Meus
fragmentos de um discurso amoroso:
Aprender:
Pode-se aprender a desempenhar uma atividade em que haja um conjunto de regras
invariáveis correspondente a um cenário estável e monotonamente repetitivo que
favoreça o aprendizado, a memorização e a manutenção dessa simulação. Num
ambiente instável, fixar e adquirir hábitos – marcas registradas do aprendizado
exitoso – não são apenas contraproducentes, mas podem mostrar-se fatais em suas
consequências. O que é mortal para os ratos dos esgotos urbanos – aquelas criaturas
inteligentíssimas capazes de aprender rapidamente a distinguir comidas de iscas
venenosas – é o elemento de instabilidade, de desafio às regras, inserido na
rede de calhas e dutos subterrâneos pela “alteridade” irregular, inapreensível,
imprevisível e verdadeiramente impenetrável de outras criaturas inteligentes –
os seres humanos, com sua notória tendência a quebrar a rotina e derrubar a
distinção entre o regular e o contingente. Se essa distinção não se sustenta, o
aprendizado (entendido como a aquisição de hábitos úteis) está fora de questão.
.... A promessa de
aprender a arte de amar é a oferta (falsa, enganosa, mas que se deseja
ardentemente que seja verdadeira) de construir a “experiência amorosa” à
semelhança de outras mercadorias, que fascinam e seduzem exibindo todas essas
características e prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultados
sem esforços.
Zygmunt Bauman