É comum ouvir os maridos reclamarem
da falta de desejo sexual de suas esposas. Penso que, para alguns homens, essa
queixa é uma estratégia para manter a fantasia fálica. Ele atribui à esposa a
responsabilidade pelos fracassos de seu próprio desejo. Como a culpa é dela,
ele pode continuar pensando que ainda possui o mesmo vigor e desejo da
juventude. Um pequeno engodo que faz muito bem ao narcisismo masculino.
Contudo, na maioria dos casos, essa
queixa expressa as diferentes trilhas percorridas pela libido masculina e
feminina depois do casamento. Para o homem, o desejo tem o direito de continuar
livre, leve e solto depois da troca de alianças. Ele pode continuar desejando,
seduzindo e fantasiando com outras mulheres. Mesmo quando ele é fiel, quando esses
comportamentos são usados, apenas, para manter as fantasias libidinais que
sustentam o desejo.
Para um grande número de mulheres, a
libido, depois do casamento, percorre um caminho muito mais árido. A sociedade
cobra delas, assim como elas cobram de si mesmas, que todas as suas fantasias
eróticas tenham como personagem central o marido. É muito difícil encontrar
numa roda de amigos, uma mulher casada fazendo jogos de sedução com os
parceiros que a rodeiam.
Essa trilha de mão única, que
percorre a libido feminina depois do casamento, pode ser algo que o homem espera
que aconteça. Mas nem sempre ele sabe o
que fazer com isso.
Por ter menos fantasias eróticas, a
mulher necessita de mais contato físico para se sentir erotizada. Ela precisa
ser seduzida com olhares, carinhos, beijos e palavras românticas. Necessidades
que os homens teimam em não reconhecer. Afinal, isso dá trabalho, exige tempo
de dedicação e coragem para mudar certas atitudes que não correspondem às
expectativas da parceira.
Acredito que para muitos casais, a
consciência dessa diferença e a mudança de atitude masculina resolveriam grande
parte das queixas. Mas, para eles, é bem mais fácil continuar com o mesmo
padrão de comportamento e, depois, reclamar da falta da libido feminina. Ou
pior, dizer que é ela – a esposa – que tem problemas com a sua sexualidade.
Culpa que muitas mulheres carregam a vida toda. Principalmente aquelas que
tiveram poucas experiências sexuais antes do casamento.
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