terça-feira, 4 de setembro de 2012

Pragmáticos versos Românticos




Para o escritor irlandês, Oscar Wilde, o mundo está povoado por dois tipos de pessoas. Os cínicos, aqueles que sabem o preço de tudo, mas não conhecem o valor de nada. E os sentimentais, aqueles que reconhecem um valor incomensurável em tudo, mas não sabem o preço de nada.

Abrindo mão da ironia do autor, podemos, também, dividir a espécie humana em duas classes: os pragmáticos e os românticos. Chamaremos de pragmáticos, aquelas pessoas que sabem o preço, por exemplo, da sua casa no mercado imobiliário. Mas, dificilmente conseguem estabelecer um vinculo afetivo com ela. E de românticos, aqueles que estabelecem primeiro um vínculo afetivo com a casa. O valor de mercado, para eles, tem pouca influência na relação afetiva que mantem com a casa.

Sem a carga moral da ironia, podemos supor que essa perspectiva define, apenas, duas maneiras diferentes de se relacionar com o mundo. Os pragmáticos são menos afetivos, mais “pé no chão”. Os românticos são mais afetivos, vivem “nas nuvens”. 

Geralmente, os homens são mais pragmáticos e as mulheres mais românticas. Se a dose do romantismo de um e do pragmatismo do outro é pequena, forma-se uma bela dupla. Ele pode apreciar o modo como ela se relaciona afetivamente com o mundo a sua volta. E ela se sente segura por saber que seu parceiro mantém os pés bem firmes no chão. E no caso de ele ser o mais romântico, mais sonhador. É ela que pode manter os projetos do casal amarado em bases sólidas.

No entanto, quando a lógica matemática domina todos os interesses de um dos parceiros, e a lógica poética domina o comportamento do outro, a convivência diária pode ficar bem complicada. Com visões de mundo tão diferentes, a tendência de conflito, em cada decisão do casal, é muito grande. Geralmente, o pragmático mantém com mão de ferro suas decisões. Dentro da lógica do mercado, suas escolhas sempre serão vistas com mais coerência. O outro, o romântico, será interpretado como muito sonhador. E, portanto, não merece ser levado a sério.

Para que o relacionamento se mantenha, o sonhador se inibe, passa a não expressar mais suas ideias. Abre mão de seus sonhos e de seus desejos. Não porque esses sonhos e desejos não tenham valor, mas porque o seu parceiro só sabe ver preços, não sabe dar valor.
 
Maria Holthausen

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