terça-feira, 27 de agosto de 2013

Memória Afetiva: Re-Memórias



A memória é sempre inventiva e infiel. O passado que volta à consciência é apenas o reflexo remoto de uma realidade perdida para sempre, uma realidade que captamos inevitavelmente deformada através do filtro de nossa percepção atual. Esse é o motivo pelo qual a recordação de nosso passado é apenas o fruto de uma ilusória reconstrução. Quando pensamos, por exemplo, na casa de nossa infância, sempre a imaginamos imensa, mas, voltando lá, decepcionamo-nos com suas modestas dimensões. A casa que o garotinho deixou não é mais a mesma aos olhos do homem maduro que ele se tornou. Assim, o presente opera como uma lente deformadora do passado. Portanto, toda recordação é, necessariamente, o resultado da reinterpretação subjetiva de uma realidade antiga, e nunca sua evocação fiel. Não existe passado senão remodelado e recriado à luz de nossa percepção presente. É por isso que diremos que a recordação não é o passado, mas um ato do presente, uma criação do presente.

J.D. Nasio 

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