Algumas vezes, a violência contra a mulher começa muito cedo, ainda no período de namoro. A tendência é que quando a magia da paixão se extingue, inicie o amor. No entanto, em certos casos, não é o amor que toma o lugar da paixão, mas a dependência.
A princípio a dependência é encantadora: “Ele não faz nada sozinho.” – reclama a garota com um brilho de satisfação nos olhos. “Ele me controla o tempo todo.“ “Ele briga comigo, diz que não dá para continuar, mas no dia seguinte me liga desesperado pedindo para volta.” Essas são as pequenas queixas que indicam o processo da dependência.
Alguns outros “maus comportamentos” do namorado dependente nem são mencionados, já que eles despertam vergonha, pois indicam claramente o quanto a dependência pode ser opressiva. Entre eles, podemos suspeitar das pequenas agressões físicas: beliscar, empurrar, arranhar. Do ciúme possessivo: não deixa a namorada sair sozinha, nem com as amigas. Controla todos os movimentos dela, pergunta constantemente onde esteve e com quem esteve. Quer saber de todos os detalhes e questiona todas as decisões tomadas por ela. Esse interrogatório, é claro, funciona na lógica da tortura: Cada resposta que ela dá é questionada, criando uma incerteza que é interpretada, por ele, como falta de consistência. E, portanto, como possível mentira.
Já que ela não sabe o que quer, ele começa a tomar todas as decisões e a não valorizar as opiniões dela. Essa falta de valorização leva, muito facilmente, a humilhação. Ele começa a fazer comentários depreciativos dela na frente dos amigos. Às vezes, num tom de “brincadeira”: Piadinhas e comparações negativas. Se ela retruca o comentário, ele responde que ela não tem humor, não sabe brincar.
Se ela enfrenta as certezas dele, ele se torna violento. Assustada, na maioria das vezes, ela recua com medo da agressividade. Ainda assim, ela será culpada pela reação violenta dele. Com frequência, nestes momentos de muita raiva, ele diz que vai embora. Que quer terminar a relação. Se ela permite, no dia seguinte ele volta pedindo desculpas e prometendo mudanças. Se ela aceita as desculpas, inicia-se uma “fase de lua de mel”. Ele se torna uma pessoa amorosa e cordata, tudo o que ela sonhava. Mas, isso não dura muito tempo. Logo em seguida todo o processo de degradação da parceira volta a predominar no comportamento dele.
A dependência se parece com amor, mas não é amor. Imagine um dependente de droga. Ele precisa dela para continuar vivendo. Ele é capaz de fazer muitas “loucuras” para consegui-la, mas ele não a ama. Não é algo sobre o qual ele fala com prazer e orgulho. Na verdade, a dependência é um processo tão tirânico que a maioria das pessoas não admite que sejam dependentes. A dependência transforma o “eu” em objeto de uma vontade sobre a qual o sujeito não tem nenhum controle. E isso gera muita frustração, muita raiva.
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