No final de 2012, a Política Nacional de Proteção dos
Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo passou a
considerar, para todos os efeitos legais, o autista como pessoa com
deficiência. Resultado da mobilização social de movimentos e associações de
pais de autistas, tal processo conquistou, em 2013, como um de seus resultados,
a publicação, pelo Ministério da Saúde, das Diretrizes
de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo.
No documento, salienta-se que, para que a atenção integral seja efetiva, as
ações devem estar articuladas entre a rede do Sistema Único de
Saúde, os Serviços de Proteção e Assistência social e os de Educação.
A inclusão no sistema
público de educação, no entanto, é ainda um grande problema. A inclusão da
pessoa com autismo é uma inclusão específica. Pela lei, todas as crianças
matriculadas nas escolas públicas tem o direito à atenção especial. Uma delas é
a de serem acompanhadas por auxiliar em sala de aula: sejam essas crianças
autistas ou tenham outras deficiências comprovadas por laudo médico. Mas na
prática, isso não acontece. As escolas não têm nem sala de aula nem
profissionais preparados para atendê-las em suas necessidades. Professores e
auxiliares se viram sozinhos, sem apoio ou preparação prévia. Frente ao
despreparo das escolas, cabe aos pais a conquista pelos direitos de seus filhos
“especiais”.
Em uma sala de aula, a
criança autista tem que lidar com muitos estímulos visuais, auditivos e
sensoriais que passam despercebidos para os alunos com desenvolvimento
cognitivo “normal”. A adequação da iluminação da sala de aula, uma vez que as
crianças autistas percebem e se incomodam com a luz trêmula das lâmpadas
fluorescentes muitas vezes já velhas e gastas; a necessidade de um ambiente que
não disperse sua atenção, devido à dificuldade de concentração em geral experimentada
por essas crianças; e a redução do barulho em sala de aula, dada a maior
sensibilidade auditiva.
Para as crianças com
transtorno autista, tais estímulos incomodam, agridem e representam um grande
desafio. Também apresentam necessidades especiais em relação à coordenação
motora fina para o aprendizado da escrita.
Na maioria das vezes,
conforme nos alertam os pais, o processo educacional não é pensado nesses
termos. Simplesmente não existe uma adaptação até que ela seja exigida pelos
pais.
Para vários estudos
publicados sobre essa Síndrome, os benefícios terapêuticos da inclusão de
crianças autistas nas escolas regulares encontram-se, principalmente, na área
da sociabilização. - Convivendo com outras crianças e sendo incluídas nas salas
normais elas têm que se adaptar às regras, aos combinados, e aprendem a se
comportar de uma forma tradicional. Porém, só há benefício se elas forem
respeitadas em suas particularidades e nunca forçadas a se relacionarem ou se
comportarem como as outras. É preciso entender que seu funcionamento cerebral é
diferente e não forçar, não impor. Elas devem se relacionar com outras crianças
“quando” e “se” quiserem, pois não têm a mesma vontade ou necessidade dessa
relação.
Mas, alertam também
esses estudos, a inclusão pode não ser o melhor caminho em casos mais graves,
em que a criança não fala, não escreve e não se comunica por meio de figuras ou
outros modos possíveis de serem utilizados em sala de aula. É importante que os
pais entendam que, neste caso, a criança pode ser discriminada muito mais do
que aceita e ela sofre com isso.
Para que a política de
inclusão alcance os resultados desejado, é urgente preparar as escolas e
capacitar professores e equipes técnicas. Se o aluno for aceito na escola e não
receber a educação dada aos outros, a inclusão é falsa. Alunos mais comprometidos
que são separados e enviados a salas de recursos ou retirados das salas de aula
por incomodarem os outros – ou se incomodarem com os outros – não estarão
recebendo o que foram buscar na escola. É preciso conscientização e informação,
educar professores e comunidade a respeito das características e
particularidades dos alunos autistas.
É necessário que a
escola esteja realmente preparada para que a inclusão gere os efeitos positivos
desejados.
Maria Holthausen
FONTE:
BLOG EDUCAÇÃO
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