terça-feira, 22 de maio de 2012

A Busca De Um Ideal Materno


“Você é mãe suficiente?” Com essa questão, e uma imagem no mínimo incomum aos padrões ocidentais, a revista americana Time levanta uma polêmica que há muito tempo foi esquecida. O tema, pivô da polêmica, continua sendo as diretrizes, impostas pela conclusão de experimentos científicos, que pretende definir os padrões de comportamento da “mãe ideal”.

Partindo de pesquisas que comprovam a importância do aleitamento materno na constituição do desenvolvimento físico da criança, a revista recupera a antiga teoria attachment parenting, que nos anos 80 causou muito impacto, e discussões acirradas, na área da psicologia infantil. Confesso que sou bastante cética, e questiono a confiabilidade de pesquisas que parecem se esforçar para encontrar provas a favor de uma conclusão determinada.

Esse ceticismo é consequência de anos de trabalho no consultório. Na escuta de tantas e variadas histórias, aprendi que somente no campo da ética podemos tentar definir regras e arranjos sociais que mais conduzem ao florescimento humano. Embora seja mais fácil acreditar em mudanças comportamentais. 

Amamentar o filho por três ou cinco anos, pode fazer bem ao desenvolvimento físico do bebê. Não vou questionar essa conclusão. O que questiono é o suposto benefício psicológico desse ato. Será que uma mãe que não consegue amamentar o seu bebê pode ser considerada uma péssima mãe? Quantas mães não puderam amamentar nem mesmo por um mês? Quantas mães amorosas, com um desejo sincero de amamentar por meses o bebê, já receberam a indicação de pediatras para iniciar, logo nos primeiros meses, uma alimentação suplementar?

Pela importância da singularidade de cada história, preocupa-me as generalizações. Mães são seres capazes de absorver muita culpa. A maioria das mulheres deseja sinceramente dar o melhor de si quando assumem a função da maternidade. Um desejo nada fácil de ser realizado. Daí advém as mais variadas culpas, e a sensação de estar sempre em falta.

É bem provável que uma mãe feliz e responsável por suas funções faça mais bem ao filho, do que uma mãe amamentadora. Nutrir é uma função materna importante, mas não é a única.
 

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