Neste mês comemora-se seis anos da Lei Maria da Penha. A lei
que criminalizou a violência contra as mulheres. A promulgação da lei foi importante,
nem tanto pelos seus efeitos legais, mas por seus efeitos psicológicos na
sociedade. Antes dessa lei, percebíamos a violência contra as mulheres como
algo comum entre alguns casais. Era, antes de tudo, um problema do casal. Só
quando essa violência transformava-se em homicídio é que a justiça entrava em
ação.
Sob o efeito da lei, percebe-se que o problema não é do
casal, mas da família. Toda a família sofre as consequências desses atos
agressivos. Os filhos levarão por toda a vida a memória dessa violência. Os
meninos, a partir do exemplo do pai, podem ser tornar adultos violentos. As
meninas, num movimento simbiótico com a mãe, procurarão, mesmo sem ter
consciência dessa procura, maridos agressivos, repetindo a história da mãe.
Ao perceber que a violência ultrapassa as fronteiras do
casal, espalhando seus efeitos por toda a família, as mulheres se sentem mais
livres para lutar pelos seus direitos. Antes, era muito comum que a mulher se
sentisse responsável pela violência do companheiro. Se ela apanhava era porque,
de algum modo, merecia apanhar. Essa culpa causava muita vergonha e ela tinha grande
dificuldade em buscar ajuda.
Buscar ajuda não é só ir a uma delegacia fazer um BO. A
justiça inibe a violência, mas não resolve a gênese desse comportamento.
Comportamentos agressivos são construídos ao longo de uma vida, e não serão
resolvidos através da punição judicial. Homens violentos precisam de tratamento
psicológico, tanto quanto uma pessoa viciada em droga.
Por isso, é preciso que as mulheres, parceiras da violência,
tenham consciência que a justiça vai ajuda-las no momento de crise. Mas a
solução do problema virá através de um trabalho terapêutico. Esse processo pode
começar com uma terapia de casal. O terapeuta irá escutar a dinâmica da
violência no casal e poderá intervir no sentido de desconstruir essa dinâmica.
A terapia, de casal ou individual, é um processo bem menos
doloroso que a prisão. E que, por certo, trará benefícios bem mais profundos
para todos os envolvidos.
Maria
Holthausen
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