Andamos pela vida a procura de
alegrias, satisfações, prazeres e realizações, ou seja, procuramos pela
felicidade. Nada mais saudável. Tragédias e dramas, sofrimento e dor são
especialidades da mídia. Só quem precisa de notícia, ou os muito masoquistas
preferem passar pela vida lambendo feridas.
Mas a felicidade, conforme
aprendemos desde tenra idade, não é transmitida por herança: nem genética nem
monetária. Ela faz parte das conquistas individuais. Precisamos nos aventurar
para beber de sua fonte. Para Freud, a água dessa fonte é composta por duas
substâncias: amor e trabalho. O amor sustenta os laços familiares. Permite a
troca de intimidades físicas e afetivas. Com as pessoas que amamos dividimos
com grande prazer nossos momentos mais felizes e, também, nossas mais profundas
tristezas e dores. Sem amor parecemos flores de plástico: faz cena, mas não
perfuma.
A outra substância da fonte da
felicidade é o trabalho. Fundamental na construção de nossa emancipação e
liberdade, o trabalho é o movimento de abertura do sujeito para o mundo. Tão
importante na nossa vida que Marx chegou a sugerir que foi o trabalho – e não
Deus – que criou o homem, e é o trabalho – e não a razão – que distingue o
homem dos outros animais.
Em tempos como os de hoje, em que a
vida profissional concorre ferozmente com a vida afetiva, parece um paradoxo
querer juntar essas substâncias como causas primeiras da felicidade. Parece,
mas não é. Primeiro, porque há uma diferença entre trabalho e emprego. Marx e
Freud apontam a importância do trabalho, e questionam as relações de
empregabilidade. Questões que continuamos a discutir ainda hoje. Segundo,
porque a partir do momento que admitimos a importância delas na nossa vida,
vamos, passo a passo, buscando harmonizá-las.
Essa harmonização constrói
sabedoria, faz parte do que chamamos savoir
vivre - saber viver. Afinal, fica
mais fácil viver as dores e perdas na vida afetiva, quando temos um trabalho
que nos dá satisfação. Assim como fica mais fácil enfrentar as pedras do
caminho profissional, quando temos o conforto de um ombro amoroso. Para Freud,
era tão importante ter esses dois campos em perspectiva que propôs, como ganho
subjetivo de uma análise, aprender a superar as dificuldades que às vezes nos
fazem querer desistir de um desses dois caminhos.