quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Noites de alface... Boa Leitura!



Acabei de ler Noites de alface, de Vanessa Barbara. Adorei a linguagem dessa jovem autora.  Sua visão do mundo se dá de forma tão aguda que o real e o absurdo transformam-se num par perfeito. Cativante, tocante, engraçado: esses são ótimos adjetivos para o livro.


Pequeno fragmento do livro Noites de alface...

Otto sempre tivera dificuldade para pegar no sono, ao passo que Ada já caía no estágio REM antes mesmo de pousar a cabeça no travesseiro. Insônia, para ela, era passar cinco minutos rolando na cama, remoendo um crime hediondo que acabara de cometer. “Se você matasse um inocente com uma tesoura sem ponta, tipo um negócio sangrento, psicologicamente exaustivo, e tivesse que passar a vida enganando a polícia e fugindo de um fantasma raivoso, ainda assim demoraria só uns vinte minutos para dormir. No máximo”, argumentava o marido. Para Otto, insônia era enfrentar quatro horas de uma exasperante vigília a troco de nada, ao fim das quais ele completara um balanço catastrófico de sua existência e resolvera não acordar nunca mais. Em quatro horas sem sono, é possível fazer uma viagem de ida até o inferno e por lá ficar, ruminando ansiedades e coisas terríveis, antecipando a morte dos entes queridos e resgatando coisas que deviam ficar bem enterradas no passado, como brigas que nunca se resolveram, raivas represadas de gente que sumiu há tempos, coisas ouvidas e não compreendidas, tragédias, notícias ruins. Em quatro horas, dá para repassar os piores episódios da sua vida, na ordem, derretendo-se em dor de garganta, taquicardia e suor.
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