segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A ordem é inventar




Durante um longo tempo, os estudos de gênero foram realizados quase que exclusivamente por pesquisadoras feministas, passando, nos últimos anos, a despertar o interesse de pesquisadores não militantes como antropólogos, sociólogos e historiadores renomados.

Por consequência, as questões se diversificaram e as perspectivas de observação e pesquisa se multiplicaram, transformando os estudos de gênero num consistente campo de produção de saber.  Advém dessa área de pesquisa a constatação de que o modelo patriarcal do “homem” e da “mulher”, já não sustenta as novas identidades. Na sociedade contemporânea, dizem esses pesquisadores, não existe a possibilidade de eleger um único modelo que sirva como referência para todos.

No campo da feminilidade, acompanhamos, pessoalmente ou através das narrativas históricas, o movimento feminista na luta pela desconstrução dos arquétipos tradicionais da construção do feminino. Nos últimos anos, a mulher mudou. Como disse um amigo outro dia: “Hoje, elas querem tudo. É difícil achar uma mulher que simplesmente queira ser mãe e esposa.”

No campo da masculinidade, o modelo de homem, produzido pela sociedade patriarcal, vem sendo tão questionado que foi obrigado a abrir espaços para outras masculinidades mais flexíveis e plurais. Algo que era visto como natural - “o poder do macho” - passou a ser seriamente problematizado.

A identidade masculina passou de uma inflexibidade poderosa para uma participação interativa flexível. No modelo tradicional, o homem era visto como alguém forte e firme em suas decisões, inflexível em sua vontade pétrea, machista e egoísta. Nesses novos tempos, mais importante que dar ordens é convencer e seduzir; melhor que ser sempre igual, é mostrar-se criativo, respondendo diferentemente, conforme o aspecto de cada circunstância.

Hoje, sem o modelo fixo, que assegure a identidade, alguns homens se sentem mais a vontade para experimentar novas vivências afetivas.  Outros reagem atordoados, procurando novas formas de ser que lhes devolvam a segurança perdida. Para isso, hipertrofiam os traços machistas em academias, fabricam abdomens tanquinhos, ao mesmo tempo em que vão perdendo a vergonha de confessar seu interesse nos melhores cremes, na cirurgia plástica e nas mais fascinantes e eletrizantes combinações de roupa. 

Concluindo. No mundo pós-moderno tornou-se obsoleto o debate maniqueísta: Homem x Mulher.

Maria Holthausen

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