Nesse mundo onde a beleza é fundamental, algumas pessoas parecem
estar fora da ordem social. Com muito humor, Verissimo mostra como isso
acontece. Leia!
Nosso herói
Luis Fernando
Verissimo
Acho que falo por todos os gordinhos sem graça do mundo, por
todos os homens por quem ninguém dá nada, todos os com cara daqueles tios que
nas festas de família ficam num canto e nem os cachorros lhes dão atenção, ou
fazem xixi no seu sapato, todos os que se apaixonam mas não têm coragem de se
aproximar da mulher amada, quanto mais declarar sua paixão, todos os que são
chamados de "chuchu", mas não é um termo carinhoso, é uma referência
ao legume sem gosto, todos os sem sal, os sem encanto, os sem carisma, os sem
traquejo, os sem lábia - enfim, os sem chance - do mundo se disser que o
François Hollande é o nosso herói. Ele é tudo que nós somos e não somos. É um
dos nossos, mas com uma diferença: no caso dele era disfarce.
A companheira de
Hollande, Valerie Trierweiler, que mora com ele no palácio presidencial e o
acompanha em eventos oficiais e viagens, e que também é chamada de Rottweiler
pela ferocidade canina da sua dedicação ao presidente, está internada com uma
crise nervosa provocada pela revelação de que François tem uma amante, a atriz
Julie Gayet, com quem costuma se encontrar num apartamento perto do palácio.
Hollande já teve como companheira uma das mulheres mais interessantes da
França, Ségolène Royal, com quem a fera teve quatro filhos. A pergunta que se
faz na França é: o que exatamente esse homem tem que explique seu sucesso com
as mulheres? A questão não tem nada a ver com direito à privacidade. Trata-se
de uma curiosidade científica. Se o que ele tem, e disfarça com aquela cara,
puder ser reproduzido em laboratório será um alento para a nossa categoria.
E nossa admiração só
aumenta com os detalhes das escapadas de Hollande. Ele vai para seus encontros
com Julie numa motocicleta. O Hollande vai para seus encontros com a amante
montado numa motocicleta! Pintado no seu capacete, quem sabe, um galo, símbolo
ao mesmo tempo da França e do seu próprio vigor. Ainda há esperança, portanto.
Se ele pode, nós também podemos. Pois se François Hollande nos ensina alguma coisa
é que biologia não é, afinal, destino.
Fonte: Site do Estadão
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