terça-feira, 14 de agosto de 2012

Lei Maria da Penha



Neste mês comemora-se seis anos da Lei Maria da Penha. A lei que criminalizou a violência contra as mulheres. A promulgação da lei foi importante, nem tanto pelos seus efeitos legais, mas por seus efeitos psicológicos na sociedade. Antes dessa lei, percebíamos a violência contra as mulheres como algo comum entre alguns casais. Era, antes de tudo, um problema do casal. Só quando essa violência transformava-se em homicídio é que a justiça entrava em ação.

Sob o efeito da lei, percebe-se que o problema não é do casal, mas da família. Toda a família sofre as consequências desses atos agressivos. Os filhos levarão por toda a vida a memória dessa violência. Os meninos, a partir do exemplo do pai, podem ser tornar adultos violentos. As meninas, num movimento simbiótico com a mãe, procurarão, mesmo sem ter consciência dessa procura, maridos agressivos, repetindo a história da mãe.

Ao perceber que a violência ultrapassa as fronteiras do casal, espalhando seus efeitos por toda a família, as mulheres se sentem mais livres para lutar pelos seus direitos. Antes, era muito comum que a mulher se sentisse responsável pela violência do companheiro. Se ela apanhava era porque, de algum modo, merecia apanhar. Essa culpa causava muita vergonha e ela tinha grande dificuldade em buscar ajuda.

Buscar ajuda não é só ir a uma delegacia fazer um BO. A justiça inibe a violência, mas não resolve a gênese desse comportamento. Comportamentos agressivos são construídos ao longo de uma vida, e não serão resolvidos através da punição judicial. Homens violentos precisam de tratamento psicológico, tanto quanto uma pessoa viciada em droga. 

Por isso, é preciso que as mulheres, parceiras da violência, tenham consciência que a justiça vai ajuda-las no momento de crise. Mas a solução do problema virá através de um trabalho terapêutico. Esse processo pode começar com uma terapia de casal. O terapeuta irá escutar a dinâmica da violência no casal e poderá intervir no sentido de desconstruir essa dinâmica.

A terapia, de casal ou individual, é um processo bem menos doloroso que a prisão. E que, por certo, trará benefícios bem mais profundos para todos os envolvidos.
 
Maria Holthausen

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