Para alguns homens, o
desejo de viver intensamente as funções paternas torna-se realidade. Não mais,
a figura do pai autoritário que representava os valores sociais que deveriam
ser transmitidos para as novas gerações. Agora, um pai que transmite seus
valores culturais: afetivos, religiosos, políticos e morais; na convivência
cotidiana com seus pequenos herdeiros.
Esse comportamento, que
hoje aparece apenas como uma tendência na sociedade ocidental, vai exigir uma
longa e profunda mudança na cultura organizacional para que se torne um direito
de todos.
Texto:
Jornal Estado de São Paulo, 04/01/2014
Homem alemão
troca cargo por família
No passado,
as políticas alemãs relativas às famílias dos empregados eram mais voltadas às
mulheres, mas a situação vem mudando. Os homens também começam a exigir
condições de trabalho mais flexíveis para equilibrar seus deveres de trabalho e
com a família - e isso vem forçando grandes mudanças da cultura corporativa.
Há
alguns anos, Gerd Göbel provavelmente seria considerado um irracional por
muitos diretores de recursos humanos. E possivelmente deixaria também os
colegas surpresos. Göbel tem uma carreira bem-sucedida no segundo maior banco
da Alemanha, o Commerzbank, onde chefia uma equipe de administração de ativos e
portfólio. E trabalha em tempo parcial porque tem uma filha ainda muito
pequena.
Quando a menina nasceu, há três
anos, o executivo de 47 anos reduziu suas horas de trabalho para 40% do total;
depois aumentou para 60% e mais recentemente para 80%. Na sua divisão, que tem
80 funcionários, ele foi o primeiro pai a tirar uma licença paternidade e o
primeiro a desistir de uma posição que exige horário integral.
"Na
época, claro que me perguntei se seria possível trabalhar em tempo parcial em
um cargo de liderança", diz ele, que chefia uma equipe de cinco pessoas.
Mas seu experimento foi bem-sucedido e ele continua a passar um dia útil em
casa, embora possa ser encontrado pelo telefone celular.
Göbel
ainda é exceção. Mas o fato é que ele é um dos muitos pais que não se
satisfazem mais em trabalhar a semana inteira e ver os filhos só nos fins de
semana. Quando Jörg Asmussen se demitiu do seu posto de alto nível como membro
da diretoria executiva do Banco Central Europeu, em meados de dezembro, ele
citou a "família" e os "dois filhos ainda bebês" como o
motivo. Considerações familiares também teriam sido fator decisivo para o fim
surpreendente da carreira de Roland Pofalla, durante anos um dos homens mais
influentes do governo Angela Merkel.
Mudanças. Na Alemanha em geral os homens
ainda representam pouco menos de 20% de todos os indivíduos que trabalham em
tempo parcial, mas este porcentual cresce rapidamente. A proporção de homens
que trabalham meio período mais do que dobrou em dez anos, ao passo que a de
mulheres cresceu em torno de 30%.
No
pacto de coalizão recentemente concluído pelo governo da Alemanha foi inserido,
pela primeira vez na história do país, um capítulo que trata do papel dos
"pais ativos" e um apelo no sentido de "melhores condições que
permitam que pais e mães compartilhem as obrigações profissionais e familiares
de modo equitativo".
A
pressão por mudanças vem crescendo, com as empresas ainda lutando para
encontrar e reter bons empregados. Já não basta mais oferecer aos funcionários
uma creche na empresa. Pesquisas com os pais mostram que a possibilidade de
manter uma carreira compatível com a vida privada aumenta enormemente a
motivação para o trabalho e a fidelidade ao patrão.
Gestores
de recursos humanos também reconhecem que o fato de estar ativamente envolvido
na educação dos filhos também é benéfico para o progresso profissional de um
indivíduo, já que pais que trabalham sempre são mais sociáveis e costumam organizar
a carga de trabalho de maneira eficiente.
Os
homens avaliam as políticas corporativas para famílias de forma mais negativa
do que as mulheres. Para 85% deles, as políticas das empresas nesse setor são
mais direcionadas às colegas do sexo feminino. Foi o que revelou um estudo
feito pela A.T. Kearney que será publicado este mês. "As empresas precisam
agir. Necessitamos urgentemente de novos modelos de modo a reformular
inteiramente o trabalho", disse Martin Sonnenschein, diretor da A.T. Kearney
para a Europa Central.
Iniciativas. A gigante da engenharia Bosch
é uma das que se esforçam para incluir os homens nas políticas de família. A
empresa oferece a seus funcionários não só a possibilidade de "tempo de
trabalho flexível" ou em meio período, mas os incentiva expressamente a
trabalhar a partir de outros locais.
Os
executivos têm permissão para organizar seus horários como preferirem, desde
que produzam resultados - um projeto inicial pôs cem executivos para trabalhar
de casa. Redes internas, como "papas@bosch" ("papais na
Bosch"), auxiliam a troca de informações.
Os
executivos estão embarcando nas possibilidades oferecidas, mesmo quando estão
em cargos considerados chave pelas organizações. Lutz Cauers, de 49 anos, é um
bom exemplo dessa tendência. Ele é diretor do departamento de auditoria interna
da Deutsche Bahn, empresa ferroviária alemã.
Ele
é responsável por mais de 100 empregados e se reporta diretamente ao presidente
da companhia. Cauers tem escritório em Berlim e um segundo em Frankfurt. Ele
controla também três outras bases na Alemanha e mais quatro na Europa, Ásia e
Estados Unidos. Mas centralizou sua vida em Nuremberg, onde vivem a mulher e os
três filhos.
Atualmente
ele está montando um escritório numa empresa afiliada em Nuremberg e passa pelo
menos uma noite da semana com a família. E com frequência pega um avião no
início da manhã para Berlim ou o trem para Frankfurt. Se necessário, leva os filhos
com ele para o escritório.
"Minha
mulher tem uma empresa de médio porte, portanto é claro que ela não consegue
cuidar da casa sozinha", disse ele. "E eu não gostaria disso também.
Quero ver meus filhos crescerem."
Flexibilidade. Um número crescente de homens
pretende seguir o caminho escolhido por Cauers e as empresas vêm reagindo a
isso. A aérea Lufthansa, há anos, oferece a seus 70 mil funcionários a
possibilidade de trabalharem meio período. Mas diz ter percebido que só isso
não é mais suficiente.
Bettina
Volkens é diretora de recursos humanos do grupo Lufthansa e também mãe de duas
crianças. "Contratos de trabalho que não têm flexibilidade não funcionam
mais", diz ela, explicando que a empresa tem de se envolver diretamente
com os problemas dos funcionários. A meta de Bettina é tornar a cultura da
empresa mais aberta a modelos de contrato de trabalho ainda mais flexíveis.
Parte
disso é o projeto piloto chamado "Novo Espaço de Trabalho", em que 80
empregados da área de recursos humanos compartilham 50 estações de trabalho.
Mesmo os executivos sentam em mesas diferentes a cada dia. "Os empregados
podem trabalhar às vezes a partir de casa. A ideia é incentivar isso", diz
Bettina.
TRADUÇÃO
DE TEREZINHA MARTINO
Texto: site Deutsche Welle, 06/01/2014
Vice de Merkel quer folga semanal para ficar com a filha
Texto: site Deutsche Welle, 06/01/2014
Vice de Merkel quer folga semanal para ficar com a filha
Apesar de acumular cargos de líder partidário, vice-chanceler e
ministro da Economia e Energia, Gabriel quer mostrar que pais podem conciliar
com sucesso trabalho e família. Iniciativa foi bem recebida na imprensa alemã.
O segundo homem na hierarquia do
governo alemão quer tirar pelo menos uma tarde livre por semana para cuidar de
sua filha de dois anos. O presidente do Partido Social Democrata (SPD), Sigmar
Gabriel, afirmou que, às quartas-feiras, sairá, para isso, mais cedo do
trabalho. "Minha esposa trabalha fora, e às quartas-feiras é a minha vez
de pegar a criança na creche", afirmou, em entrevista ao jornal Bild.
Não
deverá ser fácil para Gabriel levar o plano adiante. No novo gabinete de Angela
Merkel, empossado em dezembro, ele acumula os cargos de vice-chanceler e
ministro de Economia e Energia. Um dos projetos mais importantes do governo
alemão está justamente dentro da sua área de responsabilidade: a reforma
energética, que visa desativar reatores atômicos em favor de fontes
alternativas.
Recentemente,
a nova ministra alemã da Defesa, Ursula von der Leyen, havia anunciado que
tentará, apesar de toda dificuldade, combinar vida profissional e familiar.
"Espero que eu possa continuar a trabalhar muita coisa de casa",
disse a política democrata-cristã, em entrevista à revista Bunte.
Gabriel
elogiou o fato de algumas ministras do novo gabinete Merkel terem anunciado que
tentarão trabalhar também de casa. Inicialmente, a ideia do vice-chanceler foi
recebida de forma positiva pela imprensa alemã.
"Muitas
coisas são impossíveis se não analisamos documentos também no carro, no trem ou
em casa", ressaltou o social-democrata. "Mas também deve haver fases
em que devemos ter tempo para as crianças, o parceiro ou para coisas normais,
como compras. Caso contrário, já não saberemos mais o que é uma vida
normal."
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