Estar
apaixonado é uma delícia. Quando a paixão atravessa nosso caminho, a vida
adquire novas e impensáveis dimensões. Nosso olhar ganha o estranho brilho da
felicidade explicitada, nossas percepções se dilatam, nossa fala instiga o
prazer e os sentidos se aguçam. O mundo a nossa volta conquista um novo ritmo:
muito mais intenso e frenético. Os movimentos tomam a direção do acolhimento e da
comunhão.
Para
o sujeito apaixonado, o corpo é a medida de todas as coisas. Pois a paixão
insufla a liberdade do corpo, império do erotismo. Ela desperta o princípio do
prazer, e conviver sob as leis desse princípio é absurdamente delicioso. O
corpo mergulha em intimidades abissais, a pele ganha nova sensibilidade, as
fantasias eróticas predominam sobre a realidade. As leis da paixão inscrevem um
novo regime de liberdade no corpo.
Quando
estamos apaixonados o sensível obscurece a racionalidade. A libido solta às
amarras da repressão abrindo as portas para as mais intensas e estranhas
fantasias eróticas. O espaço em que a paixão acontece desvenda uma estranha
liberdade. Nele, perdemos e ganhamos o mundo. A paixão se apresenta, quase
sempre, como uma ruptura da ordem social: ao unir os amantes, os separa do grupo.
Por
ser essa força imensa que nos retira o controle das verdades estabelecidas e
das inibições protetoras, é preciso muita coragem para se entregar a essa deusa
libidinosa. Não são todos que ousam correr esse risco.