domingo, 21 de julho de 2013

AUTISMO: EDUCAÇÃO PELA PEDRA?



No final de 2012, a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo passou a considerar, para todos os efeitos legais, o autista como pessoa com deficiência. Resultado da mobilização social de movimentos e associações de pais de autistas, tal processo conquistou, em 2013, como um de seus resultados, a publicação, pelo Ministério da Saúde, das Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo. No documento, salienta-se que, para que a atenção integral seja efetiva, as ações devem estar articuladas entre a rede do Sistema Único de Saúde, os Serviços de Proteção e Assistência social e os de Educação.

A inclusão no sistema público de educação, no entanto, é ainda um grande problema. A inclusão da pessoa com autismo é uma inclusão específica. Pela lei, todas as crianças matriculadas nas escolas públicas tem o direito à atenção especial. Uma delas é a de serem acompanhadas por auxiliar em sala de aula: sejam essas crianças autistas ou tenham outras deficiências comprovadas por laudo médico. Mas na prática, isso não acontece. As escolas não têm nem sala de aula nem profissionais preparados para atendê-las em suas necessidades. Professores e auxiliares se viram sozinhos, sem apoio ou preparação prévia. Frente ao despreparo das escolas, cabe aos pais a conquista pelos direitos de seus filhos “especiais”.

Em uma sala de aula, a criança autista tem que lidar com muitos estímulos visuais, auditivos e sensoriais que passam despercebidos para os alunos com desenvolvimento cognitivo “normal”. A adequação da iluminação da sala de aula, uma vez que as crianças autistas percebem e se incomodam com a luz trêmula das lâmpadas fluorescentes muitas vezes já velhas e gastas; a necessidade de um ambiente que não disperse sua atenção, devido à dificuldade de concentração em geral experimentada por essas crianças; e a redução do barulho em sala de aula, dada a maior sensibilidade auditiva.

Para as crianças com transtorno autista, tais estímulos incomodam, agridem e representam um grande desafio. Também apresentam necessidades especiais em relação à coordenação motora fina para o aprendizado da escrita.

Na maioria das vezes, conforme nos alertam os pais, o processo educacional não é pensado nesses termos. Simplesmente não existe uma adaptação até que ela seja exigida pelos pais.

Para vários estudos publicados sobre essa Síndrome, os benefícios terapêuticos da inclusão de crianças autistas nas escolas regulares encontram-se, principalmente, na área da sociabilização. - Convivendo com outras crianças e sendo incluídas nas salas normais elas têm que se adaptar às regras, aos combinados, e aprendem a se comportar de uma forma tradicional. Porém, só há benefício se elas forem respeitadas em suas particularidades e nunca forçadas a se relacionarem ou se comportarem como as outras. É preciso entender que seu funcionamento cerebral é diferente e não forçar, não impor. Elas devem se relacionar com outras crianças “quando” e “se” quiserem, pois não têm a mesma vontade ou necessidade dessa relação.

Mas, alertam também esses estudos, a inclusão pode não ser o melhor caminho em casos mais graves, em que a criança não fala, não escreve e não se comunica por meio de figuras ou outros modos possíveis de serem utilizados em sala de aula. É importante que os pais entendam que, neste caso, a criança pode ser discriminada muito mais do que aceita e ela sofre com isso.

Para que a política de inclusão alcance os resultados desejado, é urgente preparar as escolas e capacitar professores e equipes técnicas. Se o aluno for aceito na escola e não receber a educação dada aos outros, a inclusão é falsa. Alunos mais comprometidos que são separados e enviados a salas de recursos ou retirados das salas de aula por incomodarem os outros – ou se incomodarem com os outros – não estarão recebendo o que foram buscar na escola. É preciso conscientização e informação, educar professores e comunidade a respeito das características e particularidades dos alunos autistas.

É necessário que a escola esteja realmente preparada para que a inclusão gere os efeitos positivos desejados.

Maria Holthausen
FONTE: BLOG EDUCAÇÃO


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