segunda-feira, 23 de maio de 2011

Filhos programados para o sucesso

Freud dizia que não dava palpites no tema da educação infantil, porque sabia que o desejo dos pais é que cria as regras da educação em cada família. Portanto, para Freud, não a regras que possam ser universalizadas quando se trata de educação. O que pode prevalecer é o bom senso e o respeito ao outro. No entanto, é assustador acompanhar pela mídia o sacrifício que alguns pais impõem a seus filhos em nome de uma “boa educação”.

O aumento das expectativas dos pais em relação ao sucesso dos filhos tornou-se uma sobrecarga para as crianças. O exemplo mais conhecido desse excesso de expectativa é o de Suri Cruise, filha dos atores Tom Cruises e Katie Holmes, que com apenas três anos de idade fazia aulas de francês, inglês, balé clássico e moderno, piano, violino, ginástica e futebol americano.

Mas se você pensa que esse excesso está relacionado apenas a filhos de pais famosos ou de classe média alta, está muito enganado. Outro dia, li uma reportagem sobre os três filhos da dona de casa Marilene, moradora da favela da Rocinha - RJ: Bruno, de 10 anos, Gabriel, de 14 anos e Thaís de 16; também têm uma rotina puxada. “O mais novo faz parte da ONG Pensando Junto, e concilia a escola à tarde com atividades na parte da manhã. Às segundas feiras, ele faz aula de português; às terças, de maquete; às quartas faz rap; quinta, hip hop e sexta DJ. Ainda faz aulas além desse projeto, à noite, aulas de filmagem e, aos domingos, de futebol”, conta a mãe. Os outros dois não tem agenda menor.

Uma questão que está por trás do nível excessivo de expectativa dos pais é o desejo de que os filhos tenham oportunidade melhores do que eles tiveram. E o controle dessa expectativa não é algo muito fácil. Esse processo se inicia antes mesmos da gestação, já no imaginário dos pais. O nascimento de um filho se dá, primeiro, do ponto de vista psicológico e emocional e, só depois, é que ele nasce biologicamente. Quando um casal decide ter um filho, esse filho já existe no imaginário de cada um dos pais, e essa imagem é baseada no desejo que cada um tem daquele filho. O nome, as roupas, o quarto, todas essas etapas já fazem parte de uma construção de quem, como e o que os pais desejam que essa criança seja.

Portanto, é “normal” que os pais tenham seus projetos e expectativas para o futuro dos filhos. Mas isso não quer dizer que os filhos possam ser tratados como posse dos pais. Os filhos só devem ser encarados como um projeto de vida dos pais se esse projeto for bem mais amplo do que o futuro pessoal da criança. Educar um filho para que ele contribua para a vida ética, para que tenha autonomia, para que aprenda a ter respeito próprio e ao outro, por exemplo, pode, sim, ser um projeto de vida dos pais.

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