Até a década de 50, do século passado, o código moral ocidental dividiu as mulheres em dois grupos: as “santas” e as “vagabundas”. Hollywood representou essa dualidade em maravilhosas personagens que transcenderam as telas.
Marilyn Monroe interpretou no cinema, e na vida real, a loura fatal. Embora suas personagens na ficção cinematográfica mais insinuassem do que vivessem a sexualidade, na mídia foi constantemente promovida como “A” mulher fatal. Marilyn representava o papel da mulher devoradora de homens, que nenhuma esposa gostaria de ver perto de seu marido. Amiguinha de políticos influentes, a loura era desejada por todos os homens, mas nenhum filho pensaria em apresentar a sua mãe uma namorada com aquele perfil.
O perfil da “mulher santa” e boazinha, ideal para levar ao altar, também ganhou suas musas. Grace Kelly e Doris Day interpretaram com maestria esse tipo de mulher. Grace Kelly, com sua majestosa beleza, teve a chance de mostrar o quanto a vida pode ser boa e feliz para as mulheres lindas e boazinhas. O seu casamento real, em Mônaco, foi um verdadeiro conto de fadas, que mesmo a morte trágica da atriz não conseguiu apagar.
Já Doris Day representava a esposa que todo homem gostaria de ter. Não tão bonita quanto às duas primeiras, fazia o tipo engraçada, compreensiva e meio bobinha. Usava avental, mas mantinha-se sempre elegante. Seu guarda roupa era bem básico, nada parecido com os de Grace Kelly, claro. Afinal, uma boa esposa da classe média não deveria gastar o dinheiro do marido com excesso de luxo. Boas esposas deveriam ser econômicas.
Imagem cultuada da moral da boa moça, as personagens de Doris mantinham a virgindade como regra fundamental. Os homens poderiam perdoar os caprichos, a falta de beleza e de conhecimento das suas futuras esposas, mas jamais, em hipótese alguma, a falta da virgindade. Para se casar, uma moça tinha que ser virgem. O mantra que toda a mãe repetia insistentemente para as suas filhas era: “Se for até o fim, não tem volta. Nunca”.
Na década seguinte, anos 60, esses valores começam a mudar. A dualidade se desfaz, entram em cena novos perfis de conduta feminina. Nas telas de Hollywood essa mudança foi muito bem representada pela personagem Holly Golightly, vivida por Audrey Heprburn, no filme Bonequinha de Luxo. Holly transgredia todas as boas regras moral, mas Holly não era uma vagabunda, era uma excêntrica.
Ela fazia o que queria e dizia o que queria. A independência era a força central de sua vida. Seu verdadeiro desejo. Aqui é preciso fazer uma ressalva para lembrar que a Holly original, independente e extremamente avançada para sua época, é a personagem de Truman Capote, cujo livro Bonequinha de Luxo, foi adaptado para o cinema.
Mas, mesmo com as pinceladas de doçura acrescentada pelo roteiro do filme, Holly, com seu pretinho básico, representou uma nova imagem do feminino. Ela criou um novo perfil moral para as mulheres. Nesse novo perfil, morar sozinha, sair, andar linda e ficar um pouco bêbada não era mais tão ruim.
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