terça-feira, 10 de maio de 2011

Eu-te-amo: uma palavra ou um grito?



Eu-te-amo não tem empregos. Essa palavra, tanto quanto a de uma criança, não está submetida a nenhuma imposição social; pode ser uma palavra sublime, solene, frívola, pode ser uma palavra erótica, pornográfica. É uma palavra que se desloca socialmente.

Eu-te-amo não tem nuances. Dispensa as explicações, as organizações, os graus, os escrúpulos. De uma certa forma – paradoxo da linguagem -, dizer eu-te-amo é fazer como se não existisse nenhum teatro da fala, e é uma palavra sempre verdadeira (não tem outro referente a não ser seu proferimento: é um performativo)

Eu-te-amo não tem distanciamento. É a palavra da díade (maternal, apaixonada); nela, nenhuma distância, nenhuma deformação vem clivar o signo; não é metáfora de nada.

Eu-te-amo não é uma frase: não transmite um sentido, mas se prende a uma situação limite: “aquela em que o sujeito está suspenso numa ligação especular com o outro.” É uma holofrase.

(Embora seja dito milhões de vezes, eu-te-amo não está no dicionário; é uma figura cuja definição não pode exceder o título.)


Roland Barthes, em Fragmentos de um discurso amoroso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário