Este mês, duas notícias vindas dos
Estados Unidos repercutem na mídia e nas redes sociais dos brasileiros. A
primeira foi à declaração do presidente Barack Obama que, em plena campanha
para reeleição, defende o casamento gay. Um gesto importante, tendo em vista
que uma grande parte do povo americano defende valores conservadores. E para
esses conservadores, a família constituída por dois homens ou duas mulheres,
não tem o direito de ser legalizada pelo Estado.
Não nos cabe criticar os
conservadores americanos. Afinal, segundo as informações que nos chegam pela
mídia, nas Américas, só a Argentina conseguiu superar o preconceito de alguns
grupos conservadores e aprovar o direito civil do casamento entre pessoas do
mesmo sexo. Bem diferente da situação atual do continente europeu. Em 1989, a
Dinamarca aprovou, por lei, as relações entre pessoas do mesmo sexo. Logo em
seguida, a Noruega admite a união de casais homossexuais. Mas coube a Holanda,
o status de ser o primeiro país a permitir o casamento homoafetivo.
A segunda notícia, e a de maior
impacto contra o preconceito, veio do meio científico. Em uma carta, publicada
na revista acadêmica Arquivos do
comportamento sexual, o dr. Robert L. Spitzer, o proclamado pai da
psiquiatria moderna, reconsidera a conclusão de sua pesquisa publicada nesta
mesma revista em 2001. Admite os erros de seu estudo e pede desculpas aos
homossexuais que, influenciados por ele, acreditaram poder mudar sua opção
sexual através de um processo terapêutico.
A terapia
reparativa, às vezes chamada de terapia de “conversão” ou “reorientação
sexual”, parte de uma leitura preconceituosa da teoria freudiana da bissexualidade,
e é usada, principalmente, entre grupos religiosos. Em sua pesquisa, Spitzer
recrutou 200 pessoas dos centros que realizavam a terapia. Entrevistou cada uma
por telefone, perguntando sobre seus impulsos sexuais, sentimentos,
comportamentos antes e depois da terapia, classificando as respostas em uma
escala.
A
pesquisa apresentava sérios problemas. Ela se baseava no que as pessoas se lembravam
de sentir anos antes, e não testava uma terapia em
particular. “Apenas metade dos participantes se tratou com terapeutas,
enquanto outros trabalharam com conselheiros pastorais ou em grupos
independentes de estudos da Bíblia”.
Na
publicação do resultado da pesquisa, Spitzer não deixou implícito nas suas
conclusões que ser gay era uma opção, ou que era possível para qualquer um que
quisesse mudar fazê-lo com terapia. Mas isso não impediu grupos conservadores e
religiosos de citarem o estudo em apoio a suas ideias.
Agora, 11
anos depois da publicação, em entrevista a um jornal americano Spitzer confessa
o seu erro: “É o único arrependimento que tenho; o único profissional. E eu
acho que, na história da psiquiatria, eu não creio que tenha visto um cientista
escrever uma carta dizendo que os dados estavam lá, mas foram interpretados
erroneamente... Que tenha admitido isso e pedido desculpas aos seus leitores.
Isso é alguma coisa, você não acha?”