sexta-feira, 20 de julho de 2012

Amamos o que Criamos




Temos usado a expressão “Zona de Conforto” como um conceito valise. Isto é, um tipo de conceito que empregamos nas mais diversas análises comportamentais. Fala-se em zona de conforto profissional, afetiva, intelectual e assim por diante. Sempre que queremos discorrer sobre o comodismo, a falta de iniciativa, o medo de trilhar novos caminhos e o medo de fazer novas escolhas; falamos da dificuldade de sair de uma Zona de Conforto.

Embora seja um perigo usar o mesmo conceito para fazer análise de situações tão diferentes, a noção de “Zona de Conforto” forma uma imagem tão interessante e esclarecedora, que é difícil fugir dela. Por isso, vou usar esse conceito como ponto de partida de uma situação comum aos relacionamentos. Qual seja: a dificuldade para desconstruir a idealização que fizemos da pessoa amada.

A paixão, como qualquer outro sentimento intenso, gera medo. Temos medo do ardor de nosso afeto por uma pessoa que acaba de entrar na nossa vida. Uma pessoa que, até há pouco tempo, era um ilustre desconhecido. Para nos protegermos do medo, começamos a criar uma série de idealizações sobre aquela pessoa. Essas idealizações tem o poder de criar um novo personagem. É como se criássemos um avatar. Não amamos o Pedro, a Maria, o Carlos ou a Matilde; amamos um avatar idealizado dessas pessoas.

Apaixonamo-nos por um ideal criado por nossas próprias fantasias românticas e eróticas. Essa construção psíquica funciona como uma Zona de Conforto. Já que não temos que olhar para a figura amada, como alguém muito diferente de nós mesmos. Afinal, “narciso acha feio tudo o que não é espelho”. E o amor circula no registro do narcisismo.

Assim, quando olhamos para nosso parceiro, vemos a nós mesmos. Vemos o nosso ideal romântico projetado no outro. Essa projeção, que de início nos protege das dificuldades de viver com um estranho, com a convivência diária, vai entrando em conflito. Aí começam as brigas, as queixas e as insatisfações. – Ele, ou ela, não era aquilo que eu pensei, que eu imaginei um dia. Claro que não era.  Não era, não foi e não será.

A desconstrução desse ideal, por um lado, acaba com nossa Zona de Conforto. O que, na maioria das vezes, gera muita decepção. Mas por outro lado, é a chance de aprender a amar a alguém diferente de nós mesmos. Um amor que se sustenta na diferença, e não no espelhamento.

Dá mais trabalho. Mas é um aprendizado importante e enriquecedor.

Maria Holthausen

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