A memória é sempre inventiva e
infiel. O passado que volta à consciência é apenas o reflexo remoto de uma
realidade perdida para sempre, uma realidade que captamos inevitavelmente
deformada através do filtro de nossa percepção atual. Esse é o motivo pelo qual
a recordação de nosso passado é apenas o fruto de uma ilusória reconstrução.
Quando pensamos, por exemplo, na casa de nossa infância, sempre a imaginamos
imensa, mas, voltando lá, decepcionamo-nos com suas modestas dimensões. A casa
que o garotinho deixou não é mais a mesma aos olhos do homem maduro que ele se
tornou. Assim, o presente opera como uma lente deformadora do passado.
Portanto, toda recordação é, necessariamente, o resultado da reinterpretação
subjetiva de uma realidade antiga, e nunca sua evocação fiel. Não existe
passado senão remodelado e recriado à luz de nossa percepção presente. É por
isso que diremos que a recordação não é o passado, mas um ato do presente, uma
criação do presente.
J.D. Nasio
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