Felicidade e liberdade são valores,
ou estados emocionais, que buscamos alcançar desde muito cedo. Mas, desde o momento
que tomamos consciência que os nossos desejos, necessidades e prazeres são
diferentes dos desejos, necessidades e prazeres dos nossos pais, ou de qualquer
outra pessoa, percebemos, também, que a felicidade e a liberdade só serão
alcançadas a partir de nossas próprias escolhas.
Consequentemente, não é a toa que esses valores são tão difíceis
de alcançar. Fazer as próprias escolhas e responsabilizar-se por elas, assim
como, sustentar os nossos desejos, não é trabalho fácil. Temos que lutar contra
o temor do desafeto e das represálias em geral, ao qual estão sujeitos todos os
indivíduos, que não se comportam conforme os padrões usuais e tidos como
aceitáveis, pela sua família e grupo social. Se os nossos desejos não
correspondem ao desejo do grupo em que estamos inseridos, se não somos tão
convencionais como o esperado, a possibilidade de não ser amado é grande. E, não
ser amado é uma sanção quase insuportável para qualquer ser humano.
Para sermos amados por nosso grupo familiar, teremos de agir de
acordo com seus valores. Porque,
sabemos, cada pessoa toma a si próprio como um modelo de perfeição a ser
proposto especialmente para os filhos. Mesmo que a própria pessoa possa se
sentir brutalmente infeliz e insatisfeita. O egoísmo narcísico sustenta-se na
lógica da repetição do mesmo.
Sair desse impasse, não é uma tarefa fácil. Como ser feliz sabendo
que nossas escolhas não são respeitadas por aqueles que amamos? Como encontrar
forças para ir atrás dos nossos sonhos, quando eles não são compartilhados por
aqueles que esperávamos ser apoiados? O sentimento de solidão e de exclusão,
nesses casos, faz com que muitos optem pelo caminho mais tranquilo. Ou seja,
alienar-se ao desejo do outro.
Seguir por um caminho já traçado, parece ser o mais fácil. Nele
corremos menos riscos. Afinal, ele foi projetado por aqueles que vivem
repetindo que desejam a nossa felicidade “acima de tudo”. Como bons meninos(as) seremos admirados e
invejados pelos nossos pais e nossos pares. Porém, sentiremo-nos profundamente
infelizes e profundamente solitários, apesar de termos feitos todas as
concessões para evitar essa dolorosa sensação de abandono.
Maria Holthausen
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