segunda-feira, 2 de maio de 2011

“Chega um tempo em que não se diz mais: meu amor”



Consideramos que as pessoas se unem por amor e se separam por ódio. Mas nem sempre é assim. O ódio, algumas vezes, tem o poder de unir. E quando o ódio une duas pessoas, é essencial permanecer o mais próximo possível porque, de outra forma, há um sério risco de que o outro deixe de botar lenha nessa fogueira.

Quem nunca escutou um conhecido declarar solenemente: Nossa vida é um inferno, a gente não se entende, mas ficamos juntos porque nos amamos. Será que isso é amor? O psicanalista francês, Jacques Lacan, criou uma palavra para designar esse tipo de relação afetiva: ele chamou de “amódio”. Nela, o casal ama o ódio que os une.

Talvez, mais grave ainda, sejam os casos de união pelo ódio nos casais que se separam judicialmente. Na maioria das vezes, naqueles casais em que um dos parceiros ficou muito ressentido pela escolha do outro. Lembramos que ressentir-se significa atribuir ao outro a responsabilidade pelo nosso sofrimento. Um outro a quem designamos, em um momento anterior, o poder de decidir por nós, de modo a poder culpá-lo de todos os fracassos que possam ocorrer no futuro.

Esses casais, embora separados, encontram mil desculpas para continuar morando muito perto um do outro, ou seja, não se separam. Não dividem mais a mesma cama, nem o mesmo tempo, mas estão próximos o suficiente para que um não permita que o outro viva em paz. Não quero dizer que toda separação de corpos exija uma separação geográfica. Quando a decisão da separação é uma responsabilidade assumida pelos dois, a dor também é dividida igualmente: ninguém se sente vítima. Neste caso, o casal vai se afastando conforme vai reconstruindo sua vida.

Porém, quando a separação é considerada uma traição, seja ela real ou ilusória, aquele que se sente ressentido não pode permitir que o outro seja feliz Aí, nesses casos, a vingança se torna um projeto de vida. Por não poder perdoar a dor que o outro me causou, vou viver a minha vida com um único objetivo: causar a dor no meu algoz. As conseqüências dessa escolha são sempre desastrosas. Em primeiro lugar, porque dificilmente é uma escolha consciente. Dificilmente a pessoa ressentida assume o seu desejo de vingança. Se assumisse, provavelmente, depois de alcançado o objetivo seguiria com a sua vida tendo que se responsabilizar por seus atos. Em segundo lugar, quando têm filhos, colocam os filhos no meio do fogo cruzado, causando-lhes muitos sofrimentos. E, finalmente, porque acabam com qualquer chance de construir uma vida melhor, mais saudável e, por que não, mais feliz.

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