Acabei de ler um pequeno texto, de
2004, do saudoso Daniel Piza, sobre a elegância. Piza começa o texto afirmando
que, nos tempos atuais, a deselegância está na moda. E, porque a moda é a
deselegância, costumamos menosprezar a elegância como um atributo de
superfície.
Não é nada disso - assegura Piza,
sobre o preconceito contemporâneo desse tão saudável e esquecido modo de
relacionamento social. A elegância é o reconhecimento de que há potenciais
campos de consenso entre os seres humanos e, logo, a forma de busca-los – nem
que seja para descartá-los – tem de ser transparente e proporcional.
A elegância, continua Piza, é um modo de
manter a sobriedade sem cair na frieza; de aceitar a complexidade da realidade,
mas não se conformar com a pequenez; de ser claro, para resistir tantos aos
eufemismos como às hipérboles. É a arte de dizer muito em pouco, de adensar sem
adornar, de simplificar para não banalizar. É ser incisivo, sem ser
inconsequente. É não pendurar no pescoço uma cartaz que diz ¨Olha como sou fashion!¨,
mas também não é ser tão discreto que se fala sozinho.
Esquecidos do valor moral desse modo
de relação social, costumamos associar à elegância ao estar bem vestido ou ao
estar com o corpo “em forma”. Ou seja, associamos elegância a uma imagem e não
a um gesto. O texto de Daniel Piza nos faz redescobrir a
elegância do gesto, do ato, da ação: um modo elegante de se relacionar com o
outro.
Um modo de relacionamento onde, por
exemplo, a sinceridade não seja sinônimo de agressividade ou depreciação do
parceiro. Onde o amor pelo parceiro, ou pelos filhos, não seja sinônimo de
posse. Onde a luta pelo espaço profissional leve em conta a condição humana de
incompletude.
Ser elegante é antes de tudo saber
olhar para o outro com humanidade. E nunca perder a perspectiva que dentro
desse caldo chamado “humanidade”, somos todos iguais, porque somos todos
mortais.
Maria
Holthausen
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