domingo, 6 de maio de 2012

Os paradoxos da Convivência


A grande dificuldade de convivência entre as pessoas se fundamenta no fato de que o ser humano é um ser social por natureza e, simultaneamente, um ser egocêntrico. Como seres sociais, temos muita dificuldade em viver sozinhos, e por sermos egocêntricos somos, ao mesmo tempo, incapazes de conceber aos nossos semelhantes os mesmos privilégios que nos concebemos. Portanto, sozinhos não conseguimos viver e, paradoxalmente, com o outro também é difícil.
O “outro” que é causa da nossa felicidade é, também, causa de sentimentos difíceis de conviver, como raiva, frustração e magoa. Mesmos as pessoas que mais amamos não escapam a essa dificuldade inerente a todos os relacionamentos. Na verdade, aquelas pessoas que mais amamos são as que nos causam maiores dores. É mais fácil esquecer os maus tratos de alguém que está fora do nosso círculo afetivo, do que os maus tratos das pessoas que amamos.
Essa carência afetiva, que sentimos na convivência daqueles que amamos, é causada pelas grandes expectativas que colocamos sobre eles. Esperamos que eles estejam sempre prontos a nos ajudar, dar apoio e nos fazer felizes. Nosso egocentrismo nos leva a pensar que o outro é responsável pela nossa felicidade. E que essa responsabilidade deveria ser maior que os seus próprios desejos e interesses. Aqueles que amamos tem o dever de nos amar mais do que a si próprios. De colocar nossos desejos e vontades acima de seus próprios.
Embora seja essa a mais profunda das nossas fantasias egocêntrica, ela pouca vezes se realiza. Afinal, nossos queridos – pai, mãe, marido, mulher, irmãos e amigos -, também são egocêntricos. Eles também esperam que coloquemos seus desejos antes do nosso: que nos sacrifiquemos por eles. Coisa que nem sempre estamos dispostos a fazer. O que é muito saudável para o nosso ego. Afinal, qualquer relacionamento que exige grandes e contínuos sacrifícios acaba ficando tão pesado que deixa de valer a pena. 
O que precisamos para mantermos bons relacionamentos, ou para parar de sofrer tanto dentro dos relacionamentos, é admitir que essa grande fantasia de que os outros são responsáveis pela nossa felicidade, é apenas uma fantasia egocêntrica. Que o ego tem essa estranha mania de se sentir o centro do mundo, e esquece que o mundo tem vários centros. Às vezes, estamos no centro das atenções dos outros, isso nos causa grande prazer. Mas, a maioria das vezes, somos apenas uma estrelinha no universo de milhares de estrelas egocêntricas, e temos que aprender a viver com isso.

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