A grande dificuldade de convivência
entre as pessoas se fundamenta no fato de que o ser humano é um ser social por
natureza e, simultaneamente, um ser egocêntrico. Como seres sociais, temos
muita dificuldade em viver sozinhos, e por sermos egocêntricos somos, ao mesmo
tempo, incapazes de conceber aos nossos semelhantes os mesmos privilégios que
nos concebemos. Portanto, sozinhos não conseguimos viver e, paradoxalmente, com
o outro também é difícil.
O “outro” que é causa da nossa
felicidade é, também, causa de sentimentos difíceis de conviver, como raiva,
frustração e magoa. Mesmos as pessoas que mais amamos não escapam a essa
dificuldade inerente a todos os relacionamentos. Na verdade, aquelas pessoas
que mais amamos são as que nos causam maiores dores. É mais fácil esquecer os
maus tratos de alguém que está fora do nosso círculo afetivo, do que os maus tratos
das pessoas que amamos.
Essa carência afetiva, que sentimos na
convivência daqueles que amamos, é causada pelas grandes expectativas que
colocamos sobre eles. Esperamos que eles estejam sempre prontos a nos ajudar,
dar apoio e nos fazer felizes. Nosso egocentrismo nos leva a pensar que o outro
é responsável pela nossa felicidade. E que essa responsabilidade deveria ser
maior que os seus próprios desejos e interesses. Aqueles que amamos tem o dever
de nos amar mais do que a si próprios. De colocar nossos desejos e vontades
acima de seus próprios.
Embora seja essa a mais profunda das
nossas fantasias egocêntrica, ela pouca vezes se realiza. Afinal, nossos
queridos – pai, mãe, marido, mulher, irmãos e amigos -, também são
egocêntricos. Eles também esperam que coloquemos seus desejos antes do nosso: que
nos sacrifiquemos por eles. Coisa que nem sempre estamos dispostos a fazer. O
que é muito saudável para o nosso ego. Afinal, qualquer relacionamento que
exige grandes e contínuos sacrifícios acaba ficando tão pesado que deixa de
valer a pena.
O que precisamos para mantermos bons
relacionamentos, ou para parar de sofrer tanto dentro dos relacionamentos, é
admitir que essa grande fantasia de que os outros são responsáveis pela nossa
felicidade, é apenas uma fantasia egocêntrica. Que o ego tem essa estranha
mania de se sentir o centro do mundo, e esquece que o mundo tem vários centros.
Às vezes, estamos no centro das atenções dos outros, isso nos causa grande
prazer. Mas, a maioria das vezes, somos apenas uma estrelinha no universo de
milhares de estrelas egocêntricas, e temos que aprender a
viver com isso.
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