Eu-te-amo não tem empregos. Essa palavra, tanto quanto a de uma criança, não está submetida a nenhuma imposição social; pode ser uma palavra sublime, solene, frívola, pode ser uma palavra erótica, pornográfica. É uma palavra que se desloca socialmente.
Eu-te-amo não tem nuances. Dispensa as explicações, as organizações, os graus, os escrúpulos. De uma certa forma – paradoxo da linguagem -, dizer eu-te-amo é fazer como se não existisse nenhum teatro da fala, e é uma palavra sempre verdadeira (não tem outro referente a não ser seu proferimento: é um performativo)
Eu-te-amo não tem distanciamento. É a palavra da díade (maternal, apaixonada); nela, nenhuma distância, nenhuma deformação vem clivar o signo; não é metáfora de nada.
Eu-te-amo não é uma frase: não transmite um sentido, mas se prende a uma situação limite: “aquela em que o sujeito está suspenso numa ligação especular com o outro.” É uma holofrase.
(Embora seja dito milhões de vezes, eu-te-amo não está no dicionário; é uma figura cuja definição não pode exceder o título.)
Roland Barthes, em Fragmentos de um discurso amoroso.
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