segunda-feira, 4 de junho de 2012

As Instâncias do Medo



O medo, a princípio, é um sentimento de defesa e proteção. Portanto, um sentimento positivo, aliado da luta diária pela sobrevivência. O medo como ferramenta de proteção tem um objeto bem definido. Sentimos medo de pessoas, animais e situações que não podemos controlar, e que, por isso mesmo, colocam em risco a nossa sobrevivência.

Mas existem outros tipos de medo. Medos mais difíceis de conviver e de admitir sua existência. Temos, por exemplo, medo de ser feliz e, simultaneamente, medo que a felicidade acabe. Temos medo da dor. Medo de perder. Medo de recomeçar. Medo de estar sozinhos, e medo de ter alguém. O medo, para muitos, parece ser o sentimento mais constante e mais intenso.

Para os que vivem constantemente sob a sombra desse sentimento, o medo de perder é o que mais paralisa. Para esses, o encontro amoroso pleno torna-se um pesadelo. Logo depois da euforia dos primeiros encontros, aparece uma estranha inquietação, acompanhada de uma melancolia vaga e indefinida. Surgi à sensação que alguma desgraça está a caminho, aproximando-se a passos largos, e que é impossível preservar por muito tempo tamanha felicidade.

Numa estranha lógica, nasce a suspeita de que coisas dolorosas e frustrantes têm mais chances de aparecer quando se está feliz. O perigo parece crescer proporcionalmente à alegria. E, pouco a pouco, a sensação de plenitude vai cedendo espaço a apatia, ou pior, ao pânico.

Algumas vezes, a escolha de parceiros inadequados é uma maneira de reduzir os riscos de uma hipotética tragédia. Um jeito de apagar a chance de ser feliz. Cria-se uma dor menor com o objetivo de se proteger de uma suposta dor maior. Outras vezes, a proteção ao medo é construída na desvalorização do parceiro. Ao elevar os pequenos defeitos do outro àa categoria de grandes problemas, cria-se uma zona de instabilidade externa que serve de proteção à instabilidade interna.

O medo é um sentimento que não podemos eliminar de nossas vidas. Como disse no início, ele é uma ferramenta de proteção. Portanto, o medo de perder existe em todos nós.  Só não podemos deixar que ele se transforme num antídoto da felicidade. Afinal, uma coisa é certa, felicidade não atrai tragédias.

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