segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A Elegância como Gesto




Acabei de ler um pequeno texto, de 2004, do saudoso Daniel Piza, sobre a elegância. Piza começa o texto afirmando que, nos tempos atuais, a deselegância está na moda. E, porque a moda é a deselegância, costumamos menosprezar a elegância como um atributo de superfície.

Não é nada disso - assegura Piza, sobre o preconceito contemporâneo desse tão saudável e esquecido modo de relacionamento social. A elegância é o reconhecimento de que há potenciais campos de consenso entre os seres humanos e, logo, a forma de busca-los – nem que seja para descartá-los – tem de ser transparente e proporcional.

 A elegância, continua Piza, é um modo de manter a sobriedade sem cair na frieza; de aceitar a complexidade da realidade, mas não se conformar com a pequenez; de ser claro, para resistir tantos aos eufemismos como às hipérboles. É a arte de dizer muito em pouco, de adensar sem adornar, de simplificar para não banalizar. É ser incisivo, sem ser inconsequente. É não pendurar no pescoço uma cartaz que diz ¨Olha como sou fashion!¨, mas também não é ser tão discreto que se fala sozinho.

Esquecidos do valor moral desse modo de relação social, costumamos associar à elegância ao estar bem vestido ou ao estar com o corpo “em forma”. Ou seja, associamos elegância a uma imagem e não a um gesto.   O texto de Daniel Piza nos faz redescobrir a elegância do gesto, do ato, da ação: um modo elegante de se relacionar com o outro.

Um modo de relacionamento onde, por exemplo, a sinceridade não seja sinônimo de agressividade ou depreciação do parceiro. Onde o amor pelo parceiro, ou pelos filhos, não seja sinônimo de posse. Onde a luta pelo espaço profissional leve em conta a condição humana de incompletude.

Ser elegante é antes de tudo saber olhar para o outro com humanidade. E nunca perder a perspectiva que dentro desse caldo chamado “humanidade”, somos todos iguais, porque somos todos mortais.      


Maria Holthausen 

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