Por: Maria Rita Khel - Psicanalista
O machismo, o que é? É a
masculinidade acuada. Na falta de entender o que é ser um homem e qual a
diferença fundamental que permite que um homem situe seu desejo em relação a
uma mulher, o macho acuado interpreta o enigma da diferença entre os sexos como
uma desigualdade de valor. Segundo a lógica da masculinidade acuada, do homem
inseguro diante do enigma da diferença sexual, as mulheres não seriam
diferentes dos homens – seriam inferiores. A prova disso – como são resistentes
à evolução dos costumes as teorias sexuais infantis! – é que lhes falta alguma
coisa no corpo, bem onde, nos homens, o falo se evidencia.
Isto se “aprende” em casa, isto é: na passagem pelo complexo de Édipo. A estratégia machista do menino se torna ainda mais consistente se a fantasia da inferioridade feminina também funcionar na relação entre o pai e a mãe.
A escola talvez seja o espaço privilegiado, hoje, do “politicamente correto”. Não sei se a escola, enquanto instituição, reproduz os pressupostos da superioridade masculina. Mas infelizmente (ou por isso mesmo?) não é a escola que socializa nossas crianças. Antes dela, está a televisão. E dentre a aparente variedade de mensagens veiculadas pela televisão, a hegemonia é da publicidade. A publicidade representa, ainda que não tenha esta intenção, a segunda escola do sexismo contemporâneo. É na publicidade que as crianças, meninos e meninas, “aprendem” a equivalência entre os corpos femininos e as mercadorias. O corpo da mulher serve para agregar valor a todos os objetos em oferta no mercado. Uma mulher vale uma cerveja; vale um cartão de crédito; vale um automóvel; vale um analgésico; um provedor da internet; uma marca de tintas; um banco.
Dizer que a publicidade ensina que o valor das pessoas se mede pelo que elas podem
comprar já é um truísmo. Só que as mulheres, ou melhor, os belos corpos das
belas mulheres, já não se servem das mercadorias, mas servem a elas. Há
exceções. Algumas valem mais do que o produto que anunciam. Não necessariamente
as mais bonitas. Nem as mais talentosas: as mais caras. Uma Daniela, uma Gisele
– estas não se vendem a qualquer um. Diante dos cifrões que reluzem no sorriso
delas o macho comum se curva, inferiorizado. E vai descontar nas outras – essas
rampeiras baratas! – sua nova humilhação.
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