo atrás enquanto todo o mundo está buscando soluções inteligentes”. Foi assim que o ex-presidente da Colômbia, César Gaviria, resumiu as ações do governo brasileiro em relação ao uso de drogas no País.


O tema foi objeto de palestras durante o Congresso Internacional sobre Drogas: Lei, Saúde e Sociedade (CID 2013), que levou 700 de pessoas ao Museu na República, em Brasília, com o objetivo central de repensar o rumo dessa política no Brasil. O evento reuniu representantes do governo, da sociedade civil, de instituições de ensino, estudantes e entidades ligadas ao tema. Diferentes nações, como Portugal e Uruguai, já aprovam reformas legais descriminalizantes em relação ao uso de drogas.


No ano 2000, pesquisa realizada em Portugal mostrou que as drogas simbolizavam o maior problema do país. Em 2001, o governo português ousou, com um sistema comandado pelo Ministério da Saúde, excluindo internações compulsórias e repressão milita do rol dos tratamentos destinados a usuários. Em 2011, a investigação foi repetida e o uso de entorpecentes não constavam sequer na lista dos dez maiores problemas locais.


No Brasil, o cenário é bem diferente. Entre várias medidas, alguns estados, sobretudo São Paulo e Rio de Janeiro, têm implementado uma política de combate ao crack fundada em internações compulsórias e involuntárias, mesmo com posicionamentos contrários de entidades, grupos, movimentos sociais e populares, em todo o Brasil, que ressaltam implicações das medidas do ponto de vista ético, jurídico e político.


Um dos mais respeitados médicos do mundo sobre o tema, o húngaro-canadense Gabor Maté, que participou do Congresso Internacional sobre Drogas, estima que a cada 100 pessoas que experimentam crack, aproximadamente 20 fiquem dependentes. O crack é mais viciante que a maconha (9%) e menos do que o tabaco (32%), a taxa mais alta entre as drogas. A cura, segundo ele, não engloba cadeia, internação forçada ou ampliação das penas para usuários de drogas, e sim algo mais simples, como a solidariedade e a compaixão – ações que as ajudem a encontrar sentido para as próprias vidas. “A dependência não reside na droga – ela reside na alma”, afirmou.


No Brasil, o Projeto de Lei (PL) 7.663/2010, quer alterar os dispositivos da lei sobre drogas. A proposta apresentada pelo PMDB-RS teve o texto-base aprovado pelo plenário da Casa em 22 de maio. Ela segue, agora, para avaliação pelo Senado Federal. O projeto prevê a internação involuntária de dependentes por até 90 dias, solicitada por um familiar ou por servidor público que não seja da área de segurança pública, e aumenta a pena mínima do traficante de cinco para oito anos de cadeia.


O diretor fundador da Drug Policy Alliance (EUA), Ethan Nadelmann, esteve no CID 2013 e se mostrou bastante desanimado com os rumos da política de drogas brasileira. “O Brasil insiste em seguir as pegadas de políticas americanas falidas, encarcerando pessoas nos presídios ou em centros de tratamento compulsório. Não há nenhuma prova de que essa seja uma política eficiente”, disse. “O governo brasileiro, que tenta tanto descriminalizar a pobreza, não leva em conta que não há nada mais eficiente em criminalizá-la do que estes programas”, completou.


O aumento das penas mínimas de cinco para oito anos para traficantes é outro alvo de críticas em relação ao projeto. “É mais do que o tempo previsto para homicídio”, considera o ex-secretário nacional de Justiça e professor da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Abramovay. De acordo com ele, a lei não esclarece o limiar entre usuário e traficante. “Quando colocados na mesma situação, o pobre é traficante e o rico, usuário”, comparou. 


O professor da Universidade de São Paulo (USP), Henrique Carneiro, frisou a falta de amparo científico na discussão em torno da política de drogas. “O PL leva em conta uma espécie de ascensão ao domínio da sociedade brasileira de uma vertente fundamentalista, sem embasamento teórico, que tenta criar um pânico moral, fazendo da palavra droga um espantalho”, destacou.

FONTE: Jornal do Federal - CFP

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