Algumas
crianças, logo ao nascer, são cercadas por uma muralha invisível que as
impossibilita de interagir com o meio e as pessoas que a rodeiam. Esta muralha,
nos primeiros dois anos de vida, contém espaços porosos que permitem aos pais
um grau razoável de interação com o bebe. Mas, infelizmente, a cada ano que
passa, essa porosidade vai diminuindo e, aos seis anos, na maioria dos casos, a
criança está totalmente isolada, dentro da muralha do autismo.
Assim
como não há duas crianças idênticas, também não há dois autistas idênticos.
Essa diversidade dificulta o diagnóstico precoce, tão fundamental no caminho da
cura dessa síndrome. Até mesmo pediatras e psicólogos experientes encontram
dificuldades para fazer o diagnóstico, nos primeiros anos de vida do bebe, dependendo
do grau do transtorno. Os exames complementares, mesmo os mais sofisticados,
como tomografia de crânio ou ressonância magnética, pouco ajudam na
conclusão final. É o relato dos pais e, algumas vezes, da escola, que
possibilita o diagnóstico clínico.
A
falta de tratamento adequado, logo nos primeiros anos, compromete o
desenvolvimento cognitivo, emocional e psicológico da criança. Daí a
necessidade do diagnóstico nos três primeiros anos de vida da criança, e a
necessidade de desenvolver um trabalho interdisciplinar continuado, que ofereça
propostas de tratamento e educação especializados.
O
diagnóstico clínico considera três critérios básicos. O primeiro aponta a dificuldade ou ausência de interação social – marcada pela incapacidade de
estabelecer contato visual, se relacionar com crianças da mesma faixa etária e
compartilhar sentimentos. Essa falta de interação muitas vezes dificulta a
amamentação. É comum durante o processo de diagnóstico, escutar da mãe que a
criança não conseguia sugar o seio.
O
segundo critério revela o desenvolvimento
tardio da fala – não raro a criança não se comunica verbalmente de nenhuma
maneira. A dificuldade de entrar na linguagem produz, desde os primeiros meses
de vida, o desinteresse pelo contato visual – preferem olhar para objetos e não
para rostos. Não imitam comportamentos, não bocejam, não choram ou riem quando
outros fazem na sua frente.
O
terceiro critério de diagnóstico revela os movimentos
repetitivos e rítmicos do corpo. Elas repetem sempre o mesmo gesto, uma
compulsão totalmente desprovida de sentido aparente. Com bastante frequência,
acredita-se que se tornou retardada mental e até mesma surda. Não é nada disso.
O autismo se fecha progressivamente a qualquer relação humana, por causa, muito
provavelmente, do sofrimento insuportável de não se reconhecer diante do outro.
Crianças
com quadro de autismo que recebem atendimento precoce - clínico e educacional
especializado - apresentam melhoras significativas, desenvolvem a linguagem,
integram-se ao meio ambiente, frequentam escolas e, quando adultas, perdem
grande parte das características de autista, conseguindo, então, se integrar
socialmente.
O
fundamental na síndrome autista é que o tratamento inicie antes dos primeiros
três anos. É durante esse período que se pode cogitar um processo de cura.
Maria
Holthausen
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